Basta uma singela reunião de parentes para que a tão famosa frase daquele tio engraçadinho surja para as crianças: “E aí, Fulano, já sabe o que quer ser quando crescer”?
No cenário escolar também não e diferente, os alunos, na mais tenra idade, são indagados a todo instante sobre o que pretendem ser em um futuro tão distante, que nem os pais mais protetores são capazes de enxergar.
Quando pequenos, as crianças, dentro de sua infinita inocência sobre as possibilidades que terão durante a vida, sonham com as possibilidades mais mirabolantes e impensáveis a um adulto. De certo modo, estimular a criatividade e a imaginação é uma atitude benéfica aos pequenos, no entanto, quando estas crianças chegam à adolescência, a cobrança por sucesso deixa de ser brincadeira e pode ser uma pedra no sapato de pais, educadores e aos próprios jovens.
Nas escolas, os alunos deixaram de aprender os conceitos das disciplinas para desenvolverem conhecimento para a vida em sociedade e para ampliarem seus repertórios intelectuais, pois tornaram-se futuros trabalhadores. O discurso presente é: estude literatura, não para ser um leitor crítico e desenvolver sua cultura, mas para ler contratos quando for para o mercado de trabalho. Matemática para desenvolver o pensamento lógico e analisar situações de forma racional na vida adulta? Para quê? Estude se quer ser um profissional de tecnologia da informação.
Com isso, é crescente o número de jovens que se sentem perdidos, pois não conseguiram, nos altos dos seus quinze anos, planejar o que será aos trinta. Na contramão, temos os jovens que seguiram a “cartilha profissional” à risca e hoje, são infelizes em suas funções.
Veja, não é o objetivo deste texto criticar o fato de querer, o quanto antes, providenciar um futuro estável a nós e aos nossos filhos, mas chamar a atenção para onda crescente de pessoas que não se permitem viver experiências enriquecedoras para a formação pessoal, para focar apenas nas questões profissionais da vida.
Em um mundo competitivo como o nosso, as empresas já procuram por pessoas que possuem mais que formação técnica para assumir cargos estratégicos. As chamadas soft skills, são as meninas dos olhos de grandes empresas.
As habilidades conhecidas como soft skills, vão de trabalho em equipe a atitudes positivas, e isto, caro leitor, não se pode aprender na teoria, mas somente por meio da vivência e da experimentação.
Você pode ser um excelente arquiteto que domina cálculos matemáticos, funcionalidades, como deixar o ambiente mais arejado, mas se não souber como trabalhar em equipe ou apresentar suas ideias de forma clara para seu grupo, você será considerado um profissional incompleto.
As características que englobam essas skills são intrínsecas ao ser humano, pois nascemos, nos desenvolvemos e perecemos em sociedade e foi isto que nos garantiu evoluir como espécie. Mesmo que durante um tempo, o individualismo tenha imperado na sociedade e vivemos ainda suas mazelas típicas do capitalismo, há muito já sabemos da importância das interações sociais para o desenvolvimento cognitivo do cérebro.
Algumas teorias, tais como o construtivismo de Jean Piaget, o interacionismo de Lev Vygotsky e a afetividade de Henri Wallon, conhecidas como as teorias das psicogêneses, tratavam, desde a década de 40, a importância da interação e da experimentação para o desenvolvimento da inteligência e da cognição das crianças.
Talvez, tenhamos medo em aceitar o fato que nunca temos certezas do que queremos e boa parte de nossas vidas, acontece ao acaso, sem planejamento. No entanto, o que difere a pessoa de sucesso para que não tem sucesso é quão preparada ela está para aproveitar a oportunidade quando ela surge. A isto, não podemos negar que, uma boa formação profissional, uma rede de networking e acesso a estas oportunidades são fundamentais, mas possuir empatia, ética e uma atitude positiva é o que chamamos de “cereja do bolo”.
Gosto muito de uma frase dita pelo saudoso autor brasileiro Rubem Alves, que sempre que perguntado sobre como se tornou um autor de renome dizia: “Só cheguei aonde cheguei porque tudo que planejei deu errado”. Fantástico! Às vezes, o caminho errado é que é o certo!