O primeiro currículo nacional de educação foi introduzido em 1983, e estava eminentemente associado ao ensino escolar estabelecido pelo sistema nacional de educação, no pós-independência que vigorou por muitos e longos anos. Em 2004, o governo decide descontinuar este modelo curricular para introduzir um novo currículo, que tinha como principal bandeira as passagens semiautomáticas nas classes sem exame do ensino primário.

Usando uma abordagem católica, o termo passagens semiautomáticas pode ser visto como algo negativo, mas importa referir que do ponto de vista pedagógico não é tanto assim. Entretanto, alguns pais/encarregados de educação e professores, diziam em forma de “profecia” que este novo currículo só vinha tornar os alunos menos aptos, pois, essas passagens semiautomáticas só fariam com que os alunos ficassem mais aconchegados e, por conseguinte, não veriam valor em se esforçar para aprender e aprender as matérias, pois no final do ano sempre passariam de classe.

O ensino público perdeu a qualidade e a “profecia” concretizou-se e isto traduziu-se no aumento de escolas privadas como resposta a esta fraca qualidade do ensino. O modelo curricular introduzido em 2004 trouxe dissabores para a sociedade pois, os seus educandos transitam de classe com profundas lacunas na escrita, leitura e cálculo. Com a percepção da ineficácia deste modelo curricular houve reajustes do mesmo para dar resposta as inquietações da sociedade, mas parece que cada vez que se procurava em melhorar a qualidade, mais se afundavam na imprecisão de um currículo que significasse em trazer um ensino de qualidade.

Vários foram os estudos e debates com vista a solucionar os problemas trazidos por este modelo curricular que introduziu as passagens semiautomáticas. O declínio da qualidade do ensino deu lugar ao mercado do ensino privado, que caprichou em importar currículos ocidentais para responder à falta de qualidade do ensino público. Assim, por todo país as escolas privadas tomaram o seu lugar ostentando currículos de qualidade internacional.

Foram tantos os investimentos para resgatar a qualidade do ensino público, mas há falta de vontade e aceitação de que o atual currículo já não responde às inquietações da atualidade. O modelo curricular educacional que acompanhou o desenvolvimento do país no pós-independência ainda é considerado como a salvação para a qualidade do ensino, mas, ainda há resistência por parte dos gestores educacionais, e mesmo com a falta de qualidade no ensino público, o processo de ensino e aprendizagem continua acontecendo.

O silêncio sobre a solução deste problema continua, e ano após ano vai-se formando indivíduos com muitas lacunas que serão difíceis de sanar. O estado, gestores educacionais, e sociedade no geral são chamados a refletir sobe o tipo de indivíduo que se quer formar, e se a sociedade de hoje está preparada para receber um quadro com profundas lacunas causadas pela falta de qualidade no ensino e a ineficiência do currículo em uso.

Muitos quadros que hoje dirigem o país são produto do modelo curricular de 1983, por que não resgatar este modelo e ajustá-lo aos desafios que o país enfrenta, ora, vejamos, o país tem estado a fazer descobertas de recursos naturais e tem uma população maioritariamente jovem com capacidade ativa para o trabalho, e esta seria uma bela oportunidade de adequar e ajustar este modelo curricular e não precisaríamos de contratar mão de obra estrangeira para explorar os recursos que o país tem estado a descobrir. Pois, de contrário vamos sempre buscar e contratar a mão de obra estrangeira, enquanto temos potencial para nos auto sustentar. Nunca é tarde para voltar atrás e repensar sobre este modelo curricular e o desenvolvimento do país.