O relacionamento amoroso na contemporaneidade tem sido um tema de bastante relevância, e encontramos essa temática seja ao falar sobre história, cultura, arte ou até mesmo religião.
No âmbito das relações familiares pode-se apreender como se constitui a subjetividade do sujeito, influenciando diretamente na forma como farão suas escolhas amorosas.
Pensando em tentar se tornar quem a gente supõe que é, isso se faz na relação com o outro. Não sabemos muito bem quem nós somos, uma marca no corpo precisa de um trabalho com a relação com o outro e isso precisará de amor, amor com a relação que temos com o outro.
Na atualidade, homens e mulheres têm assumido novos papéis nas relações sexuais e sociais. Como vocês enxergam a mulher e o homem contemporâneo?
As relações amorosas integram o campo do imaginário, das emoções, das fantasias, do desejo, das idealizações, em uma palavra, o ‘sujeito’, dotado de uma subjetividade. O que expressa a dificuldade de se considerar o outro, e a si mesmo, como uma mesma fonte de prazer e de frustração. Contudo, percebe-se que permanece uma ânsia por amar e ser amado. O mais intrigante é pensar que é o próprio sujeito que constrói sua história, inclusive sua história de amor. A mídia de um modo geral aponta para o fato de que um número cada vez maior de homens e mulheres está optando por viver sozinho, adotando formas não tradicionais de se relacionar, estilos diferentes de vida, expressões alternativas de amor.
Hoje, viver só pode ser definido como uma decisão por um estilo de vida mais livre, onde se exercita a autonomia e a independência. Pode estar relacionado ao desejo de fazer a própria vida e fundamentado na história de cada um. É uma escolha baseada nos parâmetros modernos, imbuídos do ideal individualista. Assim, torna-se fundamental analisar os valores e as características presentes neste comportamento, nessa nova forma de viver.
Na atualidade, pode-se observar um certo mal estar associado às relações amorosas e é justamente a dificuldade que os sujeitos narcísicos encontram para estabelecer vínculos. Quando o desejo de se poder manter o ideal narcísico de completude encontra a frustração, surge um mal-estar. Uma das consequências dessa frustração pode ser o isolamento, as pessoas podem evitar investir em um relacionamento amoroso, tornando-se assim inacessíveis ou indisponíveis emocionalmente.
Reconhecer que o outro existe faz entrar em contato com a incompletude e isto é necessário, pois é uma grande ilusão acreditar que é possível bastar-se a si mesmo, construir-se como objeto sem o outro. Às vezes a auto-estima baixa, o medo de não agradar ou de se decepcionar, que está diretamente ligado ao medo de não ser aprovado pelos pais, de perder o amor deles, faz com que não levem em consideração a realidade atual, a nova relação, com suas diferenças. Suas experiências negativas passadas não definem suas relações amorosas atuais, podem até interferir, o que é diferente de definir, de ser igual.
Nesse sentido, a infância é um tempo precioso na constituição da subjetividade humana, pois é na infância que o indivíduo realiza as experiências que constituirão a base de toda sua subjetividade e na fase adulta pode ou reeditar as experiências vividas ou persistir na busca de substitutos para os pais.
As relações têm que ser light no sentido da falta de compromisso, mas ao mesmo tempo têm de ser algo da ordem de um excesso e do espetacular. Não há diferença entre o público e o privado, encontros e rompimentos são vividos e totalmente compartilhados nas redes sociais.
Evitar o luto, atenuar a dor, diminuir a angústia e calar o sofrimento frente às perdas e decepções afetivas são as soluções mais buscadas atualmente.
Quanto aos namoros, alguns mantêm o padrão tradicional como um treinamento para um futuro compromisso, mas, na maioria das vezes, ninguém é responsável por ninguém... Cada um que cuide de si e procure se defender dos sofrimentos da separação.
Em relação aos fatores que permeiam os relacionamentos amorosos, na sociedade atual, observa-se um indivíduo que se coloca como centro da própria vida, explorando suas sensações de prazer, de corpo e mente, tornando-se sua prioridade. Tais fatores estão sendo associados à sociedade hedônica, que se trata de [...] uma negação do sofrimento, acompanhada da busca incessante da felicidade (Fortes, 2009, p.1125).
Uma sociedade que não quer sofrer, como a atual, apresenta-se cada vez mais narcísica, narcisismo este presente nas relações interpessoais. A partir disso, e concomitantemente, vem sendo desenvolvido um comportamento narcísico, em que o indivíduo se preocupa excessivamente consigo próprio e com seu corpo, desprezando o outro e tornando-se egoísta, importando-lhe, essencialmente, viver apenas para o momento.
(Reichow, 2015)
Quando Freud fala sobre o narcisismo, revela que toda parte que deveria ser voltada ao objeto de amor (pais) se volta a si mesmo. É um complemento do egoísmo: "você que tem que me dar prazer", envolvendo a parte libidinal (sexual) para satisfazer seu próprio desejo.
Historicamente, o amor e os relacionamentos amorosos ocupam diferentes importâncias para a vida social; mudam-se os valores, as concepções dos indivíduos, os significados e as possibilidades. A nossa história é sempre marcada pelo amor, o amor marca e demarca nossa vida. Nossa história precisa desse mal-estar, dessa hesitação, da palavra amor.
Tendemos a pensar na nossa cultura que o amor é se complementar com o outro, mas para que haja amor tem que haver um tipo de mal-estar.
A falta faz parte dessa relação, só pode haver completude se houver falta. Eu preciso sentir falta de alguém para existir esse encontro amoroso, se eu me completo, me acho suficiente, esse amor não tem porquê existir. Amor é movimento!
Amar como verbo e não como uma imaginação, algo irreal. Existe um mito de Aristófanes, em que nós teríamos sido seres duplicados, duas cabeças, quatro braços, quatro pernas, bem completos ao ver, mas existente esse ser bem completo, Zeus com inveja nos corta pela metade e então ficamos incompletos, metade de algo, aí existe a fantasia de metade da laranja, etc...que podemos pensar a respeito do amor. Quando a criança nasce ela se separaria de um pedaço de si, por isso é importante pensar que passamos sim por essa sensação de completude, coincide com o que achamos que nós somos.