Tecnicamente, a menopausa é o fim do ciclo reprodutivo da mulher. A forma como as mulheres vivenciam essa estação tem ganhado destaque na mídia desde que algumas mulheres tornaram públicos os seus desconfortos associados aos períodos que antecede a menopausa e à menopausa em si.
O envelhecimento nos é ensinado como uma lei a que todos os seres vivos estão programados a viver e envelhecer é um processo que nos aproxima da finitude. Além do fato, há o estigma da menopausa que atribui um valor negativo ao envelhecer. A mulher que perde a sua função reprodutiva pode sentir que perde um pouco do seu propósito, seja pelo olhar da sociedade ou dela mesma, já que dentro e fora é um espaço a ser negociado sempre.
Vale a reflexão: ao considerar o prolongamento da expectativa de vida das mulheres nas últimas décadas, o fim do ciclo reprodutivo não corresponde ao fim da vida. Ou seja, é possível identificar que a menopausa está, em média, mais próxima da metade da vida do que do fim. O que não quer dizer que a mulher na menopausa não esteja se aproximando da finitude, mas pode não estar próxima, necessariamente.
Neste texto, eu me concentro na perimenopausa, porque é a fase em que eu me encontro e que tenho investigado através da minha experiência pessoal e do meu estudo. A perimenopausa compreende o período de dois a doze anos antes da menopausa, a pausa, propriamente, dos ciclos menstruais e do ciclo reprodutivo. A menopausa é identificada a posteriori um ano após a última menstruação.
Pelas minhas formações em Ciências Biológicas e em conhecimentos terapêuticos, como Yoga e Ayurveda, eu procuro calibrar as informações científicas, quando focadas exclusivamente na dimensão física, com as outras dimensões do corpo na experiência do sentir. Destaco a bibliografia A mulher de 0 a 90 (e além), os ciclos femininos sob o ponto de vista da biologia, da psicologia e da espiritualidade, escrito por Dra Joan Borysenko, Yogaterapia hormonal, uma técnica natural para mulheres com baixa hormonal, da Dinah Rodrigues e o atual, ainda não traduzido para o português, Hormone Repair Manual: Every Woman´s Guide to Healthy Hormones after 40, navigate and relieve symptoms of perimenopause and menopause da Dra Lara Brinden. Além destas leituras, a troca entre mulheres nos estudos conduzidos pelo Instituto de Gine-ecologia Natural, coordenado pela Carol Carvalho.
De acordo com a Dra Lara Birden, a perimenopausa é o resultado do esgotamento da função dos folículos ovarianos e da diminuição da produção de hormônios estrogênio e progesterona pelos ovários e corpo lúteo.
Na perimenopausa, a diminuição da progesterona precede a flutuação e a diminuição do estrogênio, o que torna o estrogênio proporcionalmente mais presente nos ciclos menstruais. Com isso, os ciclos anovulatórios, sem a ovulação, são comuns. A depender do ritmo das mudanças do padrão hormonal, o corpo sente a necessidade de equilíbrio à flutuação hormonal e a perimenopausa seria uma janela crítica para ajustes do corpo físico, e do sistema nervoso em particular.
Lara Briden compartilha o seu diagnóstico clínico para a perimenopausa, quando a mulher apresenta três dos seguintes sintomas: aumento no fluxo menstrual, ciclos menstruais mais curtos, mudança nas dores nos seios, mudança no padrão de sono (acordar no meio da noite), aumento da cólica menstrual, suor noturno no período pré-menstrual, mudança no padrão de humor observado no período pré-menstrual, cefaléia e enxaqueca e ganho de peso sem alteração dos padrões de exercício e de alimentação.
Como professora de adolescentes, eu relaciono as duas fases (que eu chamo de duas estações), o início do ciclo inaugurado com a menstruação, que se anuncia para as minhas alunas e o fim do ciclo reprodutivo, que se anuncia para mim. No início do ciclo reprodutivo, as inquietações das adolescentes se referem a descobertas sobre si mesmas e durante a estação do fim do ciclo, eu sinto a quietude de que, afinal, a vida não é sobre mim. Uma sensação que vai sendo amadurecida de que a vida é maior do que eu pensava e que os acontecimentos, apesar de vistos por mim, não são sobre mim. Quando eu trato a vida como maior do que eu pensava, sinto fisicamente a sensação de que há espaço para as minhas emoções e os meus pensamentos são dirigidos a percepções mais amplas da realidade.
No entanto, a quietude do deslocamento do foco da mente para uma paisagem mais ampla da realidade não se expressa no estado puro durante a perimenopausa. Como já nos acostumamos: as emoções flutuam ao longo da vida. Na perimenopausa, nós mulheres já experimentamos perdas e saber perder é um longo aprendizado. Ainda há o que aprender com as flutuações de hormônios que coordenam mudanças nas sensações e nas emoções. Portanto, mesmo na quietude há inquietações. Como é a nossa experiência com os ciclos.
Na experiência do corpo da mulher, os ciclos estão marcados de forma incontestáveis e, frequentemente, são relatados através de dor e desconforto na menstruação, no parto e na perimenopausa. Importante perceber que o corpo é atravessado pelas emoções. Então, a investigação de onde a dor se aloja no corpo e em que momentos ela se expressa pode trazer notícias de questões emocionais da pessoa.
Para você, mulher, eu proponho a percepção de que o nosso corpo, pelo viés histórico e cultural, guarda as intenções e distorções que nos motivaram a agir para sermos aceitas, amadas e elogiadas pelas outras pessoas. Ao trazer a consciência a essas intenções e distorções é possível localizar no corpo as dores emocionais de não termos encontrado uma expressão autêntica, mas uma expressão que agradasse, não a nós mesmas, mas aos outros. Muitas vezes, não encontramos espaço para o acolhimento do nosso corpo e não criamos esse espaço.
Durante a perimenopausa, ou a qualquer momento da vida, é útil que a mulher indague a ela mesma, o que ela está fazendo para se agradar. Mas, como na perimenopausa o ciclo que se está encerrando é o ciclo reprodutivo pode ser interessante que a mulher ocupe o seu lugar de prioridade na sua vida, principalmente no caso de mulheres que se doaram ao cuidado dos filhos.
É curioso e deixo aqui a reflexão de que as mulheres das gerações anteriores pouco falavam a respeito das suas sensações durante o período da perimenopausa e da menopausa. Uma hipótese é que as mulheres se sentiam silenciadas e não encontravam, no espaço social, acolhimento das suas vulnerabilidades. Outra hipótese é que as mulheres no passado viviam menos desconfortos associados à perimenopausa. De acordo com Dra Lara Briden, as duas interpretações podem estar corretas: as mulheres das gerações anteriores se sentiam silenciadas e os sintomas da perimenopausa podem estar agravados hoje.
O fato de que os sintomas estão mais perceptíveis nas mulheres de hoje do que nas mulheres nas gerações anteriores se refere a uma mudança cultural, em que as mulheres se sentem mais à vontade de falar - e quando uma mulher fala, encoraja outra e assim por diante. Outra mudança da última geração, principalmente da penúltima geração a esta, é o padrão gestacional. As mulheres de hoje vivem poucas gestações ou nenhuma, comparada com as mulheres das décadas passadas.
Na amamentação, a mulher vive a queda do estrogênio, o que faz com que o corpo da mulher que passa pela gestação e pela amamentação tenha vivido a mudança do padrão hormonal e, com isso, o seu corpo esteja programado a reviver, de certa forma, as novas transformações. Laura Birden levanta a hipótese de que a mulher que vive gestações e amamentações tende a sentir menos os sintomas da perimenopausa.
Além disso, a alimentação inflamatória, baseada em açúcar, laticínios e glúten, a mudança na metabolização da glicose e o estresse seriam componentes da vida moderna que agravam os sintomas da perimenopausa.
Como na puberdade, a perimenopausa é um convite para focar a atenção às sensações do seu corpo. Para fazer um novo estudo de si mesma. Muitas pessoas se acostumam a viver com certas condições, alimentação e rotinas e argumentam que sempre viveram daquela forma e que nunca sentiram nada de errado. Pois, na perimenopausa, o argumento é que talvez seja hora de mudar, porque as condições do seu corpo também mudaram. A alimentação baseada em ingredientes frescos, a prática de exercício e a prática contemplativa são algumas orientações a qualquer mulher na perimenopausa porque podem regular os impactos do desbalanço hormonal deste período.
A perimenopausa, como janela crítica nas palavras de Lara, também pode ser entendida como um convite à atualização do que você tem feito por você. Você tem participado da sua vida na melhor forma?