Em 22 de maio, a Bergamin & Gomide inaugura seu segundo espaço expositivo, localizado a poucos metros da tradicional galeria no bairro dos Jardins, em São Paulo. A casa, que permitirá à galeria dobrar seu programa de exposições, foi projetada em 1933 pelo multifacetado artista Flávio de Carvalho e apresenta um ensaio de Guilherme Wisnik, crítico de arte e arquitetura.
O espaço abre ao público com a primeira exposição individual de José Resende na Bergamin & Gomide, que acontece de 22 de maio a 03 de julho de 2021. A exposição conta com duas instalações inéditas produzidas pelo artista, uma externa na fachada lateral e uma interna que ocupa a área central da nave da Casa, além de uma seleção variada de obras que datam desde 1975. As instalações que José Resende concebeu para a Casa sugerem ao público a intenção de realizar um percurso pelo espaço e chamam atenção de quem passa pela rua, dirigindo o olhar do transeunte para a laje circular do chapéu de sol na entrada da galeria.
Com mais de 50 anos de carreira, José Resende possui extenso currículo, participou de quatro Bienais de São Paulo (1967, 1983, 1989, 1998), da 43ª Bienal de Veneza (1988) e da Documenta IX (1992). A produção do artista-arquiteto - assim como Flávio de Carvalho - é caracterizada pelo interesse em estabelecer uma experiência autêntica entre a matéria e as tensões desta com o espaço, que são notáveis pelo poder de síntese da forma. A prática do artista é predominantemente escultórica, na qual investiga materiais e seus desdobramentos. A partir do constante diálogo entre a arquitetura e o espaço urbano, José Resende produziu ao longo de sua trajetória relevantes obras públicas como a escultura Passante (1996) do Largo da Carioca, ou Sorriso (2015) criada para a sua individual na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Uma casa branca, com um volume semicircular protuberante na fachada, coroado por uma marquise redonda apoiada numa coluna central, que atravessa todo o volume da casa e se solta no andar térreo, marcando o plano de entrada. Assim a construção demarca sua curiosa presença na cidade.
(Guilherme Wisnik)
Para os sócios Antonia Bergamin e Thiago Gomide, abrir um espaço expositivo em uma casa histórica sempre foi um sonho. A indicação de uma amiga de que a Casa estava disponível era o que faltava, ao visitarem o espaço foi amor à primeira vista, ali seria o segundo espaço da Bergamin & Gomide.
A renovação buscou, criteriosamente, preservar as características modernistas do imóvel que faz parte de um conjunto de 17 residências projetadas e incorporadas por Flávio de Carvalho em um terreno de sua família, entre a Alameda Lorena e a Alameda Ministro Rocha Azevedo. A Vila América - atualmente conhecida como Vila Modernista - é hoje um polo de arte e cultura onde se encontram galerias de arte e escritórios de arquitetura.
Para Wisnik, “É louvável que, nos dias de hoje, instituições privadas, como galerias de arte, estejam empenhadas em restaurar obras residenciais que são patrimônios da nossa arquitetura moderna, devolvendo-as à fruição coletiva.” Com efeito, a estratégia em abrir um novo espaço faz parte de um investimento no futuro da cultura e da arte em São Paulo. Embora galerias de arte ainda sejam vistas como espaços de luxo, os sócios almejam que a expansão contribua para uma maior disseminação da expressão cultural na cidade e que atinja a pluralidade do público apreciador de arte.
Considerando a situação que o Brasil experimenta, como as graves consequências econômicas em decorrência da pandemia da Covid-19 - aliada ao desmonte federal dos bens culturais, da arte e da pesquisa - a expansão da galeria ganha contornos ainda mais ousados.
Se para o radical e provocador Flávio de Carvalho a cidade seria a verdadeira casa do “homem de amanhã”, abrir este espaço depois de mais oitenta anos de sua inauguração significa para a Bergamin & Gomide preservar a memória da cidade e contribuir para que arte e a cultura continuem estimulando a construção do pensamento crítico de hoje e de amanhã.