É tempo de comunicação entrecortada. Podemos fazer chamadas de vídeo e podemos ligar uns para os outros. Podemos, até mesmo, marcar encontros para bater papo. Mas preferimos o corte abrupto do limite da caixa de texto ou do áudio dos aplicativos de mensagem. Antes de toda revolução nas telecomunicações com o advento do telefone, não tinha outro jeito. Era só por carta com um intervalo de meses, semanas e dias. Naquele tempo, podíamos ver nossos parentes e amigos distantes apenas nas férias. Hoje, no entanto, tem jeito de encurtarmos as distâncias, mas somos nós mesmos que preferimos manter os cortes e as distâncias. Por pura conveniência e uma certa forma de botar o cabresto na comunicação.
Porém, além de uma comunicação entrecortada que serve ao tempo individual e ao bel prazer de cada um, há um outro elemento que vem modificando o modo com que nos expressamos na comunicação digital e que veio para ficar: os emojis e figurinhas. Quantas mensagens você consegue mandar por dia sem um único emojizinho atenuante ou mesmo provocador? Quantos grupos você participa que não te fornece figurinhas novas que dizem exatamente o que você quer dizer no momento de surpresa, raiva ou ataque de risos? Vejam só: mais um caminho sem volta.
Criado pelo japonês Shigetaka Kurita no final da década de 90 por inspiração do mangá, os emojis (palavra em japonês: e – imagem; moji – letra/caracter) vieram para expressar uma ideia ou emoção de forma rápida e eficaz. Tidos antes como uma espécie de linguagem infantilizada, os emojis ganharam fama e caíram no gosto do povo quando a Apple os incorporou no teclado do iPhone 4, em 2012. De lá pra cá, são acréscimos de novos emojis todos os anos!
Apesar de agilizarem as conversas e estabeleceram uma dinâmica visual à comunicação digital, pesquisas revelam que por conta dos diferentes layouts dos mesmos emojis em plataformas diferentes, há muitos problemas de interpretação. Muitos mal-entendidos derivam da diferente forma que podemos interpretar, teoricamente, o mesmo símbolo. Você nunca teve que pedir para alguém explicar uma determinada carinha em um contexto estranho? Um outro ponto importante é que, a partir de 2016, as cortes dos Estados Unidos e da Europa passaram a usar emojis que simbolizam a violência como possível evidência de comportamento ameaçador.
Mas nem só problemas são causados pelas carinhas amarelas e sua trupe. Todos os anos novos emojis são incorporados para agilizar o alerta de desastres naturais, por exemplo, ou para proporcionar inclusão, como no caso dos emojis para pessoas com deficiência. Até mesmo um livro inteiro foi “traduzido” para emojis: Emoji Dick, uma versão da obra Moby Dick de Herman Melville!
Os emojis ganharam uma família recentemente: as figurinhas. Eu diria que elas são a evolução dos emojis com um toque de sofisticação. Incorporadas posteriormente aos aplicativos de mensagem, elas chegaram com força total em 2018, sobretudo pelo fato de que os próprios usuários podem criar suas próprias figurinhas a partir de suas imagens pessoais. Como parte da tendência tecnológica e capitalista atual, a personalização de conteúdo promoveu as figurinhas ainda mais.
A graça da coisa é justamente compartilhar e salvar novas figurinhas para usar naquele momento exato que uma frase longa seria capaz de dizer! Devo confessar que é muito divertido se comunicar dessa maneira, mas o que será que isso pode afetar em relação à comunicação de um modo mais amplo? A minha geração cresceu tendo que redigir tudo por completo por meio de palavras. Será que as futuras gerações terão suas habilidades de expressão linguística afetadas pelo uso excessivo de outros recursos linguísticos que não as palavras? Seria esse um caminho natural para uma linguagem cifrada no futuro? Ou seriam todas essas especulações uma “viagem” da minha cabeça? Não tenho as respostas para nenhuma dessas perguntas, mas devo fazer uma confissão: tem sido cada vez mais difícil mandar mensagem sem esses apoios visuais! ☺