O Museu Coleção Berardo, em Lisboa, apresenta Fauna, exposição individual de André Romão com curadoria de Pedro Lapa, de 21 de março a 2 de junho de 2019.
Fauna tem lugar no piso 0 do Museu e apresenta exclusivamente novas comissões. Um catálogo bilingue profusamente ilustrado será publicado pela Hatje Cantz e incluirá um ensaio curatorial aprofundado sobre o trabalho do artista.
A exposição desenvolve-se em quatro capítulos (um para cada sala) e guia-se por uma linha narrativa livre e especulativa, em torno das condicionantes para a sobrevivência — tanto física como cultural — no mundo.
Ao longo dos últimos dez anos, o trabalho de Romão tem contemplado uma grande diversidade de suportes, da poesia à escultura, instalação ou vídeo. Em última análise, o seu trabalho centra-se no corpo humano, concentrando-se na sua interação — muitas vezes problemática — com macroestruturas culturais e históricas, ambientais ou económicas através de uma extensa coleção de pequenas ações, objetos e apropriações. Fortemente ancorado na poesia, o trabalho de Romão utiliza ou apropria materiais de um modo especulativo, enraizado nos legados do surrealismo e do barroco — no que pode ser entendido como uma sabotagem contínua de códigos e expectativas.
No primeiro capítulo da exposição, o público encontra um grande modelo em plexiglas do telhado de uma fábrica em que a iluminação se vai obscurecendo progressivamente, recriando um pôr do sol. Este é o começo da surreal viagem noturna proposta por Fauna. A mesma sala apresenta um gerador elétrico polinizado por flores de acácia. A presença destas espécies, ditas «invasivas» devido ao seu comportamento agressivo, à sua proliferação descontrolada e à grande adaptabilidade ambiental, será recorrente ao longo da exposição.
O segundo capítulo apresenta uma nova instalação sonora: a gravação de um texto composto a partir de fragmentos das Metamorfoses de Ovídio sobre Aqueloo, figura que muda constantemente de forma. Esta personagem personifica noções de mutabilidade, adaptabilidade e resistência; contudo, revela uma qualidade predatória e viral análoga aos processos económicos. O texto explora a fluidez entre o Homem e a Natureza, animal, mineral e vegetal, entidades abstratas e habitantes efetivos da terra. A gravação foi criada em colaboração com Penny Rimbaud e Eve Libertine, antigos membros da banda punk Crass.
A terceira sala apresenta um novo conjunto de esculturas que dão seguimento à investigação de Romão sobre contaminação de formas artificiais e naturais, da hibridização de corpos e da presença quase viva de materiais inanimados. Os trabalhos estarão expostos num grande plinto desenhado segundo as proporções de um palco Noh.
O quarto e último capítulo apresenta um novo trabalho em vídeo: Sunset. Filmado ao nascer do sol, como resposta ao pôr do sol da primeira sala, o vídeo documenta a interação de furões com um fragmento escultural do corpo humano.
A exposição apresenta ainda um conjunto de objetos doados por Ana Hatherly ao Museu Nacional de Arqueologia.
André Romão nasceu em 1984 em Lisboa, onde vive e trabalha. Algumas das suas exposições individuais incluem: García Galería, Madrid (2017); Syntax, Lisboa (2016); Galeria Vera Cortês, Lisboa (2015); The Green Parrot, Barcelona (2015); Macro — Museu d’Arte Contemporanea, Roma (2014); Middelheim Museum, Antuérpia (2012); Galleria Umberto di Marino, Nápoles (2011); Kunstlerhaus Bethanien, Berlim (2010); e Kunsthalle Lissabon (2010). O seu trabalho tem sido apresentado em exposições coletivas em locais como: Tenderpixel, Londres (2018); Museu de Arte Contemporânea de Elvas (2017); MAAT, Lisboa (2017); CentroCentro, Madrid (2016); FUTURA, Praga (2016); CAPC—musée d’art contemporain, Bordéus (2015); Astrup Fearnley Museet, Oslo (2014); Museu de Serralves, Porto (2013 e 2010); Galerie Kamm, Berlim (2013); PhotoCairo 5, Cairo (2012); Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (2010); Museu da Cidade, Lisboa (2009); e Spike Island Art Center, Bristol (2008).