Seca, individual de Geórgia Kyriakakis na Galeria Raquel Arnaud, reúne três séries de desenhos e duas instalações. Segundo a artista, são trabalhos que pulsam de seu próprio viver: “vulnerabilidade às turbulências, ilusão de estabilidade, impotência, irreversibilidade das ações, iminência do dano – que pode manchar o papel...desfazer uma instalação... ou destruir uma nação”.
Além de suscitar uma condição climática severa, relacionada a desertificação, aridez, esterilidade e rudeza, a palavra seca relaciona-se aqui, também, com materiais usados na produção das obras. Na instalação Arquipélagos, a artista dispõe pedras, cadernos de anotação, livros, mapas e outros objetos de trabalho sob uma mesa, cobrindo-os de pigmento em pó. Já nas séries inéditas de desenhos Área de Dispersão e Trabalho Sujo, Kyriakakis usa o pastel seco sobre papel de algodão, enquanto na também inédita Série Uma Zona, a artista usa grafite sobre papel. Em comum, os três elementos – pigmento, pastel seco e grafite – são naturalmente ressecados, desidratados e tornam-se pó.
Os títulos dos trabalhos – Arquipélagos, Zona de controle/segurança, Área de dispersão, etc, apontam ainda como questões geográficas, sociais e políticas influenciam a obra de Kyriakakis, algo presente em toda a trajetória da artista. Ao se apropriar de tais questões, Kyriakakis busca estabelecer aproximações e analogias com a atual situação política e social no Brasil e no mundo.
Quase não há cor nos trabalhos. Prevalecem o preto e o branco tanto nos desenhos sobre papel como na superfície aveludada criada com pigmento em pó sobre mesas de formas e tamanhos variados. A cor é uma presença sutil: ela pode estar soterrada, ser quase imperceptível, ou ainda ser ativada pela memória.
Geórgia Kyriakakis (Ilhéus, BA, 1961). Vive e trabalha em São Paulo. Geórgia é formada em Artes Plásticas pela FAAP, mestre e doutora em Artes pela USP. Leciona desde 1997 na Faculdade de Artes Plásticas da FAAP e no Centro Universitário Belas Artes, onde também atua na pós-graduação. Dentre as exposições, vale mencionar “Espelhos e Sombras”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro (1994 e 1995 respectivamente); a 23ª Bienal Internacional de São Paulo (1996); as exposições “Beelden uit Brazilie”, no Stedelijk Museum de Schiedam, e “De Huit Van Witte Dame” (ambas na Holanda, 1996); a terceira edição do projeto “Arte/Cidade” (São Paulo, 1997); a exposição “Caminhos do Contemporâneo”, no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2001); e as mostras “São Paulo – 450 Anos – Paris”, no Instituto Tomie Ohtake (São Paulo), e “Heterodoxia”, na Galeria Artco (Lima, Peru), ambas em 2004. Em 2008, participou da mostra “Parangolé – Fragmentos desde los 90”, no Museo Pateo Herreriano, em Valladolid, na Espanha. No mesmo ano, a editora espanhola Dardo/DS lançou, em parceria com a Galeria Raquel Arnaud, uma monografia trilíngue sobre seu trabalho. Em 2014 realizou a individual “Tectonicas” na Galeria Raquel Arnaud, que a representa desde 2001.