Em Através, o artista Marco Giannotti (São Paulo, SP – 1966) reúne pinturas e relevos que versam sobre a relação entre o desenho e a cor na pintura ocidental desde o Renascimento. Com curadoria de Agnaldo Farias, a mostra traz um conjunto inédito com cerca de 20 obras em que Giannotti utiliza esquemas de perspectivas em contraponto a uma gama cromática variada, aplicada em várias técnicas tais como pintura à óleo, têmpera e esmalte com graffiti. A perspectiva indica uma forma de ver e reconstruir uma cidade. “No momento presente, várias perspectivas podem ser lançadas com as novas tecnologias: Através é o lugar onde o artista dá lugar a sua imaginação”, afirma Giannotti. Para ele, ainda, os espaços aludem a fragmentos de cidades ideais ou utópicas, as vezes labirínticas e atemporais. “A dimensão projetiva dos trabalhos abre, assim, possibilidades para refletir sobre o lugar da pintura no mundo contemporâneo, onde cada vez mais o espaço o espaço virtual se sobrepõe ao espaço real”, conclui.
Segundo Agnaldo Farias, “Essas pinturas de Giannotti afinam-se com esta orientação: são tomadas por malhas retorcidas, arquiteturas aéreas, túneis aparentados com construções gráficas digitais, afunilando-se em direção a pequenas áreas de escape quadradas, módulos retraídos à pequena escala em virtude da distância; há também, em casos mais radicais, telas compostas por composições divergentes, algumas fundadas em contrapontos de perspectivas, outros em sobreposições desalinhadas, todos produtos instáveis, inquietos, ruidosos”, completa o curador.
Ao ser além de artista, professor e tradutor, a obra de Giannotti reflete a sua natureza de estudioso e pesquisador. Nesta série de trabalhos que compõe a exposição Através, debruçou-se sobre os studioli de Urbino e de Gubbio, onde se realizavam importantes estudos de perspectivas e filosofia na renascença italiana. Em sua exposição anterior na Galeria Raquel Arnaud, Penumbra, investigou o ponto de transição entre a luz e sombra, retomando questões presentes no seu mestrado em filosofia, quando traduziu parcialmente a Doutrina das Cores de Goethe, e debruçando-se sobre a obra Em louvor da sombra, de Junichiro Tanizaki. Em Diários de Kioto, individual realizada no Instituto Tomie Ohtake em 2013, as delicadas colagens em papel washi eram baseadas em seu caderno de viagem, concebido durante a sua permanência na cidade, em 2011, quando, ao mesmo tempo em que ministrava aulas na Universidade de Estudos Estrangeiros de Kioto, se aprofundava na cultura japonesa.
Pintor e professor da escola de Comunicação e artes da USP. Entre 1977-1980, Giannotti frequenta o ateliê de Sérgio Fingermann, onde aprende desenho e gravura em metal. Entre 1980 e 1982, faz cursos de arte no Metropolitan Museum of Art em Nova York. De volta ao Brasil, participa dos IX e X Salões Nacionais de Artes Plásticas em São Paulo, nos quais ganha o prêmio Aquisição. Em 1987, recebe a bolsa Ivan Serpa, da FUNARTE, e em 1988 realiza sua primeira individual na Galeria Paulo Figueiredo. Em 1988, forma-se em Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Defende, em 1993, Mestrado em filosofia na FFLCH/USP com a tradução e introdução crítica da Doutrina das Cores, de Goethe. Neste ano, realiza uma individual no MASP intitulada "Fachadas".
Participa de importantes exposições nacionais como: "Arte Contemporânea São Paulo: perspectivas recentes", no Centro Cultural São Paulo em 1989, "Panorama da Arte Atual Brasileira", no Museu de Arte Moderna de São Paulo em 1990 e 1993, "Arte/Cidade: cidade sem janelas" em 1994 e Artecidadezonaleste em 2002, bem como de exposições internacionais como a II e a III Bienal do Mercosul em 1999 e 2001, Bienal de Cuenca no Equador em 1987, "Brazil Projects 90", no Municipal Art Gallery, em Los Angeles, em 1990, "Arte Contemporânea Brasileira", no Liljevaclchs Konstahall, em Estocolmo, em 1991, "Quase Nada", no Centro Cultural de Wiesbaden, na Alemanha.
Em 1997, recebeu o prêmio de pintura da Associação Paulista dos Críticos de Arte – APCA. Em 2007, realizou uma exposição individual na Pinacoteca do Estado e lançou o livro Passagens, que foi editado pela editora Cosac Naify. Em 2008, passa a ser representado pela Galeria Raquel Arnaud, onde apresenta, em 2009, a série Contraluz. Em 2010, realiza a exposição "Arte e Espiritualidade" no Mosteiro São Bento em parceria com José Spaniol e Carlos Uchoa, eleita a melhor exposição do ano pela APCA. Em 2011, a editora espanhola Dardo publica uma nova antologia de trabalhos mais recentes com textos de David Barro e Ronaldo Brito.
Em 2008, Marco Giannotti foi professor visitante em Yale e, de março de 2011 a março de 2012, lecionou na Universidade de Estudos Estrangeiros de Kioto. Após esse período de intensa pesquisa sobre a cultura japonesa, o artista publicou, em 2013, o livro Diário de Kioto (WMF Martins Fontes, com apoio da Embaixada do Brasil no Japão). Em 2013, fez sua segunda mostra individual na nova sede da Galeria Raquel Arnaud, Penumbra. Atualmente, Marco Giannotti continua a ministrar aulas na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, onde coordena o grupo de pesquisas cromáticas e é presidente da Comissão de Relações Internacionais.