Dando continuidade ao programa experimental da Carpintaria, espaço da Fortes D’Aloia & Gabriel no Rio de Janeiro, a exposição Opening Night propõe um diálogo entre três artistas de diferentes gerações cujas práticas orbitam majoritariamente em torno da escultura. A norte-americana Lynda Benglis, a brasileira Erika Verzutti e o inglês Jesse Wine apresentam, em conjunto, quinze obras de suas produções recentes.
A “noite de abertura” sugerida no título refere-se livremente ao filme homônimo do diretor norte-americano John Cassavetes de 1977, lançado no Brasil como Noite de Estreia. Na trama, uma atriz de meia-idade – vivida por Gena Rowlands – enfrenta uma crise de identidade enquanto ensaia sua nova peça de teatro. A exposição alude ao palco em que se desenrola a história ao apresentar uma única base para dispor todo o conjunto de trabalhos do trio. A plataforma transforma as esculturas em veículos análogos aos atores, ao mesmo em que borra o gap geográfico e geracional dos três artistas para sublinhar suas afinidades.
Relacionando-se entre si, os trabalhos de Lynda, Erika e Jesse transmutam-se em poderosas alegorias da condição da escultura na contemporaneidade – munidas, nesta reflexão, de artifícios como a ironia, o experimentalismo na manipulação dos materiais e um vasto léxico de referências, diretas e indiretas, à história da arte.
Veterana do trio, a produção de Lynda Benglis (Lake Charles, EUA, 1941) está profundamente enraizada na história da arte norte-americana. Seus trabalhos começam a ganhar notoriedade no fim da década de 60, quando sua obra surge como uma resposta à predominância masculina na prática da fusão entre pintura e escultura, oriunda de movimentos como o minimalismo e o process art. Marcadas por uma forte fisicalidade, as esculturas da série Elephant Necklace (2016) criam relações dinâmicas entre massa e superfície, onde a matéria maleável se torna rígida e vice-versa, em um processo de congelamento do gesto. Também integram a exposição duas obras com bronze e pedra da década de 90, Man/Landscape e Landscape II.
Na produção da paulistana Erika Verzutti (São Paulo, 1971) o gesto também ocupa uma posição elementar. O seu fazer escultórico revela-se na investigação da natureza de objetos mundanos, dentre frutas, vegetais e materiais próprios da prática artística. Repleto de humor, seu exercício de livre associação dá origem a trabalhos que distanciam-se de uma identificação imediata, frequentemente evocando narrativas pessoais e relacionadas à história da arte. Mulher Fruta (2017), por exemplo, alude à idealização do corpo em uma escultura de papel machê e isopor, ao passo que Dieta (2017) retrata, em bronze, uma curiosa torre com ovos e bananas.
A ênfase no material manifesta-se também na obra de Jesse Wine (Chester, Reino Unido, 1983). O jovem artista elege a cerâmica como material predominante e através de técnicas tradicionais desafia noções de composição, forma e narrativa. Trabalhos como Modern Emotion e So Human (ambos de 2017) fazem alusão crítica à representação do corpo na escultura moderna, enquanto Santa Fe (2017) e outros da mesma série trazem arranjos que flertam com a paisagem.