A pessoa está sentada na cadeira com o laptop pairando sob a mesa. Ela escreve um e-mail para uma velha amiga. O vento bate e cruza a sala. A pessoa levanta. Mas não para pegar um blusão. Ao invés disso ela vai até a janela, fecha o vidro, e volta a sentar na cadeira para continuar escrevendo seu e-mail. Pode parecer um ato simples, ausente de um sentido mais profundo. Mas são nos atos simples que se escondem as maiores verdades do mundo. É exatamente por este tipo de atitude que nossa civilização entrou em estado de declínio, e consequentemente, nos condenou a um futuro qual estamos todos condenados.
O que foi que nos tornou fortes? O que foi que nos evoluiu? A adaptação ao meio. Foi a capacidade de adaptação ao meio que fez com que evoluíssemos e nos tornássemos uma sociedade “civilizada”. E esta adaptação somente foi possível devido a nossa maior virtude. Qual a maior virtude do ser humano? O Poder da Criação. Foi o poder da criação que nos permitiu criar a roda, ferramentas, vestimentas, concreto, pólvora, automóveis e computadores. E a razão da nossa evolução, a nossa maior virtude, também vai ser a razão da nossa destruição.
Agora o ser humano não se adapta ao meio. Ele quer que o meio se adapte a ele. Para seu total conforto e satisfação. Porque nós somos uma sociedade civilizada. Uma sociedade civilizada que nada com golfinhos e não se importa com o que ocorre no resto do mundo.
Agora, o ser humano não quer mais passar calor, e pra isso criou o ar-condicionado. Para climatizar o ambiente a sua volta conforme sua vontade. E no inverno não é mais necessário se agasalhar dentro de casa, porque o climatizador também vem com a versão ar-quente.
Agora, o ser humano não precisa mais utilizar mapas, usar o raciocínio lógico e perguntar para seus irmãos informações necessárias para se atingir um local, porque nós criamos o GPS. Uma ferramenta totalmente útil para nos tornar independentes e livre de erros.
Agora, o ser humano não precisa mais estocar alimentos no inverno e pode desperdiçar toda comida que produz porque aprendeu o cultivo da fartura. E o simples prato de arroz que antigamente era motivo de festa perdeu o lugar de ser apreciado para o caviar ou o foie gras.
Agora o ser humano não precisa mais ter medo dos animais selvagens, porque ele os trancou em uma jaula e transformou as feras em uma atração dominical dentro de um parque para crianças. Agora o ser humano não precisa mais se preocupar com a reprodução desenfreada dos seus animais de estimação porque ele descobriu a eficácia da castração. Uma fórmula tão “nada cruel”. Tão nada cruel quanto aqueles que deixam seus bichos presos ou trancados o dia inteiro dentro de suas casas.
Agora o ser humano não precisa mais se preocupar com os filhos agitados e hiperativos, porque nós descobrimos medicamentos extremamente saudáveis que controlam seus humores. Afinal, quando decidimos ter filhos desejamos ter os filhos que sempre sonhamos, e não da maneira como eles são. Porque agora já não é mais necessário lembrar da tremenda responsabilidade que é colocar uma vida no mundo.
Agora não precisamos mais nos adaptar ao meio, porque descobrimos como o meio pode se adaptar a nós. E é exatamente por isso que entraremos em declínio. Porque se foi a necessidade de adaptação ao meio que trouxe a nossa evolução, logo, o fato de seguirmos o caminho contrário nos levará ao rumo da regressão.
E a soberba e a luxuria do ser humano é tamanha, que o Japão, a Coréia e os Estados Unidos estão desenvolvendo robôs. Robôs para executar o trabalho que não desejamos mais fazer, como lavar louças, limpar a casa ou até mesmo pilotar aviões. Porque infelizmente, nossa sociedade está tão corrompida, que estamos focados em reclamar das dificuldades ao invés de sermos gratos por estarmos vivos e caminhando sobre este mundo.
Infelizmente, a sociedade consumista de hoje está tão cega pela corrupção da luxuria e do conforto que não consegue enxergar o futuro que virá devido ás consequências destas ações.