No século II, surge na China a religião Taoísta. O Taoísmo ou Daoísmo é oriundo de uma filosofia oriental que exalta a vida em harmonia com o Tao. O termo “Tao” significa “caminho”, “via” ou “princípio”. O início do elemento filosófico do taoísmo é atribuído ao filósofo chinês Lao Tse, que viveu no século VI a.C. Ao longo dos anos, foram sendo estabelecidos modelos institucionalizados do taoísmo na forma de diferentes vertentes, os quais fundiram crenças e práticas, por exemplo, as teorias da Escola dos Naturalistas, que reuniram conceitos como o do yin-yang . O dualismo e a combinação dos conceitos básicos do universo são uma parte essencial da filosofia taoísta. Algumas das relações comuns com o yang e yin, respectivamente, são: masculino e feminino, luz e sombra, ativo e passivo, movimento e quietude. Os taoístas consideram ambos importantes e essenciais, um não podendo existir sem o outro, sendo assim, aspectos equiparados do todo. De acordo com essa filosofia, uma boa alimentação deve fundamentar-se na compreensão das leis que conduzem esse equilíbrio, ou seja, a qualidade yin e yang de cada alimento.
Desse modo, respaldada nos preceitos do taoísmo, surge a alimentação macrobiótica. Por definição, é uma filosofia biológica, religiosa, fisiológica, social e econômica que segue o conceito taoísta de que tudo o que existe no universo, inclusive os alimentos, pode ser agrupado em yin ou yang, de acordo com as suas características e propriedades. A macrobiótica emerge como uma filosofia de vida espiritual associada à filosofia chinesa. O estilo de vida macrobiótico propaga uma harmonia com a natureza e com o meio-ambiente, através de uma alimentação simples e equilibrada, obtendo não somente saúde física como mental. A palavra macrobiótica é de origem grega e significa: macro (grande) e bio (vida). Dessa forma, a alimentação macrobiótica tem um conceito de vida voltado para a longevidade e vitalidade do indivíduo por meio de uma atitude consciente, que visa auxiliar o organismo a integrar-se ao seu próprio sistema ecológico, beneficiando suas características naturais.
A primeira organização macrobiótica foi fundada, no final do século XIX, pelo médico japonês, Sagen Ishisuka. Segundo o seu relato, ele curou-se de uma doença de rins intratável pela medicina adotando um regime alimentar baseado em cereais integrais e vegetais. De acordo com Ishizuka, todos os problemas de saúde e sociais tinham como origem uma má nutrição, especialmente um desequilíbrio entre sódio e potássio nos alimentos e, por isso, podiam ser corrigidos empregando um padrão alimentar conforme a estrutura biológica humana, principalmente, o consumo de cereais integrais e vegetais como alimentos básicos.
O trabalho de Ishizuka foi seguido e desenvolvido pelo escritor americano de ascendência nipônica, George Ohsawa, no começo do século XX. Ohsawa, de modo parecido com o seu precursor, alega que a alimentação macrobiótica foi a responsável pela cura da sua tuberculose. Nos anos 30, o escritor expôs os seus ensinamentos na Europa, especialmente na França e na Bélgica. Segundo Ohsawa, para seguir a alimentação macrobiótica deveria-se levar em conta a condição individual, pois as necessidades do indivíduo estão em constante mutação. Contudo, aqueles que a seguissem corretamente teriam uma vida longa e sem doenças. Ohsawa foi o responsável pela propagação da alimentação macrobiótica no Ocidente.
A macrobiótica está relacionada com os elementos da filosofia chinesa, o yin e o yang, representando os opostos. O yin é doce, frio, passivo; o yang é salgado, quente e agressivo. É através deste fundamento que, por exemplo, explica-se o desejo de comer doces/açúcar (yin) após a ingestão excessiva de carne (yang). Aliás, os adeptos da macrobiótica supõem que o consumo de alimentos yin e yang pode influenciar nas características pessoais de uma pessoa. Assim, indivíduos que consomem muitos alimentos yang podem adquirir um temperamento agressivo, impaciente e dominador; enquanto que indivíduos que consomem muitos alimentos yin podem adquirir um temperamento depressivo e dependente, por exemplo. Por isso, esses elementos devem estar sempre em equilíbrio nos alimentos para uma vida saudável, pois é este dinamismo que nutre o organismo, não as calorias.
Além disso, ela segue certos preceitos, como: a evolução biológica, a tradição, a localização geográfica, a estação do ano, a ecologia, a idade, o sexo, o estilo de vida e a saúde do indivíduo. Com isso, deve-se sempre dar prioridade aos alimentos cultivados no clima de seu respectivo país/estado e preferir alimentos que sejam típicos da estação do ano. Ademais, há regras específicas para a produção dos pratos macrobióticos, como levar em consideração o estado de espírito de quem prepara a refeição. Em síntese, a macrobiótica está associada à alimentos naturais, com pouco ou nenhum processamento, cultivados sem adubos artificiais e pesticidas, sendo constituída de cereais integrais, legumes, leguminosas e frutas, tudo equilibrado pelos elementos yin e yang. Existe a idéia de que a macrobiótica e o vegetarianismo orientam-se pelos mesmos princípios, o que não é verdade. A alimentação macrobiótica, sendo predominantemente de origem vegetal, não é necessariamente vegetariana, pois o uso de produtos animais, principalmente o peixe, é aceitável.
Alimentos Yin: centeio, aveia, milho, cevada, berinjela, tomate, pimenta, pepino, espinafre, alcachofra, abóboras, cogumelos, ervilhas, beterraba, alho, couve-flor, lentilhas, pescado, carne de porco, carne de vaca, iogurte, natas, manteiga, margarinas, frutos, mel, açúcares, café, vinho, cerveja, chá verde, pimenta, refrigerantes;
Alimentos Yang: arroz, trigo, alface, repolho, alho-poró, grão-de-bico, rabanete, nabo, cebola, salsa, cenoura, agrião, linguado, atum, salmão, camarão, sardinhas, carne de pato, carne de peru, ovos, leite, queijos, amêndoa, azeitonas, óleos vegetais não refinados, alecrim, vinagre, mostarda, baunilha, açafrão, sal marinho natural;
Alimentos neutros, ou seja, com um bom equilíbrio yin/yang: cereais integrais (arroz, aveia, cevada, milho, centeio, trigo, trigo sarraceno, painço, etc.); sementes (de gergelim ou sésamo, de girassol, de abóbora, linhaça, etc.); legumes. O único alimento considerado, realmente, equilibrado é o arroz integral, tendo energias opostas em harmonia;
Alimentos principais: cereais integrais (arroz, trigo, painço, aveia, centeio, cevada);
Alimentos secundários: chá, sal marinho, legumes, verduras, raízes, frutas, óleos extraídos a frio; Alimentos que devem ser evitados ou excluídos: peixes, aves e ovos (quanto menos, melhor para a saúde), leite e derivados (preferir os de soja ou cabra), açúcar refinado, doces, batata, tomate, berinjela, alimentos processados, congelados e enlatados;
Sopas: devem ser consumidas 1 a 2 vezes por dia. As sopas são em geral de vegetais, mas podem também incluir cereais, leguminosas, algas, peixe. Uma sopa particularmente aconselhada é a sopa de missô ou sopa de pasta de soja, devido aos seus efeitos benéficos na reconstrução da flora intestinal;
Condimentos: os principais são gomásio (sementes de sésamo com sal), umeboshi (pickle de ameixa), tekka (condimento produzido a partir de diferentes raízes), sementes de sésamo, condimento de cebolinho e muitos outros. Estes devem ser utilizados em quantidades mínimas, sendo especialmente importantes em casos de problemas de saúde;
Alguns típicos ingredientes da culinária macrobiótica: abóbora-moranga, açúcar mascavo ou melado de cana, algas marinhas, ameixa salgada (umeboshi), arroz integral, aveia, ban-chá, bardana, cevada, dentie, fécula de araruta, feijão azuki e de soja, tofu, gengibre, ginseng, leite de cereais, missô, molho de soja (shoyu), nabo branco comprido, óleo de gergelim, sal marinho natural, tahine, trigo integral e mourisco. A alimentação macrobiótica é composta por níveis de evolução. Nos primeiros níveis, os adeptos devem eliminar os alimentos Yin e Yang, e assim, manter apenas o consumo de alimentos neutros e intermediários. Aos poucos, excluem-se da alimentação os alimentos intermediários até alcançar o nível sete (máximo), onde o único alimento permitido é o arroz integral. O nível sete é o auge da macrobiótica, porém é raramente atingido, podendo causar graves deficiências nutricionais e, em alguns casos, a morte. Por outro lado, a alimentação macrobiótica padrão, tendo como base a disciplina inicial, tem como objetivo proporcionar aos indivíduos uma reeducação do organismo, assim como, meios para libertar-se de maus hábitos, vícios e padrões de consumo impostos por uma sociedade consumista, de forma a atingir o bem-estar físico e mental.
Vantagens da Alimentação Macrobiótica
Diminui o risco de obesidade;
Reduz o risco de colesterol e triglicerídeos elevados;
Reduz o risco de diabetes;
Ajuda a controlar a hipertensão arterial;
Regula o trânsito intestinal;
Ajuda a prevenir alguns tipos de câncer.
Esses benefícios são em virtude de ser uma alimentação pobre em calorias, gorduras saturadas e rica em fibras.
Desvantagens da Alimentação Macrobiótica
Pode levar a anemia, osteoporose, atrasos de crescimento, raquitismo e subnutrição quando a dieta é levada a um ponto extremo ou é seguida sem acompanhamento profissional;
Podem surgir carências nutricionais, caso não aja um acompanhamento, à medida que se eliminam determinados alimentos (leite e derivados, leguminosas, produtos derivados da soja e frutas);
A filosofia é baseada apenas em equilibrar o yin e o yang, portanto, não considera a distribuição dos macronutrientes, micronutrientes e calorias;
Como a alimentação macrobiótica propõe a cura de doenças físicas, purificando-as, algumas pessoas interrompem tratamentos médicos sem orientações, o que pode ser prejudicial.
Enfim, a alimentação macrobiótica padrão, preenche os requisitos nutricionais das principais organizações nutricionais mundiais e está de acordo com as linhas gerais no que tange à prevenção do câncer e doenças cardiovasculares. Contudo, é importante consultar sempre um nutricionista antes de adotar qualquer tipo de prática alimentar.