A ordem é o conceito intermédio e indispensável para se atingir a forma. A grande dificuldade da arquitetura reside na transição da ideia para a forma; essa transição é a essência da arquitetura. Kahn defende que é necessário, através do “como”, compreender o “por quê”, e afirma que a forma surge de um sistema construtivo, é a estrutura, a essência – form. Os meios encontram-se no projeto, desde o programa – o programa não tem só uma ideia – até à ideia, que não tem só um programa; a mesma ideia pode ser utilizada em qualquer programa se respondermos às seguintes questões: Onde? Com quê? Quando? Com quanto?
O espaço deve ser um ator principal com voz própria e terá de demonstrar aquilo para que foi concebido, adaptando-se quando necessário e aliando-se a um conceito que atua como fundamento de transição entre a ideia, o desenho, e o projeto. A natureza de um espaço pode ser influenciada por múltiplos e diversificados aspetos, sendo que, para bem do espaço e da própria arquitetura, o projeto terá de seguir essa vontade de dualidade (certeza/espaço e incerteza/adaptação). É necessário aprender a essência das coisas para que possamos chegar à resposta correta – form e shape – “Um cavalo pintado com riscas não é uma zebra”.
Para Louis Kahn, as ideias surgem através da natureza – por quê -; as formas, por outro lado, através da força criativa – o quê -; e, por último, surge o objeto, que se manifesta através do projeto – o como. A forma surge de elementos estruturais, essenciais; não há espaço nem margem para erros, é necessário compreender os sistemas construtivos para alcançarmos a verdadeira forma: “Uma cúpula não foi compreendida se surgem perguntas de como construí-la”. Se por um lado, a forma pode mudar, por outro, o conceito continua o mesmo.
O “como” – projeto – suscita cada vez mais interrogações ao longo de todo o processo, e é a partir dele que derivam as suas imagens de ordem, que atuam como forma, uma memória que o nosso espírito readquire sem grande esforço. Não raras vezes a ordem surge como a primeira condição de beleza de uma obra, contudo, para Kahn, a ordem não implica necessariamente a beleza, a mesma ordem pode criar o belo e o feio. O projeto por si só não produz beleza, esta surge com a seleção de afinidades, integração e amor e é com esta aliança, esta força criativa, que se atinge o estatuto de arte; arte que se traduz em ordem, uma ordem impalpável.
Segundo Louis Kahn, um bom edifício é aquele que, através de um bom projeto – “como” –, se consegue atingir a forma – “quê” -, e isso resulta de uma questão indispensável: o que temos de fazer – por quê. E a partir daí começam a surgir formas arquitetónicas com o respetivo sentido arquitetónico; a próxima fase consiste em descodificar a parte formal, que se relaciona com o mundo verídico e com o mundo imaginário – real vs. fantasia. Se, por um lado, a transição da ideia até atingirmos a forma é a essência da arquitetura, por outro, a forma não é o resultado final, é apenas o veículo de transição até atingirmos o projeto.
As ideias podem surgir-nos ocasionalmente, não existem fórmulas que as expliquem, talvez a fórmula surja a partir de uma reflexão prolongada. Esta transposição da ideia para a forma requer muita vontade e firmeza, e, acima de tudo, muito tempo de reflexão e raciocínio...