A leitura é parte essencial do processo de educação e formação do indivíduo. Ela nos insere em um mundo mais amplo de sabedoria, conceitos e significados, instigando-nos a interpretá-los. Ao expandir a concepção e a prática da leitura, intensifica-se a percepção de mundo em planos culturais e intelectuais. A leitura, mais do que uma mera tradução de símbolos e signos, tem o poder de relacionar as pessoas com o mundo em que vivem e consigo mesmas, cumprindo assim o seu papel social. A literatura infantil, de forma lúdica, possibilita o ingresso da criança no universo das letras. Através dela a criança familiariza-se com os livros desde cedo, conhecendo as suas características e possibilidades. Portanto, a literatura infantil, mais do que ser uma fonte de diversão e lazer para as crianças, proporciona uma melhora da capacidade de escrita, assim como de leitura, além de ampliar o conhecimento e a imaginação dos pequenos.
No dia 2 de Abril é comemorado o Dia Internacional do Livro Infantil. A data foi escolhida para homenagear um dos maiores nomes da literatura infantil, o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, o qual nasceu no dia 2 de Abril de 1805. Andersen não foi o primeiro autor a escrever para o público infantil, mas é considerado o primeiro a adaptar e romancear fábulas já existentes para um linguajar e universo mais adequado às crianças. A primeira coletânea de contos infantis surgiu na França no século XVII, organizada por Charles Perrault, considerado o criador da literatura infantil. Contudo, o que tornou Andersen célebre foi a sua capacidade de comunicar através de antigas fábulas, valores e princípios morais, os quais não eram abordados nas histórias de Perrault, e nem nos contos renomados dos irmãos Grimm, que apenas adaptavam lendas e fábulas modificando os finais inapropriados para o público infantil.
Hans Christian Andersen nasceu em Odense na Dinamarca, no berço de uma família muito humilde. Seu pai era sapateiro, e devido às poucas condições da família, Andersen inicialmente frequentou escolas de caridade. Mais do que qualquer pessoa, foi o seu pai o responsável por estimular no jovem a imaginação e a criatividade, narrando-lhe histórias e, até mesmo, fabricando-lhe um teatrinho de marionetes. As tradições locais, a vida nas ruas e as encenações de teatro com os seus bonecos foram grandes influências para o desenvolvimento do imaginário criativo de Andersen. Além disso, o escritor era um amante de peças clássicas teatrais, frequentando, quando lhe era possível, o Teatro de Odense. Com a morte do seu pai em 1816, Andersen então com apenas onze anos, foi obrigado a abandonar a escola e a trabalhar para ajudar no sustento da família. Após trabalhar como aprendiz de tecelão e alfaiate, aos quatorze anos, muda-se para Copenhague para procurar emprego como ator. Andersen inicia sua carreira no teatro como ator e bailarino, e na mesma época, começa a escrever algumas peças. Devido à sua infância pobre, o escritor teve a oportunidade de vivenciar os contrastes e conflitos da sociedade na qual vivia, o que lhe forneceu material para as suas histórias no futuro.
Em 1828, Andersen foi admitido na Universidade de Copenhague, e em 1835, com o seu romance intitulado “O improvisador” ganhou renome internacional. Entretanto, foram os contos de fadas que o fizeram famoso, pois mesmo com diversos romances, livros de poesia, peças de teatro e relatos de viagens publicados, era rara na época a literatura voltada para o público infantil. Entre os anos de 1835 e 1842, o escritor lançou seis volumes de contos com conteúdo infantil, os quais foram traduzidos para vários idiomas. Andersen escreveu até 1872, produzindo um total de 156 contos infantis. As suas histórias consistem em tradições populares, universo de seres mágicos e elementos da natureza. Entre os principais contos infantis de Andersen encontram-se: O Abeto; O Patinho Feio; A Caixinha de Surpresas; Os Sapatos Vermelhos; O Pequeno Cláudio e o Grande Cláudio; O Soldadinho de Chumbo; A Pequena Sereia; A Roupa Nova do Rei; A Princesa e a Ervilha; A Pequena Vendedora de Fósforos; A Polegarzinha; A Rainha da Neve; A Pastora e o Limpa-chaminés. Suas histórias já foram adaptadas para o cinema, teatro, televisão, desenho animado, entre outros. O escritor faleceu em 4 de Agosto de 1875 em Copenhaguen, aos 70 anos de idade.
Hans Christian Andersen foi o criador de uma linguagem romântica que buscava transmitir padrões de comportamento e senso de justiça social para um público infantil que estava em processo de formação de valores. Nas suas histórias havia sempre confrontos entre personagens dicotômicos: ricos e pobres, fortes e fracos, exploradores e explorados. Devido a sua enorme relevância para a literatura infanto-juvenil, o mais importante prêmio literário do gênero leva o seu nome. A cada dois anos, a International Board on Books for Young People (IBBY) concede a Medalha Hans Christian Andersen para os melhores escritores e ilustradores infanto-juvenis. O prêmio é uma espécie de “Prêmio Nobel” da literatura infantil. Entre os agraciados com a medalha, estão duas escritoras brasileiras: Lygia Bojunga Nunes (1982) e Ana Maria Machado (2000). Aliás, o Brasil possui grandes escritores do gênero, tais como: Ruth Rocha, Ziraldo, Bartolomeu Campos de Queirós, Tatiana Belink, Cecília Meireles, Pedro Bandeira, Mary França e, talvez o mais célebre, Monteiro Lobato. Considerado o pai do gênero infantil no Brasil, Lobato também foi responsável pela tradução e adaptação de inúmeros clássicos da literatura mundial para o idioma português. Em sua homenagem, o Dia Nacional do Livro Infantil é comemorado no Brasil na data do seu nascimento, 18 de Abril.
Contudo, mais do que comemorar uma data, é primordial que a leitura seja incentivada desde cedo na vida das crianças pelos seus pais. As escolas, igualmente, possuem o dever de estimular e possibilitar o contato dos pequenos com os livros, desenvolvendo suas concepções de mundo e sentidos. Uma criança que possui o hábito de leitura, torna-se um adulto leitor. Um adulto que lê adquire um maior senso crítico, discernimento e conhecimento. Com isso, contribui-se para a formação de uma sociedade mais justa e educada.