"A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana… ter consciência dela e ela ser grande é ser génio". Fernando Pessoa
O Louco, arcano 0 do Tarot de Marselha, personifica a impulsividade, a inconsciência, a extravagância, ideias em processo de transformação, a procura incessante… Personifica o Aprendiz da Vida!
O seu entusiasmo em busca de libertar-se do antigo para deixar entrar o novo é evidente. Ele segue o seu caminho movido pela intuição, pelo coração, e não pelo racional.
Com pureza e inocência, é capaz de transcender a dualidade que existe dentro de si, unindo a sabedoria à inocência. Desta forma, consegue renunciar aos estímulos e eventos exteriores, contemplando a vida com o olho interno. Assim, é intuitivo, sendo também a ponte entre consciente e inconsciente.
Caminhando sozinho, descobre seus verdadeiros recursos interiores e, mesmo não sabendo o que busca, busca sem limites, movido para uma direcção que não sabe qual, através de sua força interior e instintiva. O Louco representa o estado anterior a qualquer manifestação, jogando-se no mundo do desconhecido em busca de algo sólido e concreto; do Sol, da Luz!
É este nosso louco interior que nos empurra para a vida, nos levando à autodescoberta. Quando encontramos este louco, estamos em contacto com o vazio da Lua e com o silêncio. É o momento mais livre da vida.
Note-se que no final da idade Média e na Renascença, a loucura é uma expressividade do sujeito envolta em mistério, muitas vezes associada a forças místicas de uma radiância sobrenatural, na qual o louco se apresenta como revelador das contradições e hipocrisias sociais, sendo por isso mesmo, expulso das cidades!
Segundo Homero, a loucura possui uma força maior do que a razão, porque muitas vezes, aquilo, que não se pode conseguir com nenhum argumento, pode obter-se com o riso: “ridendo castigat mores”!
Sublinho que cura faz parte deste nome que até tem quem o elogie. Erasmo, no seu Elogio da loucura, descreve a sua génese “…Sou filha do prazer e o amor livre presidiu ao meu nascimento…” mas Ela é muito mais “ …não será também verdade que a Loucura foi a autora de todas as famosas proezas dos valerosos heróis que tantos literatos elevam às estrelas?”
Verificamos que para Erasmo de Roterdão, a Loucura é Sabedoria, com um retrato hiperbólico, excêntrico, extremo e visivelmente dramáticol!
E se por acaso, agora, na nossa cultura, na nossa contemporaneidade, a Loucura for muito mais dissimulada, mascarada, discreta? Não for a que nós pensamos; a televisiva, a da imprensa, e a do palco?
Afinal, cidadãos ditos normais andam por aí a assassinar, a pilotar aviões mortíferos, a ruminarem o ataque perfeito… o desmoronamento exterior como o das Torres Gémeas, deve alertar para o desmoronamento interno dos humano dos Séculos XX e XXI.