Na mitologia grega, as Moiras eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses quanto dos seres humanos. Eram três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos. Durante o trabalho, as moiras fazem uso da Roda da Fortuna, que é o tear utilizado para se tecer os fios. As voltas da roda posicionam o fio do indivíduo em sua parte mais privilegiada (o topo) ou em sua parte menos desejável (o fundo), explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos.
Hoje, os teares mágicos de Portalegre, adoptando uma nova técnica de tecelagem conhecida como ponto de Portalegre, associam a sua produção a grandes nomes da arte contemporânea nacional e internacional. Estas tapeçarias, ponto de referência nacional, afirmam a nossa cultura, identidade e património e é esse património que “Nós na Arte”- tapeçarias de Portalegre e arte contemporânea- quer dar a conhecer e divulgar com a apresentação de tapeçarias e inúmeros cartões originais executados por alguns dos mais consagrados artistas dos séculos XX e XXI.
De novo a Roda da Fortuna volta para nos indiciar os pontos altos da nossa História com Costa Pinheiro, Vieira da Silva e Cruzeiro Seixas, da nossa condição humana, com Graça Morais e Júlio Pomar, Almada Negreiros, Joana Vasconcelos…Le Corbusier…
As artes entram, assim, numa relação dialógica que permite ao espectador uma troca de olhares cúmplices, um desvendar de teias que nos agarram ao primeiro olhar, uma alteridade pessoana a sentir tudo de todas as maneiras; uma catedral de dedos nos bastidores da obra- prima.
A galeria da Fundação Manuel António Mota permite que as tapeçarias expostas respirem e comuniquem entre si, pelo direito e pelo avesso dos teares da memória e da imaginação.
É obrigatório visitar e revisitar as linhas com que nos tecemos! É obrigatório fazer História com a nossa presença, com a nossa interpretação e avaliação destas obras que respiram alma e corpo e vida e cor e querem comunicar com toda a gente!
Obras de carácter épico, de impressão digital colorida e colectiva, são uma espécie de “ barqueiro” que nos ajudam a fazer a travessia entre Passado e Futuro, a retomar a nossa arqueologia para refazermos a nossa teleologia, usando a linguagem ricoeuriana, percebendo a cada passo que a Pedra Filosofal de António Gedeão acompanha o sentido da tessitura destes sonhos.
Em estreita colaboração com o Museu da Presidência da República e a Manufactura das Tapeçarias de Portalegre, a Fundação Manuel António Mota, no Porto, organizou esta exposição, que estará patente ao público até Julho de 2015.