Celebrar a morte, é possível?
O tema é pertinente e dá que pensar, sobretudo na comparação que podemos fazer entre culturas. Por exemplo entre a mexicana e a nossa. Enquanto eles estão habituados desde a infância à morte brincalhona, feita de gomas e açúcar, algo do dia-a-dia com que temos que conviver brincando…nós fomos habituados a temê-la, a ganhar-lhe medo, a vê-la com um espectro terrível que vem aí para nos tirar algo de muito precioso: a vida.
O que entretanto nos esquecemos é que vida e morte são rostos da impermanência, faces da mesma moeda que é a transformação, metamorfose…mudança. Relembremos Camões que nos dizia que o mundo é composto de mudança tomando sempre novas qualidades….Camões que nos falou de uma ilha dos Amores que é uma visão paradisíaca, talvez post- mortem.
Com a artista plástica Joana de Vasconcelos temos uma Morte desconcertante, pois ela figura nas obras mais extravagantes da artista. Por exemplo, Maria Antonieta ressuscita ao lado de PERRUQUE em Versailles; Amália também reencarna nos Corações Pretos e Vermelhos, de Paixão e Morte no Palácio da Ajuda; o tricot, crochet das avós ressuscita nas peças de Bordalo Pinheiro, tudo isto fazendo com que os objectos ganhem uma memória do passado com o espírito correspondente!
Octávio Paz faz um alerta: “ A morte não nos assusta porque a vida já nos curou dos medos”.
Os mexicanos não têm medo e o medo é o maior inimigo do Homem. É o que faz inibir, fazer marcha atrás perante os obstáculos, o que o impede de evoluir…
Note-se que a História da humanidade está cheia de medos, povoada de infernos e paraísos, de tentações, salvações e condenações…Tudo isso deixa de existir como se fosse fumaça se não tivermos medo da Morte! Melhor seria se começássemos a educar o nosso olhar sobre a Vida. E nisso os mexicanos são uns pontos de referência. Os da época pré-hispânica consideravam-se imortais. Para eles, a morte era apenas uma maneira de viver. E já os antigos diziam que os homens, quando morriam, não desapareciam, mas começavam a viver como se despertassem de um sonho, transformados em espíritos ou em deuses….ou em obras de arte à portuguesa!
Despertemos!