Relembremos o prefácio de Umberto Eco ao livro de Maurizio Ferraris
T´es où?
-- Como é que compreendemos o telemóvel?
Para Umberto Eco, Ferraris capta a ideia que o telemóvel é um instrumento de construção social; de uma realidade social. Instrumento sociológico? Psicológico? Extensão do braço e do ouvido e da boca e dos olhos, o telemóvel consegue comprar bilhetes para a ópera, pagar uma conta bancária ou escrever uma declaração de Amor. Umberto Eco chama a atenção para o homem novo que se avizinha : o “ homo cellullaris” e que poderá castrar o homo consciens. Pois a perda da solidão que coexiste com a reflexão silenciosa perde-se! Isto quer dizer que nem sempre a transformação coincide com a emancipação.
Num outro livro, de Corinne Martin, intitulado "Le telephone portable et nous", faz-se referência à função e segurança, da necessidade que temos de nos proteger e assegurar aos outros que "está tudo bem!" Possui quase uma função maternal, protectora que permite estar e ficar próximo! O telemóvel é indispensável para situações de urgência, por um lado e por outro é necessário para uma certa autonomia, algo característico da nossa contemporaneidade.
Existe ainda o controlo social, especialmente por parte das mães e dos casais entre si?! Objecto identitário, ele contém mensagens que não queremos apagar nunca! Números de telefone que fazem parte da nossa lista dos amigos especiais e secretos…Incorporado e inseparável, torna-se um mediador com uma voz própria, que nos desperta, adormece..entretém e surpreende! Mas que dependências cria e como interfere nas relações interpessoais das pessoas?
“ A interferência dos telemóveis nas relações interpessoais: impactos comunicacionais”: Sendo o telefone portátil um meio de comunicação que serve fins de cariz mais social ou mais pessoal, e que a sua particularidade é de acompanhar fisicamente o indivíduo, partimos do postulado que este tem impactos consideráveis em termos psicológicos, sociais e emocionais e que variam de indivíduo para indivíduo, consoante algumas variáveis da sua personalidade, e da sua situação a nível psico-emocional, assim como da sua situação e contexto a nível profissional, e sócio-cultural. Tais impactos associados ao uso do telefone portátil levam-nos a perspectivar o tema sob uma dupla perspectiva : por um lado perceber a especificidade deste canal de comunicação do ponto de visto do utilizador (enquanto sujeito), e por outro estudarmos, por opção temática, o impacto do seu uso a nível psicológico no contexto das relações afectivas.
Deste modo será interessante lembrar, sem pretensão sistemática ou exaustiva, algumas das figuras dos canais de comunicação que conhecemos do ponto de vista sócio-histórico. Devido ao papel que assumiu a Escrita e os seus primeiros utilizadores quer nas formas de comunicação na esfera social e pública, quer na esfera afectiva e privada, tomaremos esse contexto como ponto de partida (cf. contexto de difusão da escrita na comunicação social-- o aparecimento dos Romanceiros. Por outro lado, ver história da escrita, quem escrevia e de que forma, quem escrevia cartas? Aqui ver que relação com“cantigas de amor” – tb ver cancioneiros).
Interessa, mais amplamente, analisar e perceber de que maneira através das mais diversas formas de comunicação se cruzam ou veiculam dimensões como a expressiva, a criativa, a mitológica, e até a poética, para além da informativa. De algum modo, se a comunicação é expressão de uma necessidade humana é também uma questão pertinente procurar definir de que se reveste tal necessidade e, em que consiste afinal a comunicação; ou dizendo de modo inverso, as formas expressivas e literárias distinguem-se da função comunicativa, esta não abarca por completo as primeiras. Nem tudo o que se diz ou escreve serve para comunicar. Mas sim para representar uma dimensão experiencial - ou mesmo, existencial – e em grande parte subjectiva e inconsciente. Nesse sentido a criatividade assume um valor do sujeito-para-si-próprio-através-do-diálogo-com-o-outro (dimensão narcísica inerente à criação). E, afinal, aquilo que parece ser comum a todas estas formas de representação e de comunicação é a linguagem e, mais precisamente a Língua em que se comunica, escreve ou fala.