Luís  Francisco
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Luís Francisco

Luís Francisco é um reconstruído de vários escombros. E não sabe bem donde é. Atualmente, pernoita na margem esquerda do Mondego, na cidade de Coimbra, onde tenta voltar a enraizar-se, não sem a intuição de que algures no mundo será o seu lugar. Provém de veredas escondidas, no concelho de Penacova (Coimbra), donde, quando começou a pensar, não se vislumbrava luz, apenas sonho. Sente, ainda assim, o berço, pelo vínculo materno, mas, sobretudo, pelo cheiro e sabor da terra donde saiu, quando a pisa. Partiu, e realizou a formação média e superior, nos seminários católicos das dioceses de Coimbra, Aveiro e Leiria. Em 2004, por pedido seu acolhido pela Igreja, o bispo de então fê-lo padre católico, na porção de Igreja que está em Coimbra. Até 2015, como ministro ordenado e em obediência ao mandato dos seus superiores, trabalhou como pároco, diretor de um jornal, culminando em três densos, plenos e intensos anos de assistência espiritual no hospital universitário da cidade.

Em 2015, no meio de ambiguidades, duplicidades, sofrimentos, desilusões, divergências interiores e exteriores, em diálogo sereno, abandonou a prática do ministério ordenado e partiu para outra vida. Sem plano B, tentou transformar em luminoso o lado lunar da vida que começou a viver. Foi agricultor, armazenista, comercial imobiliário, formador de adultos, de jovens e, enfim, professor. Sente-se muito leve agora. Não tão literalmente quanto devia, claro!

Pelo meio de uma vida cheia, licenciara-se em Filosofia e, depois de realizado o mestrado em ensino, é nessa área que se esforça por se reencontrar. Ensaia-se como aprendiz de professor, maioritariamente na Escola Profissional da Mealhada (Aveiro), com experiências mais pequenas e pontuais em outras instituições e com conteúdos diversos. Gostava, no futuro, de se testar como pedagogo de gente mais crescida. Se não acontecer, está tudo bem na mesma!

Pelo meio, lê e escreve, faz silêncio e pensa, corre e joga, cuida da sua mãe e tenta deixar que ela cuide de si também. Ainda vive emaranhado em lutos demasiados, que, não poucas vezes, pesam e fazem esmorecer. E doem, em várias partes do corpo e fundamentalmente no fundo na alma. Caminha entre ilusão e desilusão (algumas, duras, marcam-lhe a carne e o coração), procurando não desistir de encontrar pedaços de felicidade. Às vezes, lamentavelmente, espera apenas que venham ter consigo e faz menos que o que devia. Gostava de ser viajante e escritor. Acredita que, um dia, algures, o será. Depois, poderá morrer feliz. Até lá, vive a reconstruir-se pessoal e socialmente, procurando recuperar vínculos antigos e encontro novos, inteligentes, bem humorados, desafiantes. Sem julgar, mas quase nada preocupado com os julgamentos que possam fazer de si. Sente-se disponível apenas para lutas que valem a pena. Está no seu canto, mas com a certeza de que, a qualquer momento, não conterá alguma da sua efervescência interior, porque ainda sonha ajudar a transformar um pedaço qualquer de mundo. Com outros, certamente.

Quando e se desistir disso, reformar-se-á, num recanto bucólico solitário, com silêncio, horta, um ou outro animal e, imprescindível, palavras para ler e para escrever. E esperará o fim, com a felicidade possível.

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