“Corresponder às necessidades da sociedade atual, sem comprometer o planeta para as futuras gerações, garantindo que os recursos necessários não se esgotem” é, sem dúvida, uma das melhores definições de sustentabilidade. Para a grande maioria dos ambientalistas, é preciso falar abertamente sobre um desenvolvimento sustentável para encontrar soluções que reduzam os impactos que a atividade humana e a crescente industrialização das últimas décadas causaram à Terra, juntamente com o consumo desenfreado de produtos ou serviços, potencializado pelo sistema capitalista. Para que um desenvolvimento sustentável seja, de fato, benéfico, é necessário conciliar dois objetivos: o progresso da economia e a conservação do meio ambiente, gerando riqueza a uma determinada nação, mas sem explorar infinitamente todos os recursos disponíveis.
A indústria da moda, a segunda mais poluidora do mundo, atrás apenas do petróleo, é um exemplo de mercado que vem sendo bastante ressignificado nos últimos anos. Seja por uma pauta levantada pela geração Z ou pelo fácil acesso aos dados, com o advento da internet e das redes sociais, essa “tendência” de consumir menos acabou gerando algum impacto para este segmento que anteriormente era conhecido pela efemeridade no ciclo de vida de seus produtos.
As marcas, no entanto, devem ser sustentáveis muito além dos seus aspectos ambientais; é preciso olhar para o processo de produção como um todo, considerando os colaboradores envolvidos em cada etapa, como são remunerados, como são amparados (em termos de saúde e segurança do trabalho), que tipo de matéria – prima será utilizada na produção, quais os processos envolvidos e os impactos causados à sociedade e ao meio ambiente, entre outros fatores.
Considerando a preocupação dos consumidores (principalmente das novas gerações) com as questões sociais e ambientais, não é raro acontecer os boicotes às marcas que desrespeitam as diretrizes legais do que o público considera como sustentável. O “cancelamento” é uma forma de hostilizar as marcas que se utilizam de técnicas não sustentáveis para promover um determinado produto, como é caso de empresas que utilizam matérias – primas de origem animal, realizam testes em cobaias (não são livres de crueldade animal) ou ainda, possuem mão de obra análoga à escravidão em seu processo de produção.
Segundo as pesquisas realizadas pela Global Fashion Agenda, uma organização sem fins lucrativos localizada na Dinamarca, a indústria da moda é responsável por cerca de 4% a 8% das emissões de carbono na atmosfera, o que gera uma série de alterações climáticas no planeta como a poluição do ar e o desequilíbrio da temperatura média da Terra. A mesma organização estimou que, ao menos 50% dos colaboradores (se é que assim podem ser chamados) dessa indústria não recebem uma remuneração adequada, e trabalham em condições que beiram ao que se conhece como trabalho análogo a escravidão, muito comum na China e na Indonésia.
Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, pelo menos 60% dos tecidos usados na fabricação de roupas e acessórios de moda são compostos de plásticos, como poliéster, acrílico e nylon. Esses insumos colaboram para a poluição ambiental e geração de resíduos no planeta, uma vez que soltam microfibras (uma espécie de microplástico) que, após a lavagem, tem como destino as águas de rios e oceanos”, ou seja, a roupa que a população lava em sua própria residência é capaz de liberar cerca de meio milhão de toneladas de microfibras de plástico nos mares e oceanos. Além disso, alguns tecidos sintéticos como o poliéster e derivados de petróleo levam uma infinidade de anos para se decompor na natureza.
Outro dado alarmante sobre a cadeia de produção da moda diz respeito ao processo de tingimento; estima-se que são necessários cerca de 2.000 galões de água para produzir um único par de jeans. Ademais, a água utilizada nesse processo, se tratada de maneira inadequada, pode contaminar águas e solos e, consequentemente, todo um ecossistema local.
Sem dúvida, ainda há muito a se fazer para atenuar os impactos de milhares de anos de consumo inconsciente e produção em larga escala, visando apenas o lucro. As soluções são as mais variadas, mas todas com um denominador comum – investimento em ciência e tecnologia para encontrar soluções mais eficazes e menos dispendiosas à geração de resíduos, bem como desenvolvimento de novas tecnologias capazes de substituir insumos de origem animal, derivados de plásticos ou fontes não renováveis. Deixar um planeta melhor para a próxima geração é uma obrigação moral de todo ser humano e, se cada um fizer a sua parte, podemos juntos construir uma Terra melhor!