O mundo da moda. Glamoroso, brilhante, promissor e exigente. Recebe quem dá tudo. O bilhete para entrar é dispendioso, mas vale pela dimensão onírica do desejo e do brilho. Na última década a oferta de cursos e formações na área da moda aumentou exponencialmente em todo o mundo. Proporcionalmente, sendo claro um fenómeno que resulta da lei da oferta/procura, as pessoas começam a interessar-se cada vez mais por esta área à medida que o estudo da mesma ganha credibilidade. Estudar moda já não é para desorientados ou artistas sem objetivos traçados. Estudar moda é credível, é fidedigno, pode levar à construção de uma carreira tanto como em qualquer outro âmbito. A oferta é muita e a procura também. A experiência de ensino é oscilante e a exigência da aprendizagem é também um terreno movediço.
Se analisarmos a oferta em termos de formação de moda, segundo o site Business of Fashion, observa-se que as escolas mais influentes não coincidem com as escolas que oferecem uma experiência de aprendizagem melhor. Porquê? Porque umas oferecem o sonho e outras a praxis. O fascínio pela moda deveria advir da compreensão destas duas dimensões como simbióticas, mas não é isto que acontece realmente. As festas, as plumas e os cocktails não coincidem com horas de trabalho infindáveis, com concorrência feroz, com competição desleal e com injustiças implacáveis. Desenganem-se as hostes. Estudar o fenómeno da moda é mais complexo do que supérfluo. É preciso ser visceral. É preciso ter sangue frio e fazê-lo parar de correr nas veias quando tem que ser. São realidades assustadoras que nos devoram ou nos acalmam. A moda pode ser estudada como profissão (stylists, modelos, estilistas, designers, por exemplo); como estratégia (marketeers, estrategas, economistas) ou como fenómeno social e cultural. Ou como um todo indissociável que não começa nem acaba. Faz parte de nós.
Nas duas primeiras hipóteses a dimensão do sonho e do mito é construída e reconstruída pelas artes, pelos media, pelo coração e pela visão. A moda como fenómeno sociológico é assustadoramente real. Dissecar um sonho, uma bola de espelhos, um vestido de princesa! Quem se dedica a executar uma maldade destas? Quem é que dá chapadas de realidade de forma gratuita? Muita gente, graças aos deuses. Para viver o sonho é preciso conhecê-lo. É preciso conhecê-lo bem. Ignorance is bliss? Não! Auto-análise, introspecção, reflexão e intuição. Ultrapassem-se estas máximas, já é tempo. Pensar, debater, analisar e desfazer. As escolas oferecem um sonho por dissecar. A culpa é dividida irmãmente. De quem o vende e de quem o compra, sem o pensar.
Estudar moda é de uma grande responsabilidade e tem uma influência tremenda na atualidade. Não se livram desse fardo! A moda é uma forma de expressão intemporal, é uma manifestação e uma afirmação. A moda é uma arma. Cuidado com ela. É preciso saber usá-la e para isso é devemos conhecer-lhe os contornos e os abismos. Desmontem-se paraísos porque é preciso sujar as mãos. Como em todas as áreas, é preciso conhecê-las para gostar delas. A moda é uma forma de arte, de sentir, de ouvir e de experienciar. O estudo deste fenómeno implica seriedade, disciplina, afastamento do sonho e do brilho. Conhecer as falhas é melhor do que só conhecer a superfície. É nesta perspetiva que as escolas devem apostar. Não se vendem bilhetes para o mundo da fantasia. Vendem-se bilhetes para o conhecimento profundo e inequívoco. Existe amor maior do que aquele que ama a carne e as vísceras? Dar tudo sem receber nada.