A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a exposição Alvaro Barrington & Chico da Silva do renomado artista contemporâneo Alvaro Barrington (1983) em diálogo com a obra de Chico da Silva (1910-1985), artista brasileiro de origem Ashaninka, povo indígena localizado na Amazônia peruana. Apesar das distâncias temporais e espaciais que os separam, a conexão entre eles se revela de forma significativa, através de características técnicas, como a vibração cromática, a gestualidade e o uso de materiais não convencionais, mas, sobretudo, no compromisso com a representação do coletivo.
Durante visita ao Brasil na ocasião da abertura de sua primeira individual na Mendes Wood DM em 2023, Alvaro Barrington se deparou com os desenhos fantásticos do artista autodidata. Inspirado por suas obras, criou cinco pinturas de peixes que serão apresentadas pela primeira vez ao lado de obras de da Silva – recentemente, desenhar peixes se tornou uma prática importante para o artista contemporâneo. Os animais marinhos traçados por Barrington emergem em um mar de manchas vibrantes, onde a dinâmica entre pinceladas audaciosas e sutis provoca uma sensação de movimento constante. Expostos de forma intercalada com desenhos célebres de Chico da Silva, como Peixes e Peixe e polvo (ambas de 1966), a exposição convida o público a adentrar em um oceano brilhante e dinâmico.
Alvaro Barrington utiliza-se de referências diversificadas, construindo suas produções exuberantes a partir das influências de variados artistas. Nascido na Venezuela, filho de pai haitiano e mãe granadina, o artista foi criado no Caribe e depois no Brooklyn, residindo atualmente no leste de Londres. Geralmente, o artista utiliza materiais e fazeres interdisciplinares que muitas vezes fazem referência à sua infância. Para ele, a pintura é a base de uma prática que abrange instalação, escultura, objetos encontrados, têxteis, a palavra escrita e eventos comunitários.
As telas de Chico da Silva, que inspiram a mostra, são habitadas por criaturas fantásticas em cenas de ação e são marcadas por uma rica policromia e pelo grafismo detalhado de suas composições. A magnífica pintura sobre madeira Fundo do mar, de 1963, é composta por um fundo de cor chapada, com tratamento de borda feito com impressões de dedos e animais marinhos coloridos posicionados no centro, oferecendo a sensação de movimento à obra. O uso da corporeidade é fundamental na produção de ambos os artistas, onde impressões do corpo sobre a superfície das obras são frequentemente utilizadas.
Comprometidos com suas respectivas comunidades e ancestralidades, suas criações carregam narrativas fora do cânone da história da arte, preocupando-se inclusive em reimaginar o que é considerado tradição. Por um lado, da Silva apresenta o folclore brasileiro em muros e telas, trazendo elementos do imaginário popular e promovendo identificação e pertencimento. Do outro, o artista baseado em Londres, resgata a ancestralidade em suas instalações, evocando temas de comunidades afro-diaspóricas e suas experiências pessoais.
À margem do sistema tradicional da arte, em 1943, Chico da Silva conheceu o crítico de arte e artista suíço Jean-Pierre Chabloz, que imigrara para o Brasil. O encontro teve grande relevância na difusão do trabalho de da Silva, que circulou pelo Brasil e Europa, sendo um dos primeiros artistas de origem indígena a ser reconhecido internacionalmente. Sua obra foi incluída na 33ª Bienal de Veneza, em 1966, e na 9ª Bienal de Arte de São Paulo, no ano seguinte, sendo atualmente revisitadas com novas leituras e interpretações. Atualmente, Alvaro Barrington apresenta a instalação de grandes dimensões Grace na Tate Britain. Apesar das diferenças que envolvem suas trajetórias, a profundidade de suas narrativas cria um espaço fértil para a reflexão sobre a arte como um meio de conexão, memória e resistência.
A exposição foi organizada em parceria com o Instituto Chico da Silva.