Em uma carta escrita ao irmão Theo, Vincent Van Gogh explica que, para ele, os sons se manifestavam também em cores e que certos tons, entre eles o amarelo e o azul, reverberavam em seus sentidos como fogos de artifício. Um depoimento parecido dado pelo gênio pós-impressionista ao seu então professor de piano fez com que ele fosse expulso para sempre das aulas do instrumento – o mestre alegou ter certeza sobre a loucura do aluno. O universo criativo de Shizue Sakamoto também dança entre o som (ou a ausência dele) e um profundo estudo de cores. Essa fusão impetuosa guia a exposição “Partitura em cores”, em cartaz este mês na Galeria Kogan Amaro. A mostra firma a entrada da paulista núcleo de artistas representados pela galeria.
Shizue estudou violino durante alguns anos, dos quais grande parte foi também habitada pelas arte plásticas. “Às vezes quando pinto, é como se eu estivesse tocando. O violino exige de nós gestos precisos, firmes, porém leves, assim como o ato de pintar”, explica ela. Assim como no som, Shizue vê nas cores uma forma de buscar sensações e emoções puras. O calor que reverbera da obra 12 Girassóis numa Jarra (1888), de Van Gogh, foi o gatilho para a produção desta exposição. Foram as milhares de horas olhando para uma reprodução da pintura que fizeram com que Shizue chegasse à cor precisa da única obra dela que vibra na mesma tonalidade da do mestre. A partir dela nasceram as sete telas seguintes, ora feitas em tons de azul, ora rosadas, como imersas em um nascer do sol, que completam a composição orquestrada pela artista no espaço expositivo, em São Paulo.
Profunda estudiosa das cores, ela aprimorou tal habilidade durante o curso feito entre 2012 e 2014 com o artista Paulo Pasta. O refinamento de sua obra fez com que ela retornasse a produção ao papel, suporte que lhe deu maior confiança para alcançar tons particulares. Nesse novo patamar, Shizue pôde voltar às telas, exibindo nuances nunca antes auferidas. Os portais de luz que cria a partir de suas pinceladas nos leva de encontro a produções relacionadas ao Light and Space Movement, grupo originário na Califórnia dos anos 60 e composto por nomes como James Turrell e Doug Wheeler. Em ambos, é possível viajar por túneis cromáticos que nos conecta a um universo espiritual de sensações. Harmonia almejada para visualizar e definir, enfim, as cores para compor essa partitura.