O streetwear emergiu da cultura urbana, mas sua influência alcançou todos os cantos do mundo, conquistando as passarelas e se tornando um dos segmentos mais rentáveis e desejados da indústria da moda, tanto pelo seu caráter vanguardista quanto pela sua imensa gama de possibilidades.
Uma das estéticas mais notáveis do streetwear é a calça larga e de cintura baixa, que possui uma origem inesperada: o sistema penitenciário norte-americano. Nas prisões, os detentos frequentemente usam calças largas sem cintos, já que os cintos são considerados objetos perigosos. Esse visual foi, então, trazido para as ruas por meio de ex-detentos, que passaram a usar as calças de forma semelhante ao que eram obrigados a vestir na prisão, seja por falta de outros recursos ou como uma forma de ressignificar sua experiência.
No entanto, é interessante notar como, na moda, o “estético” e o “desagradável” dependem, literalmente, do contexto.
Com o tempo, essa estética passou a ser adotada por jovens de diferentes estilos e bagagens, especialmente aqueles que admiravam a cultura hip-hop e suas influências. As calças largas de cintura baixa tornaram-se um símbolo de desafio às normas sociais, representando a resistência à conformidade e, muitas vezes, uma forma de protesto contra a repressão e as injustiças do sistema penal. Para muitos jovens, era uma maneira de demonstrar solidariedade ou compreensão com as dificuldades enfrentadas pelas comunidades marginalizadas, especialmente as negras, latinas e periféricas.
Enquanto a década de 1990 impulsionou o streetwear nos Estados Unidos, com marcas como FUBU e Sean John, a popularidade do estilo se espalhou para outras partes do mundo, incluindo o Japão e a Europa. Em Tóquio, marcas como A Bathing Ape adotaram o streetwear e reinventaram-no com influências locais, criando uma versão mais colorida e exclusiva, com o uso de estampas e padronagens irreverentes.
Na Europa, a moda urbana passou a ser combinada com peças de luxo, criando um visual híbrido que integrou o clássico e o urbano.
Atualmente, o streetwear continua a crescer, transcendendo classes sociais e alcançando até mesmo a alta costura. Colaborações entre marcas de streetwear e grifes de luxo, como Supreme e Louis Vuitton ou Off-White e Nike, demonstram como o estilo urbano conquistou o mundo da moda. As calças largas de cintura baixa, antes um símbolo de marginalização, foram reinterpretadas nas passarelas de marcas como Balenciaga, que as associaram a peças de luxo, tornando-as itens de desejo dos consumidores.
A popularidade do streetwear é também uma resposta ao desejo de autenticidade e individualidade em um mundo cada vez mais globalizado e digital. Diferente do fast fashion, o streetwear muitas vezes valoriza peças limitadas, que fazem parte de colaborações exclusivas e são vendidas em drops (lançamentos de quantidade limitada). Esse modelo cria uma escassez planejada que eleva o valor das peças, transformando-as em itens de colecionador e peças cobiçadas. Ao mesmo tempo, o estilo streetwear reflete a cultura das ruas e a luta pela expressão pessoal, especialmente em comunidades historicamente marginalizadas, dando voz e visibilidade a identidades que, durante muito tempo, estiveram fora dos holofotes da moda.
Mas vale destacar que existe uma linha tênue entre se apropriar de um estilo até então visto de maneira pejorativa por toda a sociedade e decidir que, em dado momento, ele será foco de lucro. Essa é uma reflexão recorrente na indústria criativa, já que, antes de tudo, o streetwear serve como um meio de comunicação, permitindo que as pessoas expressem seu pertencimento a um grupo específico ou sua admiração por uma cultura.
Além disso, com o aumento da popularidade e o apelo crescente do streetwear, surge uma nova questão: como o estilo urbano pode manter sua autenticidade em meio à comercialização intensa e ao crescente interesse das marcas de luxo? Alguns críticos argumentam que o streetwear, ao se tornar mainstream, perdeu parte de sua essência rebelde e de contracultura. No entanto, a capacidade de adaptação e reinvenção do streetwear sugere que ele continuará relevante, evoluindo para refletir as mudanças e os desafios do mundo contemporâneo.
Seja através de uma calça larga e de cintura baixa, uma camiseta gráfica ou um tênis personalizado, o streetwear é uma expressão poderosa de identidade e resistência, que se reinventa e ressignifica o que a moda representa para diferentes culturas e gerações.