A sustentabilidade tornou-se um tema central mundialmente, e a moda não é exceção. O termo “moda sustentável” entrou no léxico popular como uma resposta às crescentes preocupações com as práticas insustentáveis que têm marcado a produção e o consumo de vestuário. No entanto, enquanto algumas marcas e consumidores se esforçam genuinamente para promover uma moda mais ética e amiga do ambiente, há um crescente ceticismo sobre até que ponto estas iniciativas são verdadeiramente sustentáveis ou se, em muitos casos, não passam de um artifício de marketing conhecido como greenwashing. Neste artigo, exploramos os desafios e contradições em torno da sustentabilidade na moda e questionamos se a indústria está realmente comprometida com uma mudança significativa.
Para entender o movimento em direção à moda sustentável, é essencial primeiro reconhecer o impacto da slow fashion (moda rápida), que tem sido a norma nas últimas décadas. Este modelo de produção em massa, que visa lançar novas coleções com frequência para atrair os consumidores, resulta num enorme desastre ecológico. A moda rápida é sinónimo de desperdício, consumo exagerado e exploração, com grandes marcas a produzirem quantidades astronómicas de roupas a preços baixos, muitas vezes em condições laborais precárias e com um impacto ambiental devastador.
A produção de moda rápida utiliza vastas quantidades de recursos naturais, como água e energia, e contribui para a poluição através do uso de produtos químicos nocivos e do descarte inadequado de resíduos. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a indústria da moda seja responsável por cerca de 10% das emissões globais de carbono e que consuma mais energia do que a aviação e o transporte marítimo juntos. Além disso, a moda rápida contribui para o crescente problema dos resíduos têxteis, com milhões de toneladas de roupas descartadas a cada ano, muitas vezes em aterros sanitários.
Para não falar nos danos causados diretamente a saúde de quem a utiliza, recentemente o governo de Seul publicou uma nota a confirmar que muitos produtos comercializados por uma das mais famosas fast fashions de vendas online tem utilizado substâncias toxicas acima dos níveis permitidos localmente.
Em resposta a estas preocupações, a moda sustentável emergiu como uma alternativa mais ética, ecológica e saudável. Este movimento defende práticas de produção que minimizam o impacto ambiental e promovem condições de trabalho justas. As marcas que se posicionam como sustentáveis frequentemente adotam materiais orgânicos ou reciclados, reduzem o uso de água e energia, e garantem que os seus trabalhadores sejam bem remunerados e tratados com dignidade, não produzem em grande escala e tentam minimizar e equilibrar todo processo da cadeia de produção e distribuição.
Por outro lado, o consumo consciente também é uma componente chave da moda sustentável. Os consumidores são encorajados a comprar menos, escolher peças de qualidade que durem mais tempo e evitar a tentação das tendências passageiras. Esta abordagem visa combater a mentalidade descartável da moda rápida e promover um ciclo de consumo mais lento e responsável.
O ceticismo em torno da sustentabilidade na moda
Apesar da crescente popularidade da moda sustentável, há um ceticismo crescente sobre até que ponto estas iniciativas são genuínas. Muitas marcas, especialmente as grandes empresas que historicamente têm contribuído para a degradação ambiental, começaram a promover linhas “sustentáveis” ou “eco-friendly” como forma de melhorar a sua imagem pública. No entanto, essas práticas muitas vezes levantam questões sobre a verdadeira sustentabilidade por trás das suas promessas. O greenwashing é uma das principais críticas ao movimento da moda sustentável. Este termo refere-se à prática de empresas que exageram ou falsificam as suas credenciais ambientais para atrair consumidores preocupados com o meio ambiente. Por exemplo, uma marca pode lançar uma pequena linha de produtos feitos de materiais reciclados enquanto continua a produzir a maioria dos seus artigos de forma insustentável. Além disso, muitos dos esforços de sustentabilidade proclamados pelas marcas carecem de transparência e não são sujeitos a auditorias independentes, o que torna difícil para os consumidores avaliar a autenticidade das suas práticas.
Outra questão central no debate sobre a sustentabilidade na moda é a acessibilidade. As roupas sustentáveis, devido aos seus métodos de produção mais éticos e materiais de qualidade superior, tendem a ser significativamente mais caras do que as suas contrapartes da moda rápida. Isto levanta a questão: a sustentabilidade na moda é apenas para os consumidores mais abastados? A moda sustentável corre o risco de se tornar uma escolha elitista, inacessível para a maioria das pessoas, perpetuando um ciclo onde o consumo ético é um privilégio de poucos? Perguntas que podem ser respondidas facilmente havendo reeducação ambiental e social, instruindo a população de maneira a perceberem que há outras formas de consumo ao invés do consumo exacerbado seja ele da fast fashion ou da slow fashion.
Implementar práticas verdadeiramente sustentáveis na moda é uma tarefa complexa e repleta de desafios. Em primeiro lugar, a transição para uma produção mais ecológica requer investimentos significativos em novas tecnologias e processos. Muitas pequenas marcas, que talvez estejam mais comprometidas com a sustentabilidade, lutam para competir com as grandes corporações que possuem recursos para investir em greenwashing sem realizar mudanças substanciais nas suas operações.
Além disso, a cadeia de abastecimento global da moda é extremamente complexa, com diferentes fases de produção espalhadas por vários países, frequentemente em regiões com regulamentações ambientais e laborais pouco rigorosas, como Paquistão, Bangladesh, India, China, Etiópia e Camboja.
Países como os citados anteriormente possuem uma grande indústria de confecção, que é fundamental para a sua economia. No entanto, as condições de trabalho são frequentemente difíceis, com baixos salários, trabalho forçado e falta de segurança no local de trabalho. A fiscalização governamental é limitada e, em muitos casos, insuficiente para garantir condições justas.
Garantir a sustentabilidade em toda a cadeia de valor — desde a produção das matérias-primas até à fabricação, transporte e venda — é um desafio monumental.
O questionamento da sustentabilidade na moda é essencial para garantir que o movimento se traduza em mudanças reais e significativas. Embora haja um progresso encorajador, a realidade é que muitas das iniciativas atuais são superficiais e não abordam as questões sistémicas que perpetuam a insustentabilidade na indústria.
Para que a moda sustentável seja mais do que uma tendência passageira, é necessário um compromisso genuíno de todos os intervenientes — desde os designers e fabricantes até aos consumidores e reguladores. A sustentabilidade na moda não pode ser apenas uma estratégia de marketing; deve ser um princípio central que orienta todas as decisões e práticas na indústria.