O psicanalista Sigmund Freud discute em sua obra sobre o inconsciente, o desejo humano e o nosso comportamento diante das perdas. Cada um de nós reage de uma forma, e existem explicações para isso. Para isso, ele conceitua luto e melancolia. Antes de qualquer coisa, ele aponta que todos nós possuímos traumas. Eu, você, seus pais, tios, primos, parentes, professores, somos marcados por traumas. O trauma é aquela situação que te marca, que fica na sua memória e gera os famosos gatilhos.

Eu e você temos nosso comportamento baseado nos traumas que tivemos. Sobre o trauma, você não é um alienígena. O problema é como reagimos aos traumas. Mas isso fica pra daqui a pouco. Normalmente, nossa personalidade é formada até os 2, 7 ou 14 anos. Logo, você carrega trauma em forma de memórias – elas vão moldar suas ações. Esses traumas são formados no convívio familiar, na escola, nos ambientes religiosos ou no meio da rua. Alguns traumas são simples e outros mais complexos. Inclusive, você não tem culpa de vários deles. O mundo é injusto e não podemos controlar o que acontece conosco.

Onde entram o luto e a melancolia? Eu te respondo: agora! Freud fala que todos nós desenvolvemos desejo ou relações sentimentais com objetos (pessoas, ideologias, lugares). É o que forma nossa personalidade, seus gostos, etc. Aqui, estou falando do seu crush, namorado(a), pais, parentes, ideias políticas, religiosas, trabalho, etc. Você se apaixona por esses objetos e desenvolve laços com eles. A questão é que esse amor pode ser problemático. Quando eu e você sofremos uma perda (ninguém ou nada dura para sempre), nossa reação diante da perda pode ser de luto ou melancolia. Sendo direto, o luto é quando você consegue se “soltar” da relação de desejo ou sentimental com o objeto amado.

Sabe aquele seu parente que morreu? Antes, você olhava para a foto dele(a) e chorava. Depois que você viu a realidade, tomou o tapa na cara e viu que ele partiu, você consegue se afastar desse objeto e aqui não dói mais. Você olha para o objeto e ele não te machuca. Mas, Felipe, então quer dizer que quando eu falo que superei alguém e quando vejo a foto dele(a) e tenho um gatilho, quer dizer que eu não superei? É. Você só engana a si mesmo! Se você tivesse superado uma perda, aquilo não iria doer mais.

O luto é um processo e cada um passa por ele em tempos diferentes. Ele possui fases: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Nesse processo de despir-se das emoções com o objeto, as fases se misturam até que você aceita e se liberta do trauma ou do objeto amado. Uma parada importante: algumas pessoas nunca vão sair do trauma! Saiba identificar se você está assim ou se alguém que você conhece está assim. Ah, mas sobre o luto, é um processo doloroso! Porém, vale a pena. É sensacional você olhar para aquela foto, pessoa ou ideologia que te prendia e não sentir mais nada!

Mas e a melancolia? É quando você não passa pelo processo de luto e vive dentro de uma caixa que te arrebenta. Digamos que é uma “condição” que pode se tornar patológica. Em resumo, se você não supera seu trauma, ele vira doença. Você fica sem comer, dormir, tem ansiedade, cabelos caem e gatilhos te assombram quando ninguém está vendo. Quando eu e você não conseguimos nos desprender do objeto amado que perdemos, estamos na melancolia. Para piorar essa situação, te conto que nossa mente não consegue diferenciar presente, passado e futuro.

Antes que você estranhe, é isso mesmo. Sabe quando você tem um gatilho? É você voltando ao seu trauma. É sua cabeça revivendo uma situação que aconteceu quando você tinha 7 anos de idade. Você sente as mesmas coisas (sensações boas, ruins ou sombrias) daquele dia traumático.

Para sua mente, você ainda está preso naquele dia. Então você está falando que uma pessoa de 50 anos de idade que tem um gatilho de algo que rolou aos 16 está presa na própria memória? Sim. Algumas pessoas nunca vão sair da caixa sombria que as prende. Enquanto você não sair da caixa traumática, que dá gatilhos e move suas ações, você vai continuar preso(a) no passado. Pior, sabe quando você tenta mudar várias vezes e parece que volta ao mesmo lugar? É isso. O trauma não tratado, que deve ser levado para a terapia (é no consultório que você olha para seus demônios e consegue expulsá-los), move suas ações.

Ele molda suas ações. Sabe aquele menino ou menina que tem “dedo podre”? Então, podemos supor que ele tem um trauma de infância ou adolescência. Enquanto não tratamos, nós procuramos aquilo que temos na ferida. Exemplo: você sempre foi tratado igual lixo e isso ficou gravado no seu “inconsciente”. Você procura pessoas, lugares ou situações que alimentam seu trauma/ferida. Você faz isso sem saber. Parece que é se cortar, não é? Sim. Você vai procurar pessoas que te tratam como lixo, mesmo querendo sair desse rolê de lixo.

Se você teve referências ruins, se você não tratar isso em terapia para corrigir sua visão de mundo, você vai reproduzir esses comportamentos ruins que estão gravados na sua mente e vai buscar pessoas que vão alimentar essa ferida aberta. Pior, você está ferido (querendo sair da caixa), mas sua memória gravou uma imagem errada da realidade e você busca incansavelmente venenos que vão alimentar seu ego ferido porque você é traumatizado(a).

Tomar veneno é ruim, não é? Mas você faz essa parada e isso se chama melancolia. Então, quando não conseguimos superar o objeto amado perdido e/ou o trauma que furou sua alma, estamos na condição melancólica. A parada é sair dessa caixa e visualizar um mundo (não melhor, porque também não sou gratiluz) sem camadas. Precisamos sair, desprender, abandonar, chorar, deixar doer para se libertar. Aprenda a ler você e as pessoas que estão na sua volta por meio do comportamento delas. Você consegue fazer uma análise de você e delas por meio da observação dos traumas dele(a) que se manifestam nas ações.

Nisso eu te pergunto: quais são seus traumas, gatilhos, demônios ou pensamentos sombrios que te assombram quando você deita a cabeça no travesseiro?