Atualmente, com tantas distrações e ansiedades a roubar a nossa presença, a melhor forma de sintonia é cultivar o conhecimento da geografia das nossas emoções.

Com a temporalidade projetada nas dispersões das redes sociais, a frenética concorrência por competências exclusivas e a pressa engendrada pelo incerto futuro, os nossos sentidos estagnaram e o presente, é algo que tende a ser protelado.

Talvez ao ler este primeiro trecho uma pergunta assalta-lhe: e qual a forma de neutralizar tudo isso? A resposta é assustadoramente simples: pratique a observação de curtos momentos e situações que se repetem ciclicamente no seu dia. Entre em ressonância e mantenha uma relação colaborativa com tudo ao seu redor, avaliando os seus hábitos sem julgamentos.

A demarcação emocional é uma metáfora que nos convida a explorar os territórios internos da mente. Assim, como um mapa de um país mostra as diferentes regiões e paisagens, a nossa vida emocional é delineada por uma topografia única, onde coexistem relevos e dinâmicas.

Vales de tristezas convivem com montanhas de alegrias, rios de medo convergem para mares revoltos e impetuosos de raiva, planícies de repulsas fazem margem as dinâmicas sociais e ambientais para além de toda a extensão territorial das surpresas vivenciadas pelo nosso ser, no finito espaço-tempo.

Ao explorarmos a nossa topografia emocional, podemos ficar aptos a respondermos questionamentos como: “O que eu gosto? Quais são minhas forças? Posso realmente contar comigo? Quais as minhas fraquezas? Por que faço as coisas desse jeito? Por que sinto a necessidade de atenção e aprovação dos outros? Sou forte o bastante para ser íntimo de outra pessoa e mesmo assim, honrar as minhas necessidades emocionais?”

Ajustar o foco no nosso mundo interior e desbravar as densas florestas dos medos e preocupações é promover alterações reais e físicas, pois cada emoção tem uma arquitetura única. Algumas são acolhedoras e cheias de luz, enquanto outras são densas como um nevoeiro e nos desafiam a ajustar crenças profundas que nos limitam. Então, ao explorar a geografia das emoções embarcamos numa jornada de autoconhecimento onde mapeamos as terras desconhecidas e ilhas fluídas que são moldadas pelas correntes invisíveis das crenças enraizadas e das experiências diárias.

Substituir convicções e instalar o seu poder pessoal é assumir a compreensão da leitura dos elementos geográficos da sua carta emocional, pois as nossas emoções colorem a paisagem das vivências, influenciam as escolhas, as perspetivas e os relacionamentos.

O nosso cérebro é sensível a estímulos carreados de emoção, sejam eles agradáveis ou não, e responde de forma muito mais vibrante a estes, mais do que aos estímulos neutros. Os núcleos da amígdala, encarregados de processar as emoções, pintam a vida com uma paleta vibrante de cores, enriquece as nossas experiências com profundidade, adicionam personalidade às nossas ações e regem as tão desejadas recompensas.

Estudos mostram que ao medir alterações no sistema nervoso autónomo, foram catalogadas seis emoções inconscientes, universais e básicas, verificadas em todas as culturas e biologicamente necessárias a sobrevivência, a saber: nojo, raiva, medo, tristeza, surpresa e alegria.

Normalmente, quando estamos sob stresse, tendemos a ficar presos em padrões de pensamentos repetitivos e negativos, a focar de maneira obsessiva nos mesmos problemas. Ao acontecer isso, a nossa atenção e energia é direcionada a revisitar situações do passado, e normalmente o destino será o pior cenário possível, o trauma vivenciado.

Por exemplo, se pensamos constantemente em confrontos com o nosso chefe, o nosso corpo ativa o sistema nervoso e faz com que o cérebro liberte uma abundante chuva de catecolaminas entre elas a adrenalina e a norepinefrina, para além do cortisol. Estas substâncias presentes codificam uma resposta imediata na antecipação do conflito e produz um aumento da pressão arterial, frequência cardíaca e quantidade de glicose disponível no sangue.

Como uma brisa suave pode afastar as nuvens escuras, os pensamentos saudáveis conseguem dissipar as sombras do estresse e da ansiedade. Eles moldam a nossa biologia interna e influenciam o nosso estado emocional.

Munidos de consciência, podemos desbravar a mata do nosso subconsciente, local de residência do amor pela vida e das raízes da nossa autoimagem. Neste vasto território mental, encontramos também memórias dolorosas, padrões emocionais danificados, mas com determinação podemos diagnosticar estes desvios e validar o bem-estar emocional.

Da mesma forma que diferentes regiões geográficas têm climas distintos, as nossas emoções têm os seus próprios climas internos que mudam com as estações da vida.

Identificar os sistemas de convicções e angariar afirmações que estimulem os programas positivos e anulem os negativos, é a mais assertiva decisão que um ser pode empreender.

A nossa individualidade biológica é um fator limitante para promoção de receitas mirabolantes que seja profilaxia para todos, e quanto mais nos conhecermos, mais delimitamos a nossa engenharia emocional e afinamos os contornos da plenitude.

Observe e extraia destes mergulhos pessoais as suas lições e aferições. De início, por ser tão simples pode causar estranheza, mas a melhor forma de perceber se dá certo é implementar. Cutucar as mais escondidas respostas e ser um observador compreensivo e sincero. Comece a fazer práticas segundo o seu fluxo, no seu ritmo e sem cobranças mais com foco. Com o tempo a fluidez será sua companheira de viagem.

A exploração respeitosa, com curiosidade e coragem por meio de um diálogo interno, garante o mapeamento dos relevos de forças e fraquezas, climas e microclimas da nossa autoimagem, o reconhecimento da flora de ideias dominantes, se são nossas ou advindas da família, de relações sociais ou do inconsciente coletivo.

Portanto, ao contemplar a geografia das nossas emoções, somos convidados a nos tornar verdadeiros cartógrafos das nossas almas.

Entender quem somos, quais as nossas motivações, os valores que nos nutrem, permitem vivenciar relacionamentos mais autênticos, lidar com os desafios de forma mais eficaz e ao explorar a complexidade da nossa paisagem emocional começamos a trilhar a jornada para uma vida mais significativa e satisfatória.