Era uma decisão que vinha borbulhando em meu interior há muito tempo. A Índia, um destino que sempre habitou meus planos, tornou-se mais do que uma mera ideia de viagem. Como facilitadora da cura através do movimento e autoconhecimento, senti um chamado para desafiar não apenas os limites geográficos, mas também as fronteiras da minha própria mente e corpo.
Antes mesmo de iniciar a jornada física, a peregrinação começou na mente. Uma torrente de medos e ansiedades surgiu, como se a mente estivesse antecipando os desafios que estavam por vir. O que poderia ser percebido como uma crise emocional revelou-se uma oportunidade única para confrontar a si mesma antes mesmo de pisar na terra sagrada da Índia.
As vozes internas se questionavam: "Deixar minha gatinha, meus clientes, meu conforto na Suíça, perder a formatura da minha filha... Isso é sensato?" No entanto, a sabedoria da intuição sussurrava que a verdadeira sensatez estava na busca do desconhecido, na dança entre o medo e a coragem.
Essa decisão não era apenas sobre viajar; era sobre aprofundar-se, mergulhar nas águas desconhecidas da própria alma. A Índia, com sua riqueza espiritual e desafios palpáveis, oferecia o terreno fértil para essa jornada interior. A oportunidade de olhar de frente para os medos, antes mesmo de embarcar, era uma dádiva que não poderia ser ignorada.
Assim, antes de fazer as malas, eu já estava desembrulhando camadas emocionais, desfazendo nós mentais. A peregrinação começava no momento em que a decisão era tomada, na fronteira entre o conforto e o desconhecido. Era mais uma oportunidade de me conhecer antes mesmo de conhecer a Índia, levando em conta que dedico minha vida ao autoconhecimento e curas, e isso, por si só, era uma jornada digna de ser vivida.
O absurdo da mente - desconstruindo a couraça controladora
Minha jornada interior começou a revelar uma resistência profunda, uma couraça que eu, consciente ou inconscientemente, construí ao longo dos anos. A confissão é inevitável: sou controladora. Os medos e traumas do passado moldaram uma personalidade que acreditava que controlar era sinônimo de sobreviver.
O processo de decisão de embarcar na peregrinação revelou não apenas a vontade de explorar terras distantes, mas também a necessidade de confrontar essa couraça que eu carregava. A ideia de deixar para trás meu universo controlado na Suíça desencadeou um frenesi interno, como se eu estivesse prestes a abrir mão de algo vital.
Os medos, enraizados nas cicatrizes do passado, sussurravam que a segurança estava na certeza, no controle minucioso de cada aspecto da vida. E, no entanto, a peregrinação era uma declaração audaciosa de que talvez, justamente no desconhecido, eu encontraria uma forma mais autêntica de segurança.
Ser uma workaholic era mais uma camada dessa couraça. A ideia de pausar, de desacelerar, era quase uma afronta ao meu senso de identidade. Afinal, quem seria eu sem a constante atividade, sem estar imersa no trabalho? A peregrinação não era apenas uma viagem física; era uma interrupção profunda no fluxo frenético do meu ser.
Agora, diante de 4 semanas na Índia, a resistência se intensifica. É como se o próprio tecido da minha persona estivesse sendo puxado, desfiado. Cada passo na direção do desconhecido é um desafio direto à minha necessidade de controlar. E a pergunta ressoa: E agora?
Essas 4 semanas não são apenas um intervalo de tempo; são um convite para desaprender, desarmar os mecanismos de controle e permitir que a vida se desenrole organicamente. É uma oportunidade para liberar a tensão acumulada, para desafiar a narrativa que diz que o controle é a única resposta.
A peregrinação é um ato absurdo, um mergulho no desconhecido quando a mente clama por certezas. E talvez, apenas talvez, nessa absurda aventura, eu encontre a liberdade que a couraça controladora tanto temeu.
A resistência interna, como uma sombra persistente, surge quando confrontamos a possibilidade de uma mudança tão radical quanto uma peregrinação à Índia. É como se a mente, em sua busca pela estabilidade, erguesse barricadas invisíveis para preservar o status quo. Questões profundas emergem: "Deixar para trás meu conforto na Suíça é sensato?". A voz da segurança se opõe ao chamado da aventura, criando um conflito interno que ecoa através das câmaras da mente.
Os medos, como fantasmas do passado, pairam sobre a perspectiva do desconhecido. Cada passo em direção a terras não mapeadas desencadeia uma sinfonia de preocupações: "E se eu perder o controle? E se eu ficar doente com a comida, e se meu estado físico não aguentar? E se o inesperado se revelar intolerável?". A mente, com suas habilidades preditivas, tece cenários sombrios que servem como tentativas de dissuadir a coragem necessária para a jornada.
Nesse teatro do absurdo, a mente cria roteiros surreais, nos quais a mudança é retratada como uma afronta ao equilíbrio frágil construído ao longo do tempo. A lógica e a razão, muitas vezes aliadas confiáveis, agora se tornam traidoras, alimentando a narrativa do absurdo que sugere que a mudança é uma ameaça ao próprio tecido da identidade.
Contudo, dentro do absurdo, há um convite à autoexploração. Ao confrontar os medos e desafiar a resistência interna, a mente se depara com uma oportunidade rara de se conhecer antes mesmo de dar o primeiro passo físico. A peregrinação, além de ser uma jornada geográfica, torna-se uma jornada psicológica na qual a mente é forçada a se despir de suas couraças e encarar a vulnerabilidade inerente à condição humana.
O paradoxo da mudança e estabilidade
Neste ponto do percurso, surge o intrigante paradoxo da mudança e estabilidade. A mente, tão avessa ao desconhecido, descobre que é na mudança que muitas vezes encontramos uma forma mais profunda de estabilidade. A busca por um equilíbrio mais autêntico requer uma dança ousada com o absurdo, desafiando as narrativas preconcebidas e abrindo espaço para a reinvenção pessoal.
Ao explorar o absurdo da mente diante de uma mudança radical, descobrimos que é nas barreiras psicológicas que reside a verdadeira fronteira a ser cruzada. A peregrinação, mais do que uma jornada física, é uma jornada interna que desafia os alicerces do conhecido. É no confronto corajoso com o absurdo que a mente encontra sua força mais autêntica, desdobrando-se para abraçar o desconhecido com uma curiosidade renovada.
Neste artigo, focamos na oportunidade gigante de olhar para onde resisto, o que acontece quando só resta se render, soltar, confiar. Na busca do autoconhecimento, estou sempre cuidando de ser íntegra. Meus clientes, alunos merecem meu maior respeito e cuidado, porém este deve ser espelhado. Me pergunto sempre, qual o sentido de continuar fazendo o que faço? Escutar é cuidar, crescer, expandir é o caminho, estagnar cria dor.
Não tenham medo da sua natureza, converse com a sombra, tenha intimidade com a resistência, arrisque voos mais longos. Contarei mais da Índia no próximo artigo.
Nesta exploração intrépida, encontramo-nos diante de uma oportunidade colossal de confrontar nossas próprias resistências. Às vezes, a única opção que resta é render-se, soltar as amarras do conhecido e confiar no desconhecido. Este é o terreno fértil onde floresce o verdadeiro autoconhecimento, uma jornada que se desenrola na busca pela integridade e significado.
Na dança da existência, há momentos em que a única saída é a rendição. Soltar as rédeas do controle pode parecer assustador, mas é nesse ato de abandono que encontramos uma liberdade que transcende as barreiras autoimpostas. A rendição é a porta de entrada para uma transformação profunda, um convite para confiar no fluxo da vida.
Ao explorar a jornada do autoconhecimento, a integridade é a bússola que nos guia. Cuidar daqueles que confiam em nós, sejam clientes ou alunos, é uma responsabilidade sagrada. Essa integridade, no entanto, precisa ser refletida em nosso próprio cuidado interno. É na busca constante por congruência que descobrimos o verdadeiro significado de respeito.
Questionar o sentido de nossa jornada é uma reflexão profunda que ecoa em muitos corações. No cuidado, na escuta atenta e no crescimento constante, encontramos significado. A busca pelo conhecimento não é apenas uma jornada externa, mas uma exploração interna que dá propósito às ações diárias. Crescer é expandir os limites da compreensão e criar um espaço onde a dor pode coexistir com a criação.
Conversas com a sombra
Meus alunos e clientes conhecem essa ativação, quer fazer?
Prepare seu ambiente, com velas, flores, e uma playlist. Dance com sua sombra, desenvolva intimidade. A sombra, muitas vezes evitada e temida, é uma aliada poderosa na jornada do autoconhecimento. Conversar com a sombra é abrir um diálogo corajoso com os aspectos menos conhecidos de nós mesmos. É na aceitação dessas partes escuras que encontramos a oportunidade de crescer.
Ao se familiarizar com a resistência, abrimos espaço para voos longos e arriscados. É na ousadia de arriscar que descobrimos novas alturas e possibilidades. A resistência, muitas vezes interpretada como um obstáculo, pode se transformar em um trampolim para o crescimento e a expansão.
Refletindo sobre a força interior: onde reside a energia em mim?
Vamos mergulhar na introspecção e explorar a essência da força interior. Onde, em meu corpo, essa energia se concentra? Nas pernas, no plexo solar, ou talvez em algum lugar que ainda não reconheço? Se a resposta não é imediata, convido-me a investigar, buscando onde a vitalidade parece se esvair.
Ao trilhar os caminhos dos santos, uma revelação se fez presente: a força interior se manifesta nos meus próprios pés. Ao pisar em solos sagrados, percebo que a energia flui através desses membros muitas vezes subestimados. Já dancei em vários desses palcos espirituais, e é claro para mim que a verdadeira força reside na minha alma, uma força que nunca cessa de explorar.
Os pés, silenciosos companheiros, revelam-se como condutores dessa energia vital. Ao seguir os passos dos santos, torna-se evidente que a conexão com solos sagrados não é apenas física, mas também espiritual. Meus pés, ao tocar essas terras, tornam-se a ponte entre o terreno concreto e as dimensões espirituais, mostrando-me que a força está enraizada na experiência direta do sagrado.
A dança da alma
Minha alma, a dançarina intrépida, é o epicentro dessa força. Em cada passo, em cada movimento, ela celebra a jornada da vida. A dança nos solos sagrados é mais do que uma expressão física; é uma manifestação vibrante da incessante exploração da alma, uma busca que transcende as fronteiras.
A fé, como uma guia constante, direciona essa exploração incansável. Minha alma persiste em desbravar terrenos sagrados e mitológicos, em uma jornada que se desdobra ao longo do tempo. É uma força que não conhece limites, uma chama interior que ilumina os caminhos menos trilhados da vida.
Nesta reflexão sobre a força interior, convido-me a contemplar como essa exploração tem moldado minha jornada. Como a conexão com solos sagrados influenciou a dança da minha alma? E como a fé, como bússola interior, tem guiado os passos dessa jornada contínua?
Que cada reflexão seja um convite para aprofundar a compreensão da força interior que habita em mim, na dança da alma e na exploração incessante da fé. Que essa jornada interna continue a revelar as maravilhas de uma força que transcende o físico e ressoa nos cantos mais profundos da existência.
Próximo destino: a Índia
O próximo capítulo desta jornada nos levará à Índia, uma terra de contrastes e riquezas espirituais. Exploraremos como essa peregrinação transformadora amplifica os temas aqui discutidos. A Índia, com sua magia e desafios, será o palco para novas descobertas e reflexões.
No entrelaçar dessas palavras, convido você a abraçar a rendição, a conversar com sua sombra e a arriscar voos longos. Pois é nesses momentos de coragem que encontramos a verdadeira essência da vida e da jornada interior. Até o próximo capítulo, onde continuaremos a desbravar os territórios da mente e do espírito na busca incessante pela verdade e expansão.
Sometimes letting things go is an act of far greater power than defending or hanging on.
[Às vezes, deixar as coisas passarem é um ato de muito maior poder do que defender ou aguentar.]
The intensity of the pain depends on the degree of resistance to the present moment.
[A intensidade da dor depende do grau de resistência ao momento presente.]
(Eckhart Tolle)