Vivemos o início da era digital, onde a Internet, os dados e a comunicação instantânea se tornaram uma parte integrante de nossas vidas. Não é mais possível separar completamente o mundo online do offline, estão cada vez mais entrelaçados. A Internet deixou de ser apenas um espaço virtual para se tornar uma extensão do nosso cotidiano, enfim. É por meio dela que pessoas realizam diversas atividades: trabalham, estudam, fazem compras, socializam — muito mais do que apenas buscar informações e entretenimento, principais atrativos que popularizaram a ferramenta há alguns anos.
Ainda, diversas outras atividades migraram para o ambiente online, até mesmo nossa saúde, sendo monitorada por meio de dispositivos conectados à internet das coisas (a IoT). A educação foi modificada pelo acesso à informação instantânea disponível na Web — buscadores e modelos de linguagem avançados oferecem respostas rápidas para as dúvidas mais inusitadas — assim como também ocorreu o acesso remoto às salas via Learning Management Systems LMSs na indústria e os Massive Open-Online Courses MOOCs na ambiente acadêmico.
Diante do cenário apresentado, convido você a refletir mais sobre essas interações online e reconhecer a importância de agir com ética e responsabilidade, independente do ambiente que esteja, real ou virtual. Devemos ter a ciência de que as ações na Internet estão cada vez mais influenciando todos os aspectos da nossa vida, não apenas no modo online. Por isso, é crucial considerar a Internet como um espaço onde melhores valores éticos e morais devem ser aplicados.
Ao praticarmos esse ponto de vista, poderemos criar uma sociedade inteira mais saudável, benéfica para todos. Continue a leitura para entender melhor as complexidades entre os dois universos.
Online in real life
A expressão in real life (IRL - na vida real) é comumente utilizada para distinguir as interações virtuais das interações presenciais. Ela surgiu como uma forma de destacar que os encontros e relacionamentos estabelecidos no ambiente online podem ser diferentes (ou até mesmo dissociados) das experiências offline. Mas será que essa separação realmente existe, atualmente?
Ao buscar referências no imaginário coletivo e nas perspectivas do senso comum, a Internet é frequentemente retratada como um lugar distinto do mundo real, uma dimensão paralela, onde as regras da sociedade não se aplicam, ao menos não plenamente. Tal visão dualista coloca a Web em um ambiente separado e além das fronteiras da realidade.
No entanto, essa concepção está um pouco longe de refletir a verdadeira natureza da relação entre Internet e a sociedade da maneira como ela está se transformando, hoje: estamos falando de duas partes intrinsecamente conectadas e interdependentes que compõem o mesmo universo e conjecturas sociais. Assim, reconhecer a importância do mundo online como uma parte da realidade moderna é mais do que necessário.
Quando o espaço à parte pode representar perigo
Ao considerarmos a Internet à parte da nossa realidade, corremos o risco de subestimar, nela, seu impacto. A Internet não é mais apenas uma ferramenta para buscar informações ou trocar mensagens, transformando-se em um ambiente multifacetado.
Ao contrário, as atividades realizadas na Internet não são isoladas nem desconectadas das nossas vidas offline. É, na realidade, um espaço onde as pessoas vivem, trabalham, se conectam e interagem diariamente por meio da comunicação. Ela influencia nossas percepções de mundo, molda nossas identidades e até mesmo afeta nossa saúde mental. Portanto, ignorar ou minimizar a relevância desse novo modus operandi como algo isolado da nossa realidade pode ser um equívoco.
Um dos aspectos a ser considerado nesse contexto é como as interações online estão se tornando cada vez mais integradas às nossas vidas. Antigamente, até era comum separar o tempo gasto na Internet do tempo “real”, mas essa divisão está se tornando cada vez menos clara. Agora, são inúmeras as muitas atividades sociais realizadas de forma online — o que foi extremamente evidenciado durante a pandemia da COVID-19.
Indo mais além, a maneira como nos relacionamos com outras pessoas também vem mudando significativamente nas últimas gerações. Redes sociais e outras ferramentas proporcionaram uma nova forma de conexão e comunicação, permitindo relacionamentos virtuais que podem ser tão ou mais significativos quanto os presenciais, e em quase qualquer esfera. É possível conhecer pessoas de diferentes partes do mundo, compartilhar experiências e interesses em grupos online específicos e encontrar apoio em comunidades virtuais. Em muitas das vezes, encontrar tais apoios e inspirações seria impossível sem o uso da ferramenta Internet.
Mas não se deixe levar apenas pelo lado positivo dessas inovações, pois também não podemos deixar de reconhecer que nem todas as interações online são positivas ou saudáveis.
A exposição constante às redes sociais pode levar ao isolamento emocional real ou à dependência virtual prejudicialmente. Assim como o anonimato proporcionado pela Internet pode incentivar comportamentos agressivos ou tóxicos nas interações online. O compartilhamento de informações pessoais, a disseminação de notícias falsas e a invasão da privacidade são apenas alguns exemplos das questões complexas que enfrentamos na era digital.
Por isso, faz-se fundamental estarmos atentos à forma como a utilizamos e ao impacto que ela tem em nossas vidas e entender que problemas também existem no mundo sem a Internet — não é apenas a sua conexão que faz da sua vida um inferno.
As consequências das nossas ações online já são palpáveis no “mundo real”, precisamos nos atualizar como sociedade.
Ações realizadas pela Internet, como o cyberbullying, pode levar a danos psicológicos graves ou até mesmo ao suicídio; notícias falsas disseminadas podem influenciar eleições e moldar opiniões públicas; o compartilhamento imprudente de informações pessoais pode resultar em roubo de identidade e fraudes.
Esses exemplos apenas ilustram como nossa conduta na Internet pode ter impactos profundos fora dela. Reconhecendo a interconexão entre o mundo online e o mundo offline, podemos chegar a algumas implicações importantes, como desenvolver novas formas de ética e responsabilidade para o ambiente online. Incluindo o desenvolvimento de leis e de regulamentos que protejam os usuários, a educação sobre o uso seguro da Internet e a promoção de comportamentos positivos nos ambientes compartilhados são tarefas que devem ser adotadas pelas bases das educação.
Em suma, a Internet não é só mais um espaço separado do mundo físico; ela se tornou uma extensão de nossas vidas cotidianas. O que fazemos online tem implicações reais e tangíveis em nosso mundo offline, seja no trabalho, na educação ou nas interações sociais. Portanto, precisamos reconhecer essa realidade e agir com ética e responsabilidade ao navegar neste espaço digital.
Afinal, as fronteiras entre o virtual e o real estão cada vez mais tênues — a vida acontece tanto aqui como lá, independente de onde sejam usados os advérbios. Ao compreendermos as complexidades envolvidas nessas questões, podemos começar a moldar uma Internet que reflita os melhores aspectos da nossa humanidade: respeito, compreensão e cooperação para um mundo melhor para todos e tudo que nele habita.