Recentemente temos vindo a ser presenteados com toda uma novelização em torno da Inteligência Artificial (IA). Uns apontam-na como sendo uma ferramenta auxiliar, como toda e qualquer criação do homem; outros apontam-na como uma mera curiosidade, e depois temos o lado mais extremo da equação em que a IA é vista como o fim da humanidade como a conhecemos.
Vamos por partes. Um dos exemplos com maior mediatismo é o Midjourney, onde vários foram os utilizadores que testaram o seu potencial para produzir vários tipos de imagens através de palavras-chave e frases. A facilidade e rapidez de todo o processo levou a que a procura crescesse rapidamente, tal como os primeiros problemas. Não tardou para que vários artistas encontrassem os seus estilos retratados em peças criadas por IA, seguindo a revelação de que, de forma resumida, estas ferramentas estavam a copiar criações de artistas humanos sem autorização.
Às imagens junta-se o texto. Veio também a público que a Amazon tem à venda mais de duzentos livros escritos em autoria ou coautoria por IA, desta vez com uma ferramenta chamada ChatGPT. Nesta mesma nota, vários professores universitários têm apontado que alunos têm usado este mesmo ChatGPT para a realização dos seus trabalhos académicos, independentemente do seu grau de complexidade.
A nível de domínio científico, a Crime&Lógica apresentou no passado dia 31 de Março três modelos de IA especializados em áreas como a Criminologia, Ciências Forenses e Psicologia (entre outras). Pretende-se que sejam uma ferramenta de apoio tanto a alunos como a profissionais nas mais variadas áreas .
Com base nestes exemplos, é inegável que a IA é algo que veio para ficar e com o qual vamos ter que aprender a lidar, pelo que se torna importante, nesse processo de aprendizagem, delimitar regras. Já se estabeleceu o consenso de que é urgente regulamentar o uso da IA. Tal é essencial para garantir que não haja apropriações de propriedade intelectual nem profissionais a perder os seus empregos em prol de uma ferramenta que, aos olhos de muitos, pode ser encarada como mais rápida, eficiente e barata.
Na sua génese, esta questão da IA é apenas a ponta do icebergue. Vivemos tempos de corrida contra o tempo. As nossas prioridades prendem-se essencialmente ao trabalho e às despesas (que andam de mãos dadas) e o nosso foco dissipa-se nos momentos de pausa. Procuramos soluções rápidas para problemas complexos em prol do nosso conforto e sossego. Atendendo a isto, a IA surge com um aliado que poderá rapidamente abusar da sua hospitalidade. Se procuramos o facilitismo, recorrendo a IA para fazer o nosso trabalho por nós, o que sobrará?
Há que resistir à tentação de fazer piadas fáceis em torno das várias obras de ficção científica em que a IA conquista o mundo e escraviza a humanidade. Contudo, é inegável que a realidade e a ficção se inspiram mutuamente. Posto isto, há toda uma série de questões a colocar: depois das imagens, dos textos e dos vários domínios de conhecimento, o que virá a seguir? Conseguirá a IA aprender o que tem a aprender e tornar-se autossuficiente? Independentemente das respostas e do que se avizinha num futuro (quiçá próximo), haverá a certeza de que, desde o início, tivemos a opção de fazer algo.