O conto é um gênero narrativo presente em diversas culturas cujas origens se perdem no tempo, por isso é praticamente impossível se escrever uma história do conto. Sabe-se que suas primeiras manifestações se deram na forma oral. Pessoas se reuniam em torno de uma fogueira e alguém narrava histórias que encantavam a todos. A autoria dessas narrativas transmitidas de geração em geração era desconhecida. Não se pode falar que essas primeiras manifestações do conto tivessem um narrador como conhecemos hoje. Aquele que contava o conto não era seu autor, sequer organizava a narrativa. Ele apenas era um intérprete do texto.
Estudos recentes desenvolvidos pelo antropólogo Jamie Tehrani, da Universidade de Durham, que trabalhou com a pesquisadora de folclore Sara Graça da Silva, da Universidade Nova de Lisboa, publicados na revista científica Royal Society Open Science, afirmam que alguns contos populares remontam à pré-história e não aos séculos 16 e 17, como se acreditava. Segundo a pesquisa, a origem do conto João e o pé de feijão remonta há mais de 5 mil anos. Os contos A bela e a fera e O anão saltador têm cerca de 4 mil anos de idade.
Esse ancestral do conto moderno tinha suas raízes na cultura popular e veiculava temas ligados a essa cultura. Do ponto de vista de sua estrutura, eram narrativas bem simples, centradas num único episódio, com uma sequência temporal, em que os acontecimentos sucediam na linha do tempo. Muitas delas apresentavam o elemento maravilhoso, integrado normalmente na narrativa.
Sabemos da existência desses contos, porque muitos deles foram posteriormente copilados para a forma escrita. Essas narrativas, agora na forma escrita, continuaram a ser passadas de geração em geração e chegaram a povos diferentes. Mesmo escritas, não perderam seu caráter de oralidade, já que muitos povos, em diversas culturas, têm o hábito de contar histórias, sobretudo para crianças que ainda não foram alfabetizadas.
Algumas dessas narrativas são bem conhecidas, na forma tradicional, ou em adaptações feitas especialmente para crianças. As histórias do Livro das mil e uma noites é um bom exemplo de contos que se perdem no tempo. Simbad, o navegante, Ali Babá e os quarenta ladrões e Aladim e a lâmpada mágica são exemplos de narrativas que circulam em diferentes culturas e em semióticas diversas, animações, filmes, novelas gráficas, etc.
Na Idade Média, aparece o Decameron, de Giovanni Boccaccio, cujas histórias foram escritas entre 1349 e 1351 (ou 1353), logo após a peste negra que assolou a Europa. Trata-se de uma obra de qualidades artísticas inegáveis, com uma estrutura bem mais complexa do que as narrativas toscanas da tradição oral. Em 1386, surgem na Inglaterra os Contos de Canterbury, de Geoffrey Chaucer, cuja estrutura é inspirada no Decameron, de Boccaccio. Em 1613, aparece na Espanha o livro Novelas exemplares, de Miguel de Cervantes. Nele, o autor de Dom Quixote apresenta histórias sobre temas diversos.
Na história do conto, Charles Perrault (1628 – 1703), considerado o pai da literatura infantil, ocupa lugar de destaque, por ter dado tratamento literário a um gênero de grande aceitação, o conto de fadas. Entre os contos mais conhecidos desse gênero estão Chapeuzinho vermelho, A bela adormecida, O pequeno polegar, O gato de botas.
O que chamamos hoje de conto moderno surge no século XIX com o norte-americano Edgar Allan Poe (1809 – 1949), um grande contista e teórico do conto. Pode-se afirmar que foi Poe quem criou o conto policial com Os mistérios da rua Morgue. O século XIX vê surgirem ainda dois dos maiores contistas da literatura ocidental, o russo Anton Tchekhov (1860 – 1904) e o francês Guy de Maupassant (1850 – 1893). Esses dois autores serão considerados modelos para os contistas que vêm depois deles. De certa forma, a produção do conto clássico ou se prende a Maupassant ou a Tchekhov. Isso significa que qualquer pessoa que queira conhecer um pouco mais profundamente esse gênero obrigatoriamente terá de ler contos desses dois autores.
Tchekhov é um mestre do conto cuja matéria é um incidente do cotidiano. Acontecimentos banais, na mão de Tchekhov, se transformam. No conto Pamonha, por exemplo, uma simples cena de um patrão acertando as contas com a governanta de seus filhos transforma-se num conto que traz à tona o tema da exploração e da humilhação do pobre pelo rico.
Os contos de Maupassant trazem um viés de crítica social e abordagem psicológica. Bola de sebo é um conto magistral que nos mostra como, em decorrência da situação, uma pessoa pode ser vista como boa ou má. A personagem que dá título ao conto é uma prostituta que viaja durante a guerra da França com a Prússia em uma carruagem acompanhada por pessoas “de bem”, representantes de diversas classes sociais e que desprezam e marginalizam a prostituta, mas uma mudança dos acontecimentos faz com que passam a depender dela, o que altera o modo de agir em relação a ela.
Para os brasileiros, o século XIX também é o século da consolidação do conto literário com a publicação das obras do nosso maior contista, Machado de Assis. Seus contos não deixam nada a dever a seus romances, sendo muitos deles verdadeiras obras-primas como O espelho, A cartomante, O enfermeiro e A causa secreta.
O século XX é aquele em que mais uma vez se vê uma mudança no gênero. O conto passa a incorporar o elemento fantástico, há uma ruptura no modo tradicional de narrar e o psicológico passa a se sobrepor sobre o cronológico. Sem dúvida, Franz Kafka (1883 – 1924) é um dos maiores representantes do que se pode chamar de conto moderno e serviu de influência para muitos outros contistas do século XX e XXI. No Brasil, há que se destacar ainda a importância de Guimarães Rosa pela riqueza temática e pela forma com que rompe com uma linguagem tradicional.