Em fevereiro de 2011, um professor de Matemática com quatro graduações e três filhos formados, de uma escola de Ensino Médio de um bairro do subúrbio de Santos, interior de São Paulo, fora reprimido por passar seis exercícios para seus alunos, sendo três deles logo abaixo:
Zaroio tem um fuzil AK-47 com um carregador de 80 balas. Em cada rajada ele gasta 13 balas. Quantas rajadas ele poderá disparar?
Rojão é cafetão na praça Maua e tem 3 prostitutas que trabalham pra ele. Cada uma cobra R$35,00 dos quais R$20,00 são repassados a Rojão. Quantos clientes terá que atender cada prostituta para que possam comprar uma pedra de crack de R$150,00?
Chaveta recebe R$500,00 por cada BMW roubada, R$125,00 por carro japonês e R$250,00 por 4x4. Como já puxou 2 BMW e 3 4x4, quantos carros japoneses terá que roubar para completar R$2.000,00?
Eu não tive a oportunidade de conhecer este professor pessoalmente, tampouco acompanhar o sensacionalismo barato feito pela mídia. Entretanto, qualquer agente da educação que tenha uma linha de ensino mais alternativa, mais evoluída e mais moderna, sabe que o professor agiu como foi treinado, e fez o que aprendeu nos livros e no seu curso de graduação. E neste caso, analisando a situação do ponto de vista teórico e legal, o professor estava com a razão.
O professor fez o que aprendeu na faculdade. Porque na faculdade nós aprendemos a adaptar o conteúdo para realidade dos alunos. Na faculdade ninguém nos ensina o que fazer quando os alunos não se interessam pela aula, ou como transformar um conteúdo arcaico em algo fascinante. Isso não é ensinado nas disciplinas de Didática atualmente.
O que é ensinado nas disciplinas de Didática é que devemos chamar a atenção do aluno da maneira mais criativa possível. Quebrar os velhos paradigmas. Mudar. Inovar. E principalmente, segundo Paulo Freire, adaptar o conteúdo para realidade deles. E foi exatamente isso que o professor fez. Sendo ele um professor de matemática no meio de um bairro cercado por traficantes e com um elevado índice de criminalidade, na ingênua tentativa de chamar a atenção de seus alunos para sua arcaica aula de matemática, o professor adaptou o conteúdo. Certamente sendo louvado pelos alunos no momento do exercício, entretanto, depois sendo reprimido pelos pais, pela mídia e pela Secretaria de Educação do seu estado, que enxergam somente a ponta deste imenso iceberg que é a Educação.
Na França, enquanto a educação sexual é matéria escolar desde a quarta série, no Brasil ainda permanece um tabu. Principalmente nas cidades do interior do país e em áreas de comunidades religiosas. As escolas ainda resistem em trabalhar a sexualidade por pressão dos pais e líderes locais. E o resultado disso são garotas menores de 14 anos gravidas e sem a menor perspectiva de um futuro melhor.
Pois, como podemos evoluir a educação no Brasil, atualmente detentor do título de segunda pior educação no mundo de 40 países avaliados pelo ranking da ONU, se nossos métodos ainda são os mesmos de 200 anos atrás? As disciplinas ainda são as mesmas, o formato do espelho escolar, o quadro negro, provas teóricas que na maioria das vezes avaliam somente dois ou três tipos de inteligência das nove conhecidas segundo Howard Gardner, professor e psicólogo da Universidade de Harvard. Como?
Como você pega algo extremamente arcaico e transforma em algo moderno de acordo com as atuais necessidades da sociedade atual?
Uma coisa é certa: no Brasil não existe sinais de que a educação irá mudar. Pois ela é a mesma desde a Idade das Trevas, e assim permanecerá. No Brasil, as pessoas não desejam se tornar melhores a cada dia. Não. Tudo que elas desejam é apenas assegurar a sua sobrevivência, não importa se esta seja de joelhos.