Yto Barrada (Paris, 1971) é uma artista franco-marroquina que tem desenvolvido uma obra fortemente marcada pelas narrativas da história e das identidades, sobretudo a marroquina, na sua relação com o passado colonial e pós-colonial, uma geografia onde convergem o Sul e o Este, na sua relação com o Ocidente.
A artista traz ao Espaço Projeto um conjunto de trabalhos, alguns inéditos, que explora e prossegue o seu interesse pela figura histórica, singular e «trágica» da etnóloga francesa Thérèse Rivière (Paris, 1901-1970).
Entre 1935 e 1936, Rivière parte para a Argélia para estudar a etnia berbere Chaouias, na região dos Aurès. Os cadernos de anotações, desenhos e fotografias que produz, bem como a coleção de materiais e objetos que reúne, que se centram no quotidiano das mulheres e crianças, serão esquecidos, «apagados».
São estas narrativas e objetos «silenciados» que Yto Barrada resgata – que engole e regurgita –, num gesto de identificação e resistência contra a despossessão da palavra (da língua), seja ela a do sujeito colonizado ou a fundada na desigualdade de género, que podemos ver na obra Objets indociles (em cima).
A esta trama da História, Yto entrelaça narrativas familiares, as da sua própria família, numa ida e volta constante entre a história e as memórias individuais, como nas fotografias dos cadernos de anotação da avó (Telephone Books, em baixo) que, não escolarizada, criou uma linguagem de signos gráficos para identificar e registar os contactos dos seus familiares.
Yto Barrada vive e trabalha em Nova Iorque. Foi cofundadora da Cinemateca de Tanger. Expõe regularmente desde 2003 em museus e instituições internacionais como o Walker Art Center (Minneapolis), o Barbican Centre (Londres), o Witte de With (Roterdão), Fundaciò Tàpies (Barcelona), o Jeu de Paume e o Centre Georges Pompidou (Paris), o Haus der Kunst (Munique), o MoMA (São Francisco e Nova Iorque), e a Bienal de Veneza (2007 e 2011).