Em sua sétima exposição individual na Vermelho, Marcelo Cidade apresenta dois conjuntos de trabalhos inéditos que propõem uma reflexão sobre a violência implícita em projetos arquitetônicos e urbanistas. São obras que partem do conceito “Arquitetura hostil”.
O termo ‘Arquitetura hostil’ foi cunhado por Ben Quinn, em reportagem de 2014 no jornal britânico The Guardian. O texto “Anti-homeless spikes are part of a wider phenomenon of ‘hostile Architecture’” (Os espetos anti-desvalidos são parte de um fenômeno mais amplo de ‘arquitetura hostil’") disserta sobre como novos recursos de design influenciam o uso dos centros urbanos, em uma tentativa de excluir a população pobre, promovendo uma ocupação higienista das cidades.
Na obra ‘Escala disciplinar’, 2019, Marcelo Cidade utiliza os espetos anti-desvalidos como parte de uma pesquisa tipológica sobre os métodos da ‘Arquitetura hostil’. Partindo da estatura média do brasileiro, Cidade organiza uma coleção desses dispositivos com referência aos tradicionais cortes (ou vistas) apresentados em projetos arquitetônicos: vista frontal, vista lateral e detalhe. Ao unir a linguagem de projeto à escala humana, Cidade devolve ao humano a disfunção ocasionada por dispositivos da ‘Arquitetura hostil’.
“Tenho percebido o uso desses elementos em diversas cidades, e me intriga cada vez mais essa dualidade entre função e disfunção no proposito principal da arquitetura, gerando a exclusão do corpo humano em relação ao espaço dito público,” afirma o artista sobre a série.
Marcelo Cidade colecionou os pedaços de canos ferrosos da substituição da prumada do prédio onde mora e os apresenta agora em ‘Refluxo estrutural’, 2019, em um exercício comparativo com os teoricamente mais avançados canos de pvc. Sobre uma estrutura de blocos de concreto, Cidade contrapõe os dois materiais aparentemente mal-ajambrados.
Um olhar atento, no entanto, percebe os trincos feitos pelas marretas nos canos de ferro cuidadosamente reproduzidos nos canos de pvc. É esse gesto, que recorre a uma série de procedimentos tradicionais das artes, como a frottage (usada para transferir as marcas do ferro ao pvc) e ao entalhe (utilizado na reprodução em si), que chama a atenção ao paralelismo proposto pela obra.
A mostra Dívidas, divisores e dividendos é um contraponto a sua mais individual anterior na Vermelho, a ‘Nulo ou em branco’, 2016, quando um dos seus principais temas de pesquisa era a ‘Arquitetura social’ - aquela comprometida com a vida humana, que visa uma conexão maior com a realidade de cada um e com o espaço em que se vive.
Marcelo Cidade nasceu em São Paulo, em 1979. Vive e trabalha em São Paulo. Cidade já teve seu trabalho exposto em instituições e exposições internacionais como Fundação Serralves (Porto, Portugal, 2018), Palais de Tokyo (Paris, França, 2018), Museum of Contemporary Art Detroit [MOCAD] (Detrit, EUA, 2017), Museu de Arte de São Paulo [MASP] (São Paulo, Brasil, 2017), Museum Beelden aan Zee (Den Haag, Holanda, 2016), Bronx Museum (Nova York, EUA, 2015), Wexner Center for the Arts (Columbus, EUA, 2014), 8ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, Brasil, 2011), Trienal de Arquitectura de Lisboa (Lisboa, Portugal, 2010), XIV International Sculpture Biennale of Carrara (Carrara, Itália, 2010) e 27° Bienal de São Paulo (São Paulo, Brasil, 2006).
Sua obra está presente em importantes coleções como Phoenix Art Museum (EUA), Fundação Serralves (Portugal), Tate Modern (UK) Kadist Art Foundation (França), Museo Tamayo Arte Contemporaneo (México) e Bronx Museum (EUA).