Nos últimos 60 dias tivemos no estado do Rio de Janeiro vazamento de óleo no rio Estrela, mortandade de 90 toneladas de peixes na principal lagoa da cidade maravilhosa, mais uma catástrofe associada com a mineração no estado de Minas Gerais, três anos e um mês após a catástrofe ocorrida no rio Doce gerada pela mesma empresa, e finalmente mais uma mortandade de peixes em outra lagoa da cidade do Rio de Janeiro, esta última representando praticamente nada em comparação com a capacidade destrutiva apresentada pelos demais acontecimentos.
Atuando na área ambiental desde 1988, venho assistindo a todo tipo de delinquência ambiental governamental e privada onde geralmente a primeira cobre a segunda e vice-versa.
Muito normal por aqui, diante dos fatos de completa irresponsabilidade das empresas e do poder público, colocar a culpa de inúmeras tragédias na principal vítima, isto é, a Natureza. A mesma Natureza que fornece uma das melhores condições climáticas e de solo do planeta "onde se plantando, tudo dá".
Apesar das dimensões geográficas bíblicas das tragédias sócio-ambientais, nada, absolutamente nada tem modificado a forma do poder público e de suas castas muito bem remuneradas, no legislativo, executivo e judiciário, em atuar efetivamente pelo bem da sociedade e do meio ambiente.
Dezenas de leis, se acumulam empoeiradas, sem qualquer efeito prático no sentido de evitar tragédias anunciadas, seja no mar, na terra ou no ar. Simplesmente no Brasil, continuamos pensando e agindo como os exploradores europeus onde o que interessa é faturar o máximo possível no menor tempo. Tem sido assim desde os anos de 1500.
Nada e sem vergonha são os vocábulos que melhor exprimem as consequências práticas contra os degradadores e a realidade do poder público brasileiro até janeiro de 2019.
Nada aconteceu com os delinquentes que aterravam manguezais na Baía de Ilha Grande visando a instalação de marinas e loteamentos. Nada!
Nada aconteceu com os responsáveis pelo vazamento de óleo em 1997 e 2000 na Baía de Guanabara. Nada!
Nada aconteceu com os responsáveis pelas dezenas de mortandades com centenas de toneladas de peixes que ocorrem frequentemente nas lagoas costeiras metropolitanas do Estado do Rio de Janeiro. Nada!
Nada aconteceu com os responsáveis pela não execução dos legados ambientais dos jogos Pan Americanos e tão pouco dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. Nada!
Nada aconteceu com os responsáveis pelo rompimento da barragem de Mariana. Nada!
E tudo me leva a crer por esse breve histórico bem resumido, que nada irá acontecer também dessa vez quando mais de trezentas pessoas perderam a vida, além dos danos ambientais, ainda incalculáveis.
Agora nesse momento inicial de comoção nacional, onde a imprensa está cobrindo diariamente a tragédia, quem tem mostrado nenhuma eficiência em combater a delinquência ambiental vip dentro e fora do poder público irá fazer aquele famoso show pirotécnico, de arresto de bens da empresa, multas bilionárias, etc, etc, etc. Agora eu quero ver é quando os mortos encontrados forem enterrados decentemente e novas tragédias ocorrerem, fato normal por aqui, eu estarei acompanhando o que de fato irá acontecer com os responsáveis diretos, visto que o histórico do rompimento da barragem em Mariana é o pior possível, onde claramente o interesse da sociedade não representa nada, diante dos interesses econômicos e políticos envolvidos nessas situações.
Mas reitero que não há absolutamente nada de novo, nessa situação. Nada, num país do século XXI que ainda pensa e age como colônia de exploração do século XVIII.
No entanto devo destacar outro elemento fundamental para que esse circo de horrores ambiental continue, independente do viés ideológico que esteja sob o comando. A passividade da sociedade diante dos desmandos públicos é notório e já ultrapassou todos os limites da resiliência patológica.
No Brasil, aceitamos Tudo sem fazer Nada, diante da criminalidade governamental e privada. Aceitamos candidamente, pagar uma das maiores cargas tributárias para sustentar serviços de qualidade para lá de duvidosa além da boa vida das castas públicas que deitam e rolam em seus direitos adquiridos.
Não há muito o que acrescentar, a não ser lamentar que um lugar de tamanho potencial ambiental, seja tratado como lixo por "gente", por sociopatas que têm apenas compromisso consigo mesmo ou com as quadrilhas, corporações público e privadas que usam exclusivamente esse lugar para obter vantagens em detrimento da degradação ambiental e humana.
País que perdeu a vergonha, faz tempo!
Observação - segundo especialistas de mercado, a empresa responsável por mais essa tragédia bíblica em Minas Gerais, em virtude da lógica amoral que rege as leis de oferta e procura de matérias primas, deverá ter um lucro de aproximadamente um bilhão de dólares. Ou seja, além de arrasar o ambiente e centenas de vidas humanas, ainda saiu lucrando em sua atividade.