Dando continuidade na série de cinco artigos sobre o tema rave e cultura trance, neste eu irei explicar a diferença entre rave, festas de música eletrônica e festivais de música eletrônica. Um tema deturpado que ainda é muito confundido pela sociedade, inclusive por membros adeptos e simpatizantes a cultura eletrônica. Mas primeiro, vamos começar pelo inicio, explicando como surgiu o termo rave.
A palavra rave tem muitos significados, porém o termo nasceu a partir da definição por “frenesi”, devido ao transe provocado pelas batidas ritmadas e constantes. Nada mais do que a evolução dos antigos rituais pagãos. Tema do próximo artigo que será publicado no próximo mês.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam (e quando digo muitas me refiro a 99,9% das pessoas) a rave não é uma festa, tampouco um festival. Rave é um estilo de vida. Uma filosofia. Uma ideologia. É você tratar o próximo como gostaria de ser tratado. É você não fazer para os outros o que não gostaria que fizessem pra você. É compreender que podemos não apreciar a forma como muitos conduzem suas vidas, porém devemos respeitar a natureza e as escolhas de cada um. E saber que apesar das diferenças devemos todos conviver em harmonia no planeta e com o planeta.
A consequência disso é a celebração. Quando os raver’s celebram a “vida” ou a “existência”, existe música trance, lasers, roupas coloridas, água, chicletes e muito amor. E devido a esta celebração as pessoas acabaram confundindo as coisas. Elas não entendem que todo raver gosta de música eletrônica, porém nem toda festa que tem música eletrônica é uma rave. E a partir daí começa a deturpação da ideia através da proliferação da informação equivocada.
As festas de música eletrônica como o próprio nome já diz são as festas realizadas em clubes noturnos ou em sítios privados. É cobrado um valor para ingresso assim como um valor para estacionamento. E existe bebida alcóolica para venda. Muita gente bem arrumada, e os estilos de eletrônica que rola durante a noite são apenas um ou dois. Geralmente electro house, estilo mais popular e também mais comercial neste início de século.
Os festivais de música eletrônica são os grandes eventos. Os ingressos custam valores absurdos. As bebidas e comidas são vendidas a preço de ouro. Os djs são os mais badalados e comerciais do momento. Tem gente. Muita gente. Em alguns casos os festivais chegam a durar dias para que as pessoas possam acampar no local. Sempre realizado em grandes fazendas, parques ou locais no meio da natureza.
Em ambos eventos existe uma gama de seguranças responsáveis por manter a ordem. Porque apesar de muitos raver’s frequentarem os grandes festivais, nem todo mundo que está lá dentro é um raver. E ás vezes as pessoas acabam perdendo o controle, ainda mais sob o efeito do álcool.
Na verdadeira celebração, na verdadeira rave, não precisamos de segurança, porque somos uma única família dançando juntos sob o mesmo céu. Não cobramos ingresso, apenas um valor simbólico para colaborar com os custos da produção, porque afinal, a festa é pra nós. As bebidas são vendidas a preço do mercado. Não consumimos álcool porque sabemos que nosso corpo é feito de água e não de cerveja, vodca ou uísque. E as roupas são as mais coloridas possíveis, porque a cor determina a frequência que a alma vibra.
Sempre realizado em locais abandonados ou no meio da natureza, com geradores de energia a gasolina. Sempre entre cinco a dez estilos de eletrônica diferentes, para todos os gostos serem satisfeitos. Jungle, Acid Techno, Uplifiting Trance, Deep House, Psy-Prog, entre tantos outros estilos que são admirados por quem realmente compreende e aprecia música eletrônica. E os dj’s? Bom, para quem entende a definição de underground music sabe que a verdadeira rave é o melhor lugar para se encontrar. Como demonstrado no filme Groove (em português Festa Rave) produzido por Greg Harrison em 2000 e filmado na cidade de San Francisco na Califórnia. Na minha opinião o melhor filme já feito sobre as raves e sua verdadeira essência.
Espero ter sido claro neste artigo, contribuindo para a extinção desta ideia deturpada sobre as ditas festas raves. Nunca cometa o crime social de confundir raver’s como eu com as pessoas que frequentam as festas ou festivais. Nossas ideologias e preferencias são totalmente diferentes. E por favor, tampouco confunda estes eventos com nosso ritual de celebração. Porque em nosso universo isto é uma tremenda de uma ofensa. No artigo do próximo mês vamos abordar como antigos rituais de celebração a vida e a existência evoluíram através dos milênios até chegarem no que hoje são as raves.