A Fortes D’Aloia & Gabriel recebe em sua Galeria Instâncias do Olhar, a nova exposição de Efrain Almeida. Personagens recorrentes na prática do artista ressurgem aqui através de esculturas de madeira e bronze, aquarelas e bordados. Repletas de simbolismos e elementos biográficos, as obras parecem formar uma fábula pessoal suspensa no tempo.
Efrain Almeida retoma temas e figuras do seu repertório para ressignificá-los sob uma perspectiva circular. O trabalho central da exposição, por exemplo, tem relação direta com sua mostra anterior em São Paulo: em Uma coisa linda (2014), o artista exibiu 150 passarinhos de bronze no Galpão, reencenando o pouso de um bando de galos-de-campina no quintal de sua casa. Na inédita d (2017), no entanto, há apenas um pássaro, caído de costas sobre um tablado de madeira. A imagem evoca liricamente a memória de seu pai que faleceu ano passado. Era dele a exclamação que deu título à obra de 2014, o que dá mais sentido à escolha lacônica para o nome usado em 2017 (uma referência às palavras die e dad). O galo-de-campina, aliás, é uma ave típica do Nordeste e que, assim como fez seu pai em vida, migra do norte ao sul do país.
Ninho do Beija-Flor (2016) contrasta com esse peso ao retratar o instante em que o diminuto pássaro abre os olhos, fazendo seu primeiro contato com o mundo. O conceito da visão como signo mediador entre sujeito e realidade é desenvolvido ainda em outros trabalhos da exposição. As asas da Mariposa (2016) mimetizam os olhos de um predador como mecanismo de defesa. E em Cabeça (Transe) (2017), os olhos da escultura de madeira revelam sua introspecção, em um movimento para dentro de si. Aqui, o interesse de Efrain volta-se ao transe como um estado de interstício – entre imaginário e o real, entre a loucura e a sanidade –, análogo ao próprio ofício do artista.
Em O Outsider (2017), o autorretrato ganha forma através de uma camisa de seda bordada com o rosto do artista. Hanging (2017), também um bordado de seda, é uma paisagem porosa na qual o horizonte sustenta um ninho. Nas esculturas e aquarelas da série Pouso, Efrain retrata beija-flores empoleirados para capturar um instante efêmero de quietude. A paleta reduzida dessas aquarelas evoca o céu de um melancólico fim de tarde, atribuindo à paisagem um estado de espírito.
Efrain Almeida nasceu em Boa Viagem (Ceará, 1964) e vive e trabalha no Rio de Janeiro. Entre suas exposições recentes, destacam-se: Uma pausa em pleno voo, Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2015); Lavadeirinhas, SESC Santo Amaro (São Paulo, 2015); O Sozinho, Casa França-Brasil (Rio de Janeiro, 2013); 29. Bienal de São Paulo (2010); 10. Bienal de Havana (2009); Marcas, Estação Pinacoteca (São Paulo, 2007). Sua obra está presente em diversas coleções públicas e privadas do Brasil e do mundo, entre as quais: MoMA (Nova York), MAM São Paulo, Centro Galego de Arte Contemporânea (Santiago de Compostela, Espanha), Toyota Municipal Museum of Art (Toyota, Japão), Pinacoteca do Estado (São Paulo), entre outras.