Em primeiro lugar queremos clarificar que não se trata de literatura sobre as crianças índigo , mas sim um tipo de literatura que as representa, no que elas, crianças e adultos índigo, possuem de mais característico: uma rebeldia acerca dos medos, tabus e preconceitos sociais, ao mesmo tempo que um entusiasmo pelo diferente, pelo novo, por ideias e mundos imaginários; isto porque se acredita que tudo é possível e que o necessário é possibilitar…
Tal como nos contos de Fadas em que o Génio do Aladino aparece e nos diz que os nossos desejos são ordens! Tal como Alice que segue o coelho e descobre um lindo jardim e aí aprende com os animais e as plantas acerca de si própria e do que é crescer! Tal como Peter Pan nos convida a acreditar em Fadas e na Terra do Nunca; tal como António Gedeão que nos ensina que é o sonho que comanda a vida; tal como Pessoa que disse “ Deus quer, o homem sonha e a obra nasce”; tal como o Principezinho que nos revela que o essencial é invisível aos olhos e que é com o coração que se vê realmente!
A literatura índigo é universal e pede para ser decifrada nos seus múltiplos símbolos e metáforas, conduz ao fenómeno Janela / espelho que a literatura no seu todo favorece; isto é, uma interpretação e avaliação de horizontes diferentes, estranhos e que vão sendo apropriados pelo leitor, o qual entretanto se vai re-interpretando e re-avaliando ao longo da leitura.
A literatura índigo é, neste sentido, uma literatura provocatória , pois convida o leitor a ter em conta outras perspectivas de situações aparentemente comuns ou do quotidiano; porque convida o leitor a desaprender velhos hábitos de olhar sempre da mesma maneira “ aquela festa”; “ aquele sacramento”; “ aquela cidade”; “ aquele parentesco” e por aí fora…
São contos destinados a provocar o leitor relativamente à sua liberdade de sentir; mais do que de pensar. Para os índigos o Sentir é muito importante pois é esse o Verbo que comanda as nossas escolhas na Vida; os nossos desejos, os nossos objectivos.
A literatura índigo investe, como diria Paul Ricoeur, em metáforas vivas, em pontes com margens impossíveis de alcançar, apenas com a imaginação! A literatura índigo investe em lógicas absurdas mas certeiras para quem as sente; em celebrações proibidas pela lei da culpa e do pecado; isto porque é uma literatura que celebra o poder de acreditar; o poder do imaginário; o poder de sermos tudo quanto quisermos e que isso só depende dos nossos mais sentidos desejos!
Trata-se de uma literatura que recria e reconfigura um novo tipo de religião: a do sentir e não a do Dever. É uma literatura que faz acasalar os Fados com as Fadas, com as magias íntimas de cada um de nós. Nós que somos deuses de trazer por casa! É uma literatura que avança com uma ética questionadora da moral vigente; uma ética dinâmica e viva!
A literatura índigo é magnética; é como um íman que atrai a si própria os desejos mais íntimos de cada um! É uma escrita intencionalmente energética, com o entusiasmo da criança que age sem medo e adora sem tabus o que quer alcançar. Entusiasmante e revolucionária, esta literatura cultiva a imagem do Belo. É um despertador para as almas mais adormecidas e para as consciências menos iluminadas.
Todavia, para a entender no seu âmago, torna-se necessário toda uma interpretação simbólica em profundidade; é necessário estar disponível para receber ideias novas; é preciso sentir com a luz do coração, sem as reservas da mente.
A literatura índigo existe desde sempre, plasma-se nos mais belos contos de fadas, atravessa a Alice no país das maravilhas e voa mais alto com Peter Pan; ela é uma espécie de bússola para um horizonte em permanente construção. Percebe-se com este tipo de literatura que somos absolutamente responsáveis pelo nosso destino e que somos nós que podemos ou não fazer coincidir destino com liberdade, tal como Agostinho da Silva referiu milhares de vezes nas suas conversas vadias de aura índigo.
Tudo é possível, só depende da nossa imaginação, das imagens que cultivamos: onde nos levam as nossas imagens? E as imagens de um narrador índigo?
Camões levou-nos à ilha dos Amores. Pessoa até ao Guardador de Rebanhos. Sophia até outros mares e florestas outras. Saramago até outros Conventos e Escri(s)tos.
A literatura índigo leva a “ não lugares” chamados de Utopia; até ao desconhecido território de nós, a essa zona dubitativa, de penumbra, sol e sombra, Fada Má, Fada Boa, que temos medo de enfrentar e de sentir!