"Qualquer arquitetura é exibicionista. Exposições não são simplesmente locais para apresentação da arquitetura, são locais para a incubação de novas formas de arquitetura e novos meios de se pensar sobre arquitetura".
Beatriz Colomina
2016 é um ano de grande agitação e discussão para a disciplina da arquitetura, marcado por grandes exposições internacionais: a Bienal de Veneza, a Bienal de Roterdão, a Trienal de Arquitetura de Oslo, a Trienal de Arquitetura de Lisboa, entre outros.
As exposições internacionais de arquitetura pretendem ser um fórum de arquitetura global para o discurso interno sobre a arquitetura contemporânea, bem como um fórum para testar a reação do público de design contemporâneo. São momentos chave onde os arquitetos de todo o mundo se reúnem para partilharem, contemplarem e discutirem o seu trabalho com todos (arquitetos, críticos, teóricos, etc.). Obviamente não se trata apenas de mostrar projeto, mas sim mostrar projeto num determinado contexto. Existe um processo de seleção que valida determinado projeto pelas suas características inovadores em diversas dimensões. Podem ser projetos construídos ou não, ideias, estudos, ou de cariz tecnológico, mas que de alguma maneira sejam marcantes para a arquitetura contemporânea. Projetos que mereçam ser mostrados, analisados, debatidos e discutidos com outros arquitetos.
Estas exposições consistem geralmente em vários espaços de exposições enormes e com conteúdos densos que muitas vezes favorecem propostas ousadas obrigando visitantes a apressarem-se para percorrerem as galerias densamente povoadas de ideias num curto espaço de tempo. Desta forma, as nuances acabam por se perder no meio de tanto volume de informação. Quando esta complexidade se mantém retida em pilhas de textos profundos ou exposições igualmente densas, esta transforma-se numa jogada curatorial egoísta, pois exige uma atenção intensa tal como uma criança mimada.
Com o arranque das exposições chegam as vernissages. Estas cerimónias são, na sua essência, um grande camarote para arquitetos-estrelas que percorrem as exposições mimando-se uns aos outros e olhando ocasionalmente para um ou outro pavilhão.
As representações neste tipo de exposições têm sido fundamentalmente momentos de consagração de carreiras e percursos de arquitetos já estabelecidos. Estes eventos proporcionam aos ateliers um momento de grande visibilidade fora de portas. Beatrice Galilee, anterior curadora da Trienal de Arquitetura de Lisboa já tinha abordado este tema em 2014 quando referiu que "o que as exposições de arquitetura fazem é celebrar arquitetos que são homens, velhos, brancos, ricos e com sucesso."
Gradualmente a essência destes eventos é distorcida. Tendemos a focar-nos cada vez menos em discutir temas relacionados com a arquitetura e mais em alimentar os egos individualistas.
“Na arquitetura faz falta menos ego e mais medo”
Denise Scott Brown no El País