A perceção que obtemos de um espaço resulta da definição concreta dos seus limites físicos, sejam estes materializados em tetos, paredes ou pavimentos. A presença ou ausência de cada um destes planos determina a leitura e vivência que experienciamos em qualquer espaço ao longo da nossa vida.
Por vezes, a utilização de um subtil artifício na construção de um destes limites físicos introduz uma dimensão inesperada e enigmática ao espaço: falo do espelho.
A sua presença torna-se mais intensa quanto maior for a sua superfície e a relação que estabelece para com o indivíduo que o observa, ou seja, a sua posição no espaço. Trata-se de uma perceção reservada ao sentido da visão, apesar de nos provocar continuamente uma falsa sensação espacial de amplitude física.
De um certo modo, o espelho apresenta características similares a uma janela transparente e fixa: não permite a passagem física entre dois espaços que se comunicam visualmente, enquanto revela um outro ponto de vista sobre a realidade concreta que nos envolve.
O espelho capta luz e movimento em reflexo: a extensão refletida de tudo e de cada um assume particular papel na experiência sensorial que fazemos de um determinado espaço.
Através do nosso corpo conseguimos estabelecer uma relação física e concreta com o conceito de tempo: a nossa idade faz-nos sentir a sua passagem, revelando as alterações físicas naturais que vamos sucessivamente acumulando ao longo da nossa vida. Podemos dizer que todas as coisas que nos rodeiam registam tempo, desde a sua criação até à sua destruição. Em arquitetura, o estado extremo de marcação temporal exibe-se através das ruínas: todas aquelas que por erosão ou ação humana, sobrevivem à passagem do tempo. Enquanto o corpo humano se encontra limitado biologicamente a uma estimativa de vida limitada no tempo, a arquitetura permite através da sua materialidade, obter uma significativa longevidade, quase comparável às paisagens naturais mais resistentes à passagem do tempo.
Reabilitar, restaurar, recuperar encarnam as ações que transformam o antigo em algo ininterruptamente atual, uma vez que perdura ao longo de gerações para seu usufruto. Edifícios e cidades revelam as linhas físicas do tempo, entre paredes e pavimentos, coberturas até ao mais discreto e insignificante elemento de uma qualquer construção. A sobreposição de diferentes materiais e técnicas de construção testemunham a regeneração de antigos edifícios, por vezes devolutos, o passaporte para uma nova vida. No fundo, o tempo somos nós: no uso e investimento que fazemos deste durante a nossa vida. As cidades revelam os seus habitantes em cada canto do seu território. O tempo exibe a motivação que quotidianamente a alimenta. A arquitetura feita por arquitetos e habitantes marca o tempo de uma determinada civilização, materializando as suas necessidades, vontades e possibilidades.