A Document tem o prazer de apresentar Dirty dishes, body problems, and other conundrums (Louça suja, problemas do corpo e outros dilemas), a quarta exposição individual de Laura Letinsky na galeria e a primeira em Portugal.

Ao longo de mais de 30 anos, a obra de Laura Letinsky tem consistido na investigação sistemática daquilo que define uma fotografia. Em Dirty dishes, body problems, and other conundrums, Letinsky emprega e combina processos antigos e modernos para criar imagens que desafiam e iludem a noções predefinidas de temporalidade. A exposição apresenta duas séries distintas, produzidas com técnicas que se situam em extremos opostos da impressão fotográfica em metal: a ferrotipia, um dos primeiros processos fotográficos, e impressões por sublimação de tinta em alumínio.

A mais recente série de trabalhos da artista, That what can’t be (Aquilo Que Não Pode Ser) apresenta instantâneos tirados com o seu telemóvel e impressos como ferrótipos, conferindo uma qualidade reflexiva e prateada às imagens. Os temas destas placas em tons de cinzento vão desde composições abstratas e naturezas-mortas a representações íntimas de partes do corpo em planos apertados. Letinsky volta o seu olhar para dentro, captando pernas, braços e costas sobrepostas e nuas. Centrando-se no seu próprio corpo, a artista esbate as fronteiras entre a autoperceção e a representação fotográfica.

Estas imagens íntimas, impressas numa superfície espelhada, evocam uma sensação de intemporalidade e de introspeção. Letinsky explica: «Tenho vindo a misturar estratégias e tecnologias pictóricas, desde a perspetiva à abstração, e também a experimentar diferentes tecnologias contemporâneas, desde o topo de gama digital aos métodos de impressão anacrónicos que utilizam o sol, como a cianotipia, o processo platina/paládio e a ferrotipia, com o intuito de alterar as associações temporais e de boicotar as noções de progresso linear e implacável.» O resultado é um conjunto de obras que desafia as expectativas convencionais tanto do suporte quanto do tempo.

Durante a sua residência, em 2023, na Dora Maar House, em Ménerbes, França, Letinsky deu início a Who Loves the Sun (Que Adora o Sol), uma série fotográfica que explora a interação da luz natural com a luz artificial, inspirada na ambiência luminosa e soalheira da Provença. Nestas imagens, Letinsky incorporou objetos emprestados, incluindo peças de cerâmica e de vidro da casa da falecida Dora Maar, juntamente com a flora local, frutos e fragmentos encontrados, deixados por anteriores artistas residentes. As imagens transcendem a mera representação de objetos, centrando-se antes no estudo aprofundado do próprio suporte fotográfico.

As impressões de sublimação de cor de Who loves the sun são banhadas pela luz natural, fazendo com que as suas cores vivas e as superfícies luminosas explorem ainda mais o fascínio de Letinsky pelo modo como a luz interage com os objetos. As superfícies reflexivas de alumínio convidam os espetadores a interagir com a fotografia enquanto imagem e objeto. Tal como nas suas obras anteriores, as naturezas-mortas cuidadosamente construídas de Letinsky evocam a passagem do tempo, com sugestões de decadência e mudança incorporadas na beleza das composições.

A prática de Letinsky continua profundamente enraizada no seu estudo da fotografia enquanto suporte que estabelece uma ligação entre a perceção e a realidade, a ficção e a documentação. O seu uso continuado de natureza-morta sobre a mesa — um género associado às emulsões lentas dos primórdios da fotografia — serve como ponto de referência para as origens da fotografia, desafiando, simultaneamente, os limites daquilo que o suporte é, atualmente, capaz de alcançar.

Laura Letinsky (nascida em 1962 em Winnipeg, no Canadá) vive e trabalha em Chicago, IL. Obteve o seu Bacharelato em Belas Artes na Universidade de Manitoba, em 1986, e o Mestrado em Belas Artes na Escola de Arte da Universidade de Yale, em 1991. A sua obra foi exposta em instituições de renome como o Museu de Arte Moderna, Nova Iorque; o Museu J. Paul Getty, Los Angeles; o Museu de Arte Moderna de São Francisco; o Museu de Arte Contemporânea, Chicago; o Museu de Arte de Denver; a galeria The Photographers Gallery, em Londres; e o Festival Mumbai Photography, na Índia. As coleções públicas que apresentam o trabalho de Letinsky incluem o Art Institute de Chicago; o Museu de Arte Contemporânea, Chicago; o Museu de Belas Artes, Houston; o Museu de Arte Moderna de São Francisco; a Galeria de Arte da Universidade de Yale; e o Museu Canadiano de Fotografia Contemporânea.

Letinsky recebeu vários prémios incluindo o Canada Council International Residency (2014), o prémio Richard Driehaus Foundation (2003), o prémio Anonymous Was a Woman (2002), e o prémio Guggenheim Fellowship (2000). As suas publicações incluem To want for nothing (Querer para nada), Roman Nvmerals, 2019; Time’s assignation (A designação do tempo), Radius Books, 2018; Ill form and void full (III forma e vazio completo), Radius Press, 2014; After all (Afinal), Damiani, 2010; Hardly more than ever (Dificilmente mais do que nunca), Renaissance Society, 2004; e Venus inferred (Vénus Deduzida), University of Chicago Press, 2000. Letinsky é professora universitária desde 1994 no Departamento de Arte Visual da Universidade de Chicago.