A canção "Come as you are" toca na rádio em 8 de abril de 1994, anunciando que o vocalista da banda Nirvana tinha se matado. Em solo africano, Nelson Mandela, após 27 anos de prisão, era eleito o primeiro presidente em eleições multirraciais, pondo fim a 46 anos de apartheid na África do Sul. O Brasil adotou o Plano Real, a moeda implementada pelo então presidente Itamar Franco, mas quem levou a fama foi Fernando Henrique Cardoso, eleito Presidente da República naquele mesmo ano. Em maio, a nação brasileira se despede de um dos maiores ídolos do automobilismo mundial, "Ayrton Senna do Brasil", de um jeito que ainda dói quando se lembra. E em junho, ganhamos uma Copa do Mundo emocionante, com nosso bordão favorito: É tetra! É tetra!
E não para por aí. Em setembro de 1994, "Friends" estreia na NBC, ditando moda que dura até os tempos atuais, quase 30 anos depois. E no Brasil, a TV Cultura lançava "Castelo Rá-Ti-Bum". Em dezembro, a Sony lança no Japão o Playstation, esse mesmo que você jogou tantas vezes. Em dezembro, também nos despedimos de Tom Jobim. No cinema, estreavam "O Rei Leão" e "Pulp Fiction". E você pode ouvir as músicas mais tocadas em 1994 e não se admire de encontrar alguma que você ama, pois ela nasceu com você.
O que ninguém conta sobre fazer 30 anos
Menos de 15 dias de completar mais uma volta ao sol, tenho refletido muito sobre o que me trouxe até aqui. Particularmente, das frases que “adotamos” em nossas vidas, uma me marcou demais: “Existem dois dias importantes, o dia que você nasce, e o dia que você descobre o porquê”. A primeira coisa que posso alertar é que realmente passa muito rápido. É ridículo como pedimos para crescer quando crianças, e é mais ridículo ainda que, depois dos 18 anos, sua vida voa. Você com certeza já se pegou respondendo uma idade que não tem mais. Culpe o Covid-19, que afetou nossa memória. Sim, vivemos uma pandemia de 2020 a 2022, que levou milhares de pessoas no mundo, muitos que completariam apenas 30 anos em 2024. Se esse momento histórico e trágico não te fez refletir, bom, espero que esse texto ajude.
Você precisa se exercitar
A vida que você vai levar dos 30 aos 40 depende 100% da vida que você levou dos seus 15 aos 30. E assim por diante. Eu fiz muitas coisas dos meus 15 aos 29. Me formei no ensino médio, tive meu primeiro namorado, fui para a faculdade, passei a morar sozinha, tive outro namorado. Quebrei a cara, me formei, fui para meu intercâmbio, conheci 15 países, encontrei o amor da minha vida, voltei para casa. Sabe o que eu não fiz nesse tempo? Isso mesmo. E não tenho orgulho de dizer isso. É muito importante refletir que, quanto antes você encontrar o que gosta para praticar exercícios, melhor para você. Por isso, declarei guerra a mim mesma aos 29 anos e tenho enfrentado essa batalha diariamente. E é um horror sem fim, mas veja, me ajudou na ansiedade.
Próximo capítulo: Ansiedade, terapia, medos e traumas (para pessoas antes dos anos 2000)
Pare para refletir que, se você teve muita sorte (não generalizando), passou por uma adolescência e juventude em que não reconhecia esses problemas. Eu mesma, quando fiz essa retrospectiva de vida pela primeira vez, tive minha primeira crise de ansiedade no dia da apresentação do meu TCC, aos 21 anos. Às vezes me pego pensando se a ausência das redes sociais foi a nossa grande salvação. Mas claro, só identifiquei isso depois, bem depois. É impressionante que com o passar do tempo a gente fica mais corajoso e mais medroso na mesma medida.
Você vai enfrentar batalhas psicológicas, morais que ninguém te informa sobre. E você vai sair disso curado, acredite, mas capenga. Por isso, se você for um jovem leitor: terapia, exercício e autocuidado o quanto antes! E lembre-se, é cringe a gente dizer que os jovens de hoje sofrem demais. Ah, millennials... saiba que nenhuma geração viveu essa transformação do analógico para o digital de uma maneira tão compreensiva como a nossa, assistindo de camarote tudo que acontecia e tentando se encaixar feito um louco nesses padrões.
O discurso "forma na faculdade que dá certo" é um dos grandes responsáveis pelos traumas e terapias de hoje. Não se culpe, como dizia Renato Russo: "São crianças como você e o que você vai ser quando você crescer." Perto de trintar, essa frase faz tanto sentido que assusta, eu me pego pensando no que ele estava pensando quando escreveu isso. (E olha que ele escreveu isso em outubro de 1989). Um velho amigo diz uma frase que passei a amar: "Jovens demais para adquirir os bens que nossos pais conseguiram na nossa idade, velhos demais para se tornar tiktokers." Você também se sente assim? (PS: sou capricorniana, na verdade, minha alma tem 60 anos).
Maldito skincare
É muito sério o rolê do protetor solar. Sim, o Pedro Bial não mentiu. E não é para descobrir isso aos 25, é para começar aos 20. Isso mesmo, no auge da irresponsabilidade da sua vida. Seja livre para tudo, mas tenha a pontualidade que sua pele exige. Ainda mais quando estamos presenciando esse aquecimento global intenso, que nós mesmos causamos. Nesse fator do skincare, as gerações mais novas ganham de lavada. Basta rolar seu feed, que você verá várias dicas, produtos e tudo o que você precisa para começar a cuidar desse rostinho. Por isso também me pego pensando: será que as redes sociais os salvaram? E lembre-se, o pescoço, o colo e as mãos também estão nesse combo.
Mulheres: atenção ao seu sagrado feminino
Somos uma geração de mulheres que não estamos sendo mães antes dos 30 (E foi uma luta para chegar até aqui, hein?). Mas isso não é sobre se você quer ser mãe ou não, é sobre o seu sagrado feminino, o seu útero e a sua saúde. Ninguém fala, mas estamos tomando anticoncepcionais por quase 10, 15 anos. Nos ensinam a odiar a menstruação, a ter vergonha desse momento, a gente não compreende, apenas aceita e em palavras muito duras: "Cuidado, agora você pode engravidar." O que configura esse medo absoluto na maioria das meninas é o que nos leva a tomar remédios ruins, não entender sobre outros métodos, emendar cartelas, enfiar hormônios e hormônios nos nossos corpos, a não conhecer a medicina natural e ter vergonha de discutir com as amigas/família e até com médicos sobre isso.
Saiba que o ato de menstruar é uma limpeza e purificação, e deve ser respeitado. Somos cíclicas e entender isso fará muita diferença, principalmente dos seus 20 aos 30. Hoje, temos acesso a muitos conteúdos em todos os formatos e você não está sozinha. Porque na maioria das vezes, quando chegamos nos nossos 30 aos 40 anos e queremos ou não ser mães, já pode ser tarde demais tanto para ter filhos ou já apresentando sinais de propensão a doenças, porque não demos atenção devida a esse órgão poderoso e iluminado que suga tudo que você sente. Se ame e se cuide, faça exames regulares todos os anos dentro do possível.
Você começa a assumir o lugar de mãe ou pai dos seus responsáveis
Isso é assustador. Claro, cada um tem sua realidade e pode ser que você, lendo esse texto, não tenha mais seus entes queridos. Mas ninguém te prepara para essa inversão de papéis que acontece com tanta sutileza, como se a natureza esfregasse em seu rosto o poder do ciclo. Não adianta, quanto mais o tempo passa e você se olha no espelho, mais semelhante você está com a sua genética. Seus trejeitos, seu cabelo, seu corpo, sua barba, até o jeito que você dorme. E pode olhar aí, não é apenas pai e mãe, é toda a sua geração. Até porque é isso que somos, um óvulo e um espermatozoide que carrega o DNA de gerações e gerações que já habitaram antes de você. Compreender os seus ancestrais, respeitar e quebrar padrões não é fácil. Mas já te aviso: essa hora chega. E por muitas vezes, isso que você segue buscando e que nada preenche, é na sua ancestralidade que você vai encontrar.
Aos amigos, poucos e bons
Ao alcançar a terceira década, somos confrontados com as verdades nuas e cruas da vida. Os amigos mudam e você também. A pressão social de ter alcançado certos marcos, como carreira sólida e relacionamentos estáveis, torna-se palpável e a gente, sem perceber, vai deixando e adotando novos amigos pelo caminho. A jornada, contudo, é única para cada um. Se você ainda tem aquela amizade que, por erros e acertos, conquistas e desilusões, está ali com você, sinta-se eternamente grato. Inclusive, pare de falar não para as saídas que você marca e desmarca.
Por último: tenha certeza dos seus inegociáveis
O bom e velho clichê: casa limpa, roupa lavada, pia sem louça, bons vinhos e bons amores, dormir na sua cama, comprar móveis da sua casa, pagar mais uma parcela, viajar quando der, descansar em um domingo à tarde, surtar, ver que era apenas um leve surto, se acalmar, repetir tudo de novo. Eu chego nessa idade com a certeza de que não sei de nada, mas que pelo menos eu sei o que eu não quero e o que eu não aceito de jeito maneira. Só de saber isso, já me sinto vitoriosa. Por isso: quais são os seus inegociáveis hoje? Assim, você se desgasta menos porque a cabeça da gente e o nosso autoconhecimento são os relacionamentos mais longos que você vai ter nessa vida.
Também chego à breve conclusão de que só o amor pode vencer, não dá para discutir mais com pessoas que não querem entender. Se seu argumento for bom, mas se o storytelling for agressivo, a vida perde o sentido. Jovens que queriam mudar o mundo, já estão satisfeitos de mudar a si mesmos, o silêncio começa a tomar um espaço e você começa a utilizá-lo ainda mais. Vá a shows, os artistas que você gosta também estão ficando velhos. Vai parecer que você tem 15 anos. Lembra do facebook? Se você ainda tiver essa conta, entra lá e veja quem você era e como mudou. Bom, depois de tudo isso, eu cansei.
Preciso de café. Obs: Perceba como o café entrou na sua vida. Esse foi o momento que ela começou a ficar complicada.