Existe um ditado português que diz que os olhos são as janelas da nossa alma. Em paralelo, podemos cada vez mais afirmar que a forma como nos vestimos é também um espelho da nossa personalidade. A verdade é que do visual e aspeto das pessoas retiramos mais informação do que admitimos, daí também resultam os estereótipos. Se nos sentarmos num café e observarmos a maneira de estar e vestir das pessoas que estão à nossa volta conseguimos retirar certas características das mesmas e até mesmo sentir algumas emoções ainda sem as conhecermos, emboras estas possam mais tarde ser erradas. A realidade é que existem as primeiras impressões.
O vestuário, nos dias de hoje, já não tem a função meramente prática de nos cobrir e proteger dos fatores externos. A moda cresceu tanto aos olhos da sociedade, que hoje é descrita como uma forma de arte e uma forma de comunicação. Deixou de ser algo fútil ou puramente ligado à estética. Moda é autoexpressão.
As roupas que optamos por usar de manhã, mesmo podendo ser por vezes fruto do inconsciente, dizem muito sobre a persona que queremos dar a conhecer naquele dia e como os outros nos vão percecionar. As nossas escolhas estilísticas – acessórios, sapatos, a forma como arranjamos o cabelo, etc – carregam conotações e comunicam com quem passa por nós, ainda antes de abrirmos a boca.
Segundo a psicologia, a primeira impressão referente à imagem mental que a outra pessoa cria de nós, demora cerca de 7 segundos após o primeiro contacto. Nesse curto espaço de tempo, o que é analisado é a nossa postura, gestos e visual. E desses três pontos é possível comunicar crenças, gostos, traços de personalidade e também o status.
A moda comunica o nosso estilo de vida e apresenta aos outros para quais ocasiões nos estamos a vestir. Daí definições como: roupa de festival, fatos para casamento, conjuntos de escritório. Ao ver alguém vestido com roupas mais largas e materiais macios e confortáveis como algodão, associamos a alguém relaxado, que procura conforto; por outro lado, se está uma mulher vestida com um fato coordenado, preto e um salto alto relacionamos logo com sendo uma mulher de negócios, com poder, segura de si.
Esta corelação entre roupa e hierarquia na vida, já provém de há muitos anos atrás. Desde a época da nobreza e do clero, a moda surge como um diferenciador de classes: a nobreza com as suas peles e perucas e o clero com a toga. Segundo Chevalier, “o próprio material de que é feita a camisa, em contato com o corpo, realça o seu simbolismo: cânhamo cru, a de camponês; linho, a das pessoas da sociedade; seda, a dos ricos; e a camisa bordada que se usa nas cerimônias etc. cada uma delas assinala um personagem”.
Mas a moda não é apenas uma forma de comunicar com os outros. A arte de vestir, desde a escolha da peça até à sua cor, pode influenciar o estado de espírito. É de sublinhar, contudo, que o bem-estar mental vai muito mais longe do que apenas a roupa que usamos.
Segundo a psicóloga Tracy Thomas no Huffington Post, a maneira de vestir “é uma das coisas mais importantes que uma pessoa pode fazer para melhorar a sua saúde mental, emocional e psicológica”. Por exemplo, o simples facto de combinar uns brincos de que gostamos com as típicas sweatpants, ou até mesmo colocar um bom perfume mesmo que seja para ficar em casa, a psicóloga Sheva Assar afirma que esse esforço na manutenção da aparência “aumenta a motivação para fazer mais coisas ao longo do dia e [faz] experienciar mais energia”.
Para além do tipo de roupa, outro elemento que mexe com o nosso humor é a cor. A isto dá-se o nome de Cromoterapia. De acordo com esta técnica, as cores desencadeiam sensações diferentes nas pessoas e consequentemente podem ser utilizadas para influenciar e melhorar o astral. Seja na roupa, na maquilhagem ou até no cabelo, as cores de tons mais quentes, como o vermelho ou amarelo, são mais estimulantes; ao contrário das cores de tons frios, como o azul e o roxo, que são mais tranquilizantes. As sensações associadas às cores, como o amarelo simbolizar otimismo e felicidade, irá reproduzir em nós os mesmos sentimentos quando utilizamos essa cor.
Embora a moda possa por vezes ser meramente ornamental, as evidências e a experiência tornam um facto inegável de que o que vestimos regularmente está ligado às nossas mentes. As roupas intensificam a nossa energia emocional e mental e isso também é percebido pelas pessoas com quem entramos em contato. O facto de haver primeiras impressões e estereótipos corrobora a ideia de que a moda, além de ser uma forma de produção e comunicação, é um fenômeno ideológico utilizado para manter, estabelecer e reproduzir posições de poder. É simultaneamente cultural no sentido de que é uma das formas pelas quais um grupo constrói e comunica a sua identidade.