A indústria da moda é uma das maiores e mais influentes do mundo, mas também uma das mais poluentes. A produção de artigos de moda envolve o uso extensivo de produtos químicos, muitos dos quais são tóxicos e têm impactos significativos na saúde humana e no meio ambiente. Este artigo explora a utilização de produtos tóxicos na produção de moda, com base em evidências científicas, e discute as consequências dessas práticas.
Um dos principais componentes tóxicos na produção de moda são os corantes têxteis. Estes são amplamente utilizados para dar cor aos tecidos e às roupas. No entanto, muitos corantes contêm substâncias químicas perigosas que podem ser prejudiciais tanto para os trabalhadores das fábricas quanto para os consumidores finais.
Corantes Azóicos são amplamente utilizados na indústria têxtil, especialmente em países em desenvolvimento, devido ao seu baixo custo e variedade de cores. No entanto, estudos científicos demonstram que muitos corantes azóicos podem decompor-se em aminas aromáticas, que são substâncias cancerígenas. A exposição prolongada a estas substâncias tem sido associada a um risco aumentado de cancro, especialmente em trabalhadores expostos regularmente a estes produtos químicos.
Consequentemente alguns destes corantes contêm metais pesados, como cádmio, mercúrio e chumbo, que são extremamente tóxicos. Estes metais podem ser absorvidos pela pele quando as roupas são usadas ou podem contaminar a água durante o processo de tingimento. A exposição a metais pesados está associada a uma variedade de problemas de saúde, incluindo danos neurológicos, doenças renais e distúrbios do desenvolvimento.
Além dos corantes, uma variedade de produtos químicos é utilizada no acabamento têxtil para conferir características específicas aos tecidos, como impermeabilização, resistência a manchas, à água ou ao fogo. Estes tratamentos, embora possam melhorar a funcionalidade dos tecidos, muitas vezes envolvem produtos químicos que são prejudiciais.
Utilizados para tornar os tecidos impermeáveis e resistentes a manchas, os PFCs são altamente persistentes no ambiente e podem acumular-se no organismo humano. Estudos mostram que a exposição prolongada a PFCs pode causar problemas de saúde, como disfunção hormonal, redução da fertilidade e aumento do risco de certos tipos de cancro.
Comumente utilizado para tornar os tecidos à prova de rugas e de encolhimento, o formaldeído é um conhecido agente cancerígeno. A exposição a este produto químico pode causar irritação nos olhos, nariz e garganta, além de estar associado a um risco aumentado de cancro nas vias respiratórias.
A produção de algodão, uma das matérias-primas mais utilizadas na moda, depende fortemente do uso de pesticidas e fertilizantes químicos. Muitos destes produtos são tóxicos e podem ter efeitos adversos na saúde humana e no ambiente.
Pesticidas como o organofosforado são amplamente utilizados na agricultura do algodão e são conhecidos por serem neurotóxicos. A exposição a organofosforados tem sido associada a problemas de saúde, como transtornos neurológicos, dificuldades respiratórias e, em casos graves, morte.
O uso intensivo de pesticidas na produção de algodão não só contamina o solo e a água, mas também afeta a biodiversidade, destruindo habitats naturais e polinizadores essenciais, como as abelhas.
Os ftalatos, um grupo de substâncias químicas utilizadas para tornar o plástico mais flexível, são frequentemente encontrados em acessórios de moda, como cintos, sapatos, malas e outros itens feitos de PVC (cloreto de polivinila). Estes produtos químicos podem ser liberados ao longo do tempo e têm sido associados a vários problemas de saúde.
Estudos demonstram que os ftalatos podem interferir com o sistema endócrino, causando desequilíbrios hormonais que podem levar a problemas de fertilidade, defeitos congénitos e outras condições graves de saúde.
O PVC é difícil de reciclar e, quando descartado, pode liberar ftalatos e outros produtos químicos perigosos no ambiente, contaminando o solo e a água.
Os trabalhadores das fábricas de vestuário estão entre os mais afetados pela exposição a produtos químicos tóxicos. Muitas vezes, eles trabalham em condições precárias, sem o equipamento de proteção adequado, o que aumenta o risco de doenças relacionadas à exposição química.
Cidades inteiras na India foram devastadas e seus trabalhadores gravemente impactados, causando doenças crônicas e envelhecimento precoce.
A exposição constante a produtos químicos como corantes, solventes e formaldeído pode levar ao desenvolvimento de doenças ocupacionais graves, incluindo doenças respiratórias, dermatites e cancro.
Em muitos países onde a produção de vestuário é terceirizada, as regulamentações de segurança e saúde ocupacional são fracas ou mal aplicadas, exacerbando os riscos para os trabalhadores.
Diante das evidências dos impactos negativos do uso de produtos tóxicos na moda, tem vindo a crescer movimentos em direção a práticas mais sustentáveis e seguras. A moda sustentável busca reduzir ou eliminar o uso de produtos químicos perigosos, promovendo materiais orgânicos, processos de tingimento naturais e tecnologias de produção mais limpas.
Programas como o ZDHC (Zero Discharge of Hazardous Chemicals) visam eliminar o uso de substâncias químicas perigosas na cadeia de abastecimento têxtil, incentivando as empresas a adotarem práticas mais seguras e responsáveis.
Certificações e transparência: certificações como o GOTS (Global Organic Textile Standard) garantem que os produtos têxteis são feitos com materiais orgânicos e sem o uso de produtos químicos tóxicos, promovendo uma maior transparência e responsabilidade na indústria.
A crescente conscientização sobre esses impactos está a impulsionar o movimento em direção a uma moda mais sustentável, que prioriza a segurança dos trabalhadores, a saúde dos consumidores e a proteção do meio ambiente. Contudo, para que essas mudanças sejam realmente efetivas, é necessário um esforço conjunto da indústria, dos consumidores e dos legisladores para promover práticas mais seguras e responsáveis em toda a cadeia de produção da moda.
É fundamental que cada um de nós façamos a nossa parte.