Muito falamos sobre o retorno de grandes tendências: bandas que retornam, programas de TV que ganham reboot, livros que voltam a figurar na lista dos mais vendidos e outros comportamentos que ciclicamente reaparecem como forma de consumo.
Em um recorte, esse fenômeno faz parte intrinsecamente da indústria da moda, que vive, logicamente, de boas invenções, mas também da volta de estilos que marcaram a indústria.
Quase tudo na moda é cíclico, mas algumas poucas manifestações dela são imutáveis.
Isso não significa que essas manifestações são traduzidas da mesma maneira em todos os anos, coleções e criações, mas que o peso delas, como peça ou comportamento fashion, guarda a mesma essência.
Uma dessas principais manifestações que se tornou eterna desde sua criação é o jeans.
A peça surgiu ainda no século XVIII e tem origem operária. O tecido, naquela época ainda pouco trabalhado e por isso bastante rígido, era usado por trabalhadores do campo e marinheiros, na região da França.
A resistência da peça chamou atenção de Levi Strauss, comerciante naturalizado americano, que junto de Jon Davis, alfaiate, não apenas levou o tecido para os Estados Unidos, como foi o grande responsável por atribuir a cor azul ao jeans.
Por influência do alfaiate, a dupla adicionou rebite em alguns pontos de costura da calça, a deixando ainda mais resistente ao trabalho braçal, o que fez a popularidade da peça aumentar em níveis exponenciais.
As calças feitas de jeans por Davis e Strauss passaram então a ter um amplo apelo entre os mineradores na Corrida do Ouro da Califórnia, por sua resistência, praticidade, segurança e certo conforto.
Em 1890, a patente da criação, registrada em 1873 – sim, a calça jeans tem 150 anos – pela dupla criadora, acabou e outros empresários passaram a apostar na comercialização do produto.
Para manter o domínio da peça, Strauss e Jon adicionaram algumas outras características à calça que passou a se chamar 501.
Zíperes substituíram os botões, conferindo mais agilidade para fechar e abrir as peças; um arco duplo de costura laranja reforçou ainda mais as costuras e a famosa etiqueta “Levi’s” foi adicionada para que os consumidores pudessem reconhecer com facilidade qual era o modelo original.
Quando o jeans virou sinônimo de estilo
A primeira referência do Jeans como objeto de desejo e apelo estético veio dos filmes Hollywoodianos de faroeste. Cowboys, interpretados por galãs, foram a sensação da década de 1920 e 1930.
Usando jeans em seus duelos e aventuras, esses personagens impulsionaram a visibilidade do jeans como parte de um estilo.
Aos poucos, a peça também foi ganhando adesão entre as mulheres, a partir de campanhas publicitárias com celebridades.
Na década de 1930, a revista – e maior referência do segmento – Vogue declarou em uma de suas publicações que o jeans era western chic (faroeste chique).
Na metade do século XX, o jeans começou a ser associado aos bad boys. A imagem do jeans nessa época é perfeitamente traduzida por James Deen no filme Rebelde sem Causa, de 1955. Calça jeans, camiseta e uma boa jaqueta de couro. Esse era o pacote do jovem cool da época.
E como prova de que, de fato, podia transitar em todas as manifestações comportamentais como peça-chave, o jeans chegou nos anos 1960 e 1970 acompanhando os hippies e o movimento da contracultura.
Era quase um uniforme nos protestos contra a guerra do Vietnã que aconteceram nos Estados Unidos à época.
Nesse período, a peça passava constantemente por customizações: versões mais curtas, com a boca larga, tingidas e rasgadas.
Nas duas últimas décadas do século XX, o mercado de luxo e nomes como Calvin Klein e Versace apostaram sem medo no jeans, com as tradicionais calças, mas também com jaquetas, macacões e bermudas.
Não havia um dia sequer no Studio 54, lendária discoteca de Nova York, em que alguém não ostentasse um jeans.
A popularidade e ecleticidade da peça fizeram com que a Revista Time elegesse a calça jeans como o melhor item da moda do século XX.
Atualidade
Nos últimos 30 anos, época mais facilmente acessada pela nossa memória, o jeans continuou em destaque. Não só pelas tribos às quais pertencia, mas por suas novas características marcantes.
Na década de 1990 tivemos a cintura alta em uma modelagem mais folgada, que ganhava pelo conforto.
Em 2000 o jeans foi um sucesso, tivemos a calça skinny, que vinha acompanhada da cintura mais baixa já costurada; os jeans com aplicações metalizadas e o look all jeans, quem não lembra da Britney (e o namorado) no tapete vermelho do American Music Awards de 2001, ambos de jeans da cabeça aos pés?
Voltemos à calça dos anos 90
Por volta de 2010 ela recebeu o nome mom jeans como uma forma de trazer de volta o que se usava 20 anos antes.
Se você foi adolescente ou jovem adulto na segunda década dos anos 2000, com toda a certeza a sua mãe usou uma dessas antes de você nascer.
E ela volta com o mesmo apelo do conforto e de silhuetas mais equilibradas. Por conta dessas características, a peça ganhou bastante espaço em looks mais refinados.
Recentemente tivemos o boom das wide legs, modelos com a cintura alta mais justa e pernas mais folgadas.
E agora, dizem que a cintura baixa voltou, provando mais uma vez que a calça jeans é a peça de roupa favorita e que mesmo em uma modelagem duvidosa consegue ganhar e manter admiradores.
São 150 anos de história que garantem à peça um lugar vitalício no armário.