Mas depois que chegamos ao vácuo da caverna, lá onde terminava o vale onde havia cumprimido de medo o coração puro, olhamos para o Alto onde estava a Razão e vimos sua encosta vestida já dos raios do planeta, que reto nos conduz por todas as vias.
No alto do inefável e transcendental Reino da Luz, quando abrimos o primeiro Portal, vimos acender as quatro lanternas mágicas do viver: da Vontade Pura, da Razão Pura, do Coração Puro, da Ação Pura. Juntas, criaram um reino perfeito de manifestação, equilíbrio e poder criativo, consistindo a Trilogia de Cura, capaz de reunir consciências e éons, donde testemunhamos a vontade, sondar sua natureza perenemente inescrutável. A distância, vislumbramos uma luz magnífica, tremeluzindo com sublime graça, e já não podíamos mais distinguir entre o em cima e o embaixo. A luz sedutora, que na verdade estava abaixo, não era senão a real irradiação celeste penetrando do mais alto ponto dos céus.
Mas depois que chegamos ao vácuo da caverna, lá onde terminava o vale onde havia cumprimido de medo o coração puro, olhamos para o Alto onde estava a Razão e vimos sua encosta vestida já dos raios do planeta, que reto nos conduz por todas as vias. Então aquietou-se o medo que no lago do coração, havia durado toda a noite, e a Ação pura pode se manifestar. Assim com ânimo ainda fugidio, voltamos para contemplar de novo, o passo que pessoa alguma jamais deixará com a vida: O ofício de atuar. Fora do Universo celeste espiritual, vivenciamos toda sorte de tormentos psíquicos inimagináveis, porém dentro dele, testemunhamos as poderosas nuvens de tormentos tornarem-se Suporte e Esperança.
E como a Terra, generosa e calma transformamos as impurezas do coração em pura saúde e beleza. Como o Ar, fomos nos sentindo livres e dóceis. A espada que nos feria acabou perdendo o brilho e enferrujando. O braço que nos pesou um dia, ficou finalmente exausto e inerte. A Matéria foi geometrizada pelo Espírito. Ao redor dele, reunimos os sublimes e compassivos poderes da Plenitude, e cada um ofertou-lhe presentes e glórias de seus respectivos tesouros. Através dos milênios da história da terra, lamentamos sobre nosso destino e mundo imperfeitos, contudo, raios de luz entrelaçados nas nossas redes, continuavam a tecer matéria, emoção e pensamento, como armadilhas para (nós) Outros em essência, não criação deles, mas raios da própria natureza superior, infundidos em corpos de argila.
A busca da Verdade. A busca da Palavra. O som da flauta ao nosso redor e uma delicada luminosidade a teimar com as sombras. E Deus é a Dança e a Dança esse traço de união. Essa Presença Viva dentro e para além da Terra.
Depois de enfrentarmos as dificuldades impostas pelos sortilégios e ilusões, ascendemos triunfantes da terra, levando dores transmutadas em sabedoria criativa. Subimos jubilosos às mansões da Criação, atravessando os portais da geometria sagrada para regiões mais altas e sutis da existência. Em cada portal, entoamos canções de louvor e gratidão à Luz que nos salvara do caos das regiões inferiores. A busca da Verdade. A busca da Palavra. O som da flauta ao nosso redor e uma delicada luminosidade a teimar com as sombras. E Deus é a Dança e a Dança esse traço de união. Essa Presença Viva dentro e além da Terra. Chegamos às margens que separam os mundos inferiores do reino da luz, olhamos, mais uma vez, para baixo, para o mundo imperfeito e atormentado, suspenso no vácuo e no caos; nosso coração agora refeito, encheu-se de compaixão.
Como poderão nossos olhos, que são em si mesmos véu e faixa, conduzir-nos a algo que não sejam véus e faixas? E as palavras? Não são elas coisas seladas por letras e sílabas? Como poderão nossos lábios, que são em si mesmos selo, pronunciar algo que não sejam selos?
Cada coisa sobre a qual lançamos o olhar é um véu. Cada palavra que pronunciamos é um selo. As coisas , sejam quais forem suas formas e espécies, são somente véus e faixas com que a vida está envolvida e velada. Como poderão nossos olhos, que são em si mesmos véu e faixa, conduzir-nos a algo que não sejam véus e faixas? E as palavras? Não são elas coisas seladas por letras e sílabas? Como poderão nossos lábios, que são em si mesmos selo, pronunciar algo que não sejam selos? Do mundo material, velamos para que todas as manifestações da vida possam, um dia, alcançar os mundos superiores, o reino da luz, não importando quão longe vagueiam. Desconhecendo a Realidade e desígnios dos poderosos éons da Luz, vagueiam no mundo meramente girando na roda de nascimento, morte e renascimento, lutando para manter-se dentro dos movimentos cíclicos da vida biológica.
Do espaço imaterial onde nos encontrávamos, da natureza essencial da irradiação, mundo da alma e da mente superior, acima dos planetas e logo abaixo dos Portais de Cura da Trilogia, portais da própria Plenitude onipotente, estava o reino do auxílio celestial da humanidade, onde somos irradiados e plugados às incontáveis hostes de anjos de luz e almas santas e retas, que antes ocupavam corpos humanos. Ali, as almas humanas podem encontrar-se e unir-se às contrapartes espirituais, os Anjos Guardiões. A Arte e a Alma. Um farol e um refúgio para os que anseiam vencer a si mesmos. Dentro de cada ser, há a parte material que carrega os instintos e necessidades da vida, com vocação para a sobrevivência e a continuidade física através da descendência. Contudo, há também aquela outra parte que personifica a mente e a emoção, referida freqüentemente como alma (psyche).
Essa parte da natureza humana, embora seja a sede da consciência ética e da razão pura, é suscetível às influências dos sortilégios e ilusões em certa etapa do caminho. Na maioria dos seres humanos, porém, essa centelha espiritual arde lentamente, adormecida e inconsciente, aguardando o sopro dos Mensageiros da Luz, para ser avivada em ação efetiva e pura.
Para alcançar o reino da Luz, devemos, antes, renunciar ao nosso servilismo inconsequente à matéria, como à servidão ideológica. As idéias escravizam tanto quanto as paixões e, ambas, são obstáculos para o reino do Espírito. Esta unidade espiritual é uma elevação científica sobre o finito e vulgar, uma transfiguração da naturalidade e da espiritualidade, na qual o que há de extrínseco e de transitório na natureza imediata, como no espírito empírico e terreno é absorvido, surgindo então a grande renúncia, quando rompemos as algemas fixadas em nossos corpos e mentes. Assim, há apenas um grande passo a ser dado: a união transformadora do humano inferior com a presença protetora do anjo guardião.
Dos cumes do mundo teatral e místico experienciamos em êxtase, jovens homens e mulheres erguerem os olhos para fitar os montes perpétuos do reino da luz. Cada anjo guardião estende sua asa cintilante e transporta para as alturas aquelas almas, onde a união espiritual é selada nas luzes celestiais alquímicas. Um por um. E (nós) os místicos morremos de amor. A vida e a morte. O Tudo e o Nada. Desabitar-se para habitar-se. Sair para não sair. Morrer para não morrer. Entre fluxo e refluxo, Criação e Cocriação. A unidade de cada alma com o Uno.
Em solene decisão escolhemos este local, exatamente nesta circunstância, para romper nossos selos e remover nossos véus. Estávamos maduros para aprender como remover os selos dos lábios e os véus dos olhos, na plenitude da glória que é vossa. Sigamos, sobretudo, doando suporte aos que pobres de espírito não conhecem nem vitória nem derrota. A Arte é o Suporte. Agradeço a oportunidade de atravessar este Portal que transmuta, dores e dissabores em Arte e Suporte para a jornada que é viver. Mais que uma Honra, uma Missão, poder em Escuta Profunda e Presença, testemunhar e viver, do processo Teatro Ritual. Abrir Portais de Cura do nosso Ser . Portais de Luz para a Alma. Uma dádiva que tenhamos a Arte como ferramenta de Transmutação, Suporte e Ascensão.