Crônicas urgentes reúne trabalhos de três pintores cariocas – Marcela Cantuária, Maxwell Alexandre e Victor Mattina –, que têm em comum a escolha da narrativa como eixo central de suas obras. A urgência, presente no título, desvela uma relação paradoxal na composição dessas pinturas: em uma era de saturação e produção constante de imagens, seus traços eternizam na tela enredos atrelados ao calor do momento. Em conjunto, deixam emergir histórias e personagens antes marginalizados ou de presença pouco frequente na esfera da arte contemporânea, em um momento político de urgente rearticulação de vozes e narrativas.
Marcela Cantuária (Rio de Janeiro, 1991) apropria-se de imagens de backgrounds diversos – registros pessoais, fotografias de cunho político, frames de documentários – para tecer estórias que encadeiam e imaginam figuras femininas. São mulheres poderosas e empoderadas, que transitam desde episódios históricos como a 1ª Guerra Mundial, na pintura Tudo que é sólido desmancha no ar, até os cenários intimistas da série Noite Vermelha, realizada a partir de fotografias da Vila Mimosa. Famosa área de prostituição feminina no Rio de Janeiro desde a década de 1920, a região nasce justamente a partir do encontro entre mulheres brasileiras e as polacas, mulheres do Leste Europeu que desembarcaram na capital carioca sem seus maridos, em fuga da 1ª Guerra. Formada em Pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ, já participou de exposições coletivas como Que safra é essa?, Centro de Artes Calouste Gulbenkian (Rio de Janeiro, 2014); e Junho de 2013 – cinco anos depois, Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 2018). Em 2018, realizou a individual Castelos no Ar na Galeria Alfinete (Brasília); e em 2019, participará da coletiva Pintura Contemporânea Brasileira no Instituto de América em Granada (Espanha).
Maxwell Alexandre (Rio de Janeiro, 1990) realiza crônicas pictóricas a partir de sua vivência cotidiana no Rio de Janeiro e na favela da Rocinha, onde nasceu e trabalha. Seu vocabulário visual vibrante dá contorno a cenas e personagens usualmente invisibilizados, em uma época de disputa de discursos e revisões historiográficas. Além de sua produção em pintura, o artista exibe, na antessala do espaço expositivo, um trabalho composto por treze edições de um jornal popular carioca abertas na página do anúncio de uma loja de pneus. Maxwell, responsável pelo design destes anúncios entre os meses de março e abril deste ano, realiza uma interferência midiática ao alterar a cor da pele do mascote do anúncio, gradualmente, de branca para negra. Formado em Design pela PUC-RJ, o artista despontou no circuito após sua participação no projeto Carpintaria Para Todos (2017), convocatória aberta proposta pela Carpintaria, espaço multidisciplinar da Fortes D’Aloia & Gabriel no Rio de Janeiro. Desde então, realizou individual na galeria A Gentil Carioca (Rio de Janeiro), intitulada O Batismo de Maxwell Alexandre, em 2018; e está incluído na coletiva Histórias Afro-Atlânticas, atualmente em cartaz no MASP (São Paulo). Sua obra integra os acervos da Pinacoteca de São Paulo, do MAR e do MASP.
Victor Mattina (Rio de Janeiro, 1985) aborda a pintura de maneira análoga à de um ficcionista. O artista utiliza como ponto de partida imagens apanhadas da internet, de softwares, livros e revistas antigas. Com este conjunto, forma uma espécie de atlas imagético de personagens de origens diversas, de contextos que vão do S&M até a etnografia. Suas pinturas recentes investigam relações entre autoridade e alteridade, parafilias e rituais, jogando luz sobre personagens que transitam entre o desvio e o dissenso. Formado em Design pela ESPM-RJ, já realizou individuais na Fundação Joaquim Nabuco (Recife, 2017) e no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2017). Destaca-se ainda sua participação no programa Bolsa Pampulha do MAP (Belo Horizonte, 2017) e em coletivas como A luz que vela o corpo é a mesma que revela a tela na Caixa Cultural (Rio de Janeiro, 2017) e Mais Pintura no EAV Parque Lage (Rio de Janeiro, 2014).