Em sua nova exposição no Galpão, Rodrigo Cass relaciona seu interesse por filosofia e história da arte à sua própria espiritualidade. O vídeo e as pinturas que integram a mostra mantém uma qualidade escultórica onde o concreto é a síntese do seu pensamento artístico: um elemento espiritual, vivente, e que respira. Para o artista, a respiração está no fundo de toda experiência. “Tudo o que vive respira. E o respirar é ação do espírito.”
Sua obra busca promover, portanto, momentos de pausa e silêncio através de áreas vazias, explicitadas pelo uso da cor. Assim acontece na série que dá nome à exposição e que se divide entre trípticos, polípticos e trabalhos individuais. São pinturas dupla-face feitas com concreto, têmpera e linho que parecem flutuar no espaço, penduradas nas paredes por apenas um de seus lados. A solução formal as aproxima dos Objetos Ativos de Willys de Castro, mas também dá a montagem um movimento cadenciado, em que os planos desdobram-se em diferentes ângulos como uma criatura viva.
A superfície monocromática das pinturas é interrompida por vários traços de concreto branco, meticulosamente aplicados para criar margens e intervalos. São fragmentos de uma totalidade já destituída, mas que continua a revelar-se. Para Cass, cada risco é também o registro de uma escolha e condensa suas orações, vivências e experimentações no ateliê.
O video Anatomia da Revolução, de maneira análoga, apresenta uma série de ações independentes que intercalam-se para criar um corpo único. Em um desses trechos, uma superfície negra é tingida de branco à medida que o artista derrama leite sobre um cabide. Outra cena consiste na interrupção do funcionamento do relógio usando prego e martelo. Todas as sete cenas que compõem o trabalho incorporam elementos da performance e dão aos objetos forte carga simbólica.
Rodrigo Cass nasceu em São Paulo, em 1983, onde vive e trabalha. Suas exposições individuais incluem: Até o Concreto, Galpão Fortes Vilaça (São Paulo, 2016); Espaço Liberto, Galerie MDM (Paris, 2015); 5#5: Rodrigo Cass, Meyer Riegger (Carlsrue, Alemanha, 2015), Material Manifesto, Galpão Fortes Vilaça (São Paulo, 2014); Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo (São Paulo, 2013). Entre suas coletivas, destaque para: Building Material: Process and Form in Brazilian Art, Hauser & Wirth (Los Angeles, 2017); 10ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2015); Imagine Brazil – mostra itinerante que passou por Astrup Fearnley Museet (Oslo, 2013), Musée d’art contemporain de Lyon (Lyon, 2014), Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2015); e DHC/ART (Montreal, 2015) –; Bolsa Pampulha, Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte, 2011).