A Galeria Nara Roesler tem o prazer de apresentar a exposição “O Ouro e o Mouro”, de Marco Maggi, com desenhos produzidos em 2017, além do vídeo Global Myopia, de 2015, que mostra a obra homônima exibida na 56ª Bienal de Veneza em 2015. “O Ouro e o Mouro” traz obras repletas da poética de Maggi, propondo um reajuste da percepção temporal e uma reflexão sobre o fluxo intenso de estímulos visuais na sociedade contemporânea.
Em espanhol, "El oro y el moro" é a maior promessa possível, a qual o artista descreve como o ato de prometer “tudo isto e o céu também”. Maggi explica: “Promessas são um duplo vácuo, porque nunca serão uma presença presente... são sempre uma ausência futura. Nos cafés, tudo o que compartilhamos são conexões de Wi-Fi cada vez mais velozes. Somos fascinados pela velocidade e por conversas de longa distância. A arte visual é o oposto; um desenho é sempre o aqui e o agora, uma presença presente”.
Maggi propõe novos protocolos para o olhar, por meio de um ato subversivo tripartido constituído de lentidão, delicadeza e otimismo. Em Global Myopia, 2015, o artista nos convida à “imaginar um vírus contagioso com dois sintomas de miopia: olhar mais de perto e olhar mais devagar.” Global Myopia tece uma crítica sutil à ironia da vida contemporânea. No vídeo, vemos o público observar fixamente e com extrema atenção a obra de Maggi, exibida na 56ª Bienal de Veneza, a qual de uma certa distância, como é mostrada no vídeo, pode ser confundidas com paredes planas. O ato da observação atenta unifica o corpo da obra de Maggi, propondo uma dimensão alternativa sutil que é ao mesmo tempo pequena e vasta. Adriano Pedrosa observa: “não é por acaso que as obras de Maggi são tão difíceis de reproduzir e registrar em fotos; é preciso vê-las ao vivo, olhar sua superfície, sua linha, o vazado, a sombra, o relevo, a transparência”.
Embora o excesso de estímulos visuais e a escassez de tempo impossibilitem um olhar mais atento, os trabalhos precisos e delicados de Maggi exigem uma observação meticulosa. Nos desenhos expostos, assim como em grande parte de sua obra, o artista utiliza diversas mídias para criar padrões intrincados, geométricos e arquitetônicos. Utilizando caligrafia, ferramentas, superfícies e escalas para manipular o tamanho de letras, paredes, pavilhões e museus, Maggi constantemente convoca o espectador à investigação e concentração através do olhar. Gold is the new white, de 2017, é um desenho dourado contendo 960 “pontos”; em White Mending, Planar, Density Packing e Discrete Geometry (todos de 2017), um alfabeto autoadesivo viaja por diversas superfícies e caligrafias; e Spelling “D-i-s-s-e-m-i-n-a-t-i-o-n, de 2017, é um simples desenho a lápis sobre papel. O artista escreve que “desenhar é uma atividade superficial: diálogo entre mão e superfície. É uma disciplina que permite que nos distanciemos da profundidade do pensamento para multiplicar nossa empatia pela insignificância. Desenhar é como escrever numa língua que não sei ler”.
Em 2015, o filósofo francês François Cusset afirmou, sobre o método do artista: "[t]raços lidam com o significado; eles qualificam o que merece ser inscrito: por outro lado, o insignificante não deixa rastros, o banal não tem memória, tudo desaparece com o instante de sua relevância. Marco Maggi vira essa ordem estabelecida de cabeça para baixo; esculpindo e cortando, ele transforma o insignificante em traço, o vácuo em arquivo, a sombra em alfabeto, o detalhe em cosmos e as mais ínfimas variações naquela famosa revolução que havíamos desistido de esperar”.