Em 1543, Nicolau Copérnico lançou o livro Da revolução das estrelas celestes, que marcou o fim do pensamento antropocêntrico e encorajou as gerações seguintes a darem continuidade a sua teoria. No começo do século XVII, Galileu comprova que a Terra é mais um corpo celeste e, o Sol, um eixo de seu sistema. A partir de então, cada vez mais a astronomia desconstrói a ideia do homem como centro do mundo e o criacionismo como origem do universo.
Compartilhando desses ideais, Azul da Estrela apresenta trabalhos de Amanda Mei, Augusto de Campos e Júlio Plaza, Bernardo Ramalho, Elena Damiani, Felippe Moraes, Guillermo Rodriguez, Marta Jourdan e Mayana Redin, cujas pesquisam se voltam para a natureza do universo, filosofia e/ou matemática como objeto de estudo e inspiração. É por meio do simples ato de observar aquilo que não está ao alcance do corpo que o pensamento se liberta para ir além.
Com um telescópio inventado pelo próprio, Galileu descobriu algumas similaridades entre a Terra, a Lua e o Sol, bem como, por exemplo, marcas, cavidades e elevações. A partir de então, com uma série de desenhos de observação do Sol, o astrônomo mapeou o movimento de rotação da Terra segundo o deslocamento das manchas solares; essas imagens podem ser vistas no vídeo Sunpost de Guillermo Rodriguez. Com esse experimento, aproximamo-nos da atual configuração que temos do Sistema Solar.
Quando de dia o Sol brilha, à noite a Lua reflete sua luz. É com essa energia em sua máxima potência que a vida terrestre é pautada ciclicamente. Ao mesmo tempo em que orbitamos o Sol, a Lua nos orbita, em uma dança rotante e alinhada. Movimento que se reluz através da palavra escrita na instalação “LUZ” de Bernardo Ramalho e no livro-objeto “Caixa Preta” de Augusto de Campos e Júlio Plaza. São formas de linguagem para elogiar o cosmos.
Mayana Redin recheia um pão com um livro de astronomia e Felipe Morais homenageia o filósofo e matemático Pitágoras com uma série de fotografias que indicam a construção de uma estrela. É com gestos coloquiais, como o de amassar o pão e entrelaçar um barbante entre os dedos, que ambos constroem esculturas gestuais. Com a diferença que “Homenagem a Pitágoras” eterniza o gesto por meio de imagens grafadas por luz, enquanto “Pão” vive e morre conforme seu contato com o espaço.
Entendendo o ciclo infinito que há entre o ato de construção e destruição, Amanda Mei apresenta “Encontro Marcado”, uma série de pinturas de explosões que deixam em aberto se essas imagens referenciam a origem do mundo ou seu desmoronamento. Trata-se de uma conversa ambígua entre os estados da matéria, que também se faz presente na instalação “Circuito #2” de Marta Jourdan. Esses trabalhos tangenciam o equilíbrio das coisas e daquilo que as constituem enquanto criações humanas ou acontecimentos espontâneos da natureza.
Justapondo conceitos entre natureza e cultura,[1] Elena Damiani apresenta as fotografias “Lectures Series”, ampliações de imagens de minerais projetados em salas de palestra e impressas sobre livros usados. As pedras de Damiani, assim como as de Guillermo Rodriguez em “Constelação S. Teresa” e as de Amanda Mei em “Teoria da Evolução”, tornam-se objetos ao serem manipuladas pelo homem.
É com este aceno que Azul da Estrela conecta a Terra e o Universo a partir da dinâmica dos movimentos de transformação. Olhar para o cosmos e para o nosso planta mutuamente, alinhando natureza e cultura dentro de um mesmo sistema. Aqui, a estrela é azul.